Desculpas
No
livro de Constança Marcondes César, Filosofia na América Latina, São
Paulo, Paulinas, 1988, logo na Introdução, ela diz sucessivamente,
páginas 7 e 8:
1. “Não houve uma leitura direta das obras
filosóficas escritas nos períodos mencionados”.
2. “Escolhemos fazer um esboço grosseiro e
amplo”.
3. “Nosso estudo não é exaustivo; resulta do
breve tempo que tivemos”.
4. “A aproximação que tentamos é muito
modesta”.
Enfim, ela se
desculpa.
Podemos
reler as desculpas assim:
1.
A
visão não é direta, é secundária, comentário de comentários. Não é um estudo de
fontes, mas de interpretação das fontes, uma interpretação de segundo grau.
2.
Como
ela mesma declara, é um estudo grosseiro, abrutalhado, rude, de qualidade
inferior, malfeito. São as definições de dicionários.
3.
O
estudo não é exaustivo, é superficial, e, portanto, pode passar uma visão
incompleta, quando não incorreta das personagens abordadas.
4.
A
aproximação é modesta, acanhada, despretensiosa, envergonhada. Depois, ela diz,
“que tentamos”. É uma tentativa, não uma realização.
De certa
forma eu gosto dos americanos porque eles não toleram as desculpas. Não adianta
dizer que Godzila atravessou no caminho, os guardas desviaram o trânsito, foi
necessário fazer uma volta de 80 km. Não interessa, preveja e estabeleça prazos
mais longos, ou trabalhe mais, ou saia mais cedo.
Em que as
desculpas nos ajudam? Ficamos com a impressão de que é um livreto, um livrinho
roscofe, ordinário, que nada vai nos ensinar. Pior ainda, ficamos com o
sentimento de que o que lemos é incompleto ou diretamente falso. Um livro
pequeno não é necessariamente um livro sem significado, pelo contrário, pode
ser muito profundo.
Desculpas
são desperdícios.
Vitória,
segunda-feira, 11 de novembro de 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário