quarta-feira, 4 de janeiro de 2017


Desculpas

 

                            No livro de Constança Marcondes César, Filosofia na América Latina, São Paulo, Paulinas, 1988, logo na Introdução, ela diz sucessivamente, páginas 7 e 8:

1.        “Não houve uma leitura direta das obras filosóficas escritas nos períodos mencionados”.

2.       “Escolhemos fazer um esboço grosseiro e amplo”.

3.       “Nosso estudo não é exaustivo; resulta do breve tempo que tivemos”.

4.     “A aproximação que tentamos é muito modesta”.

                            Enfim, ela se desculpa.

Podemos reler as desculpas assim:

1.            A visão não é direta, é secundária, comentário de comentários. Não é um estudo de fontes, mas de interpretação das fontes, uma interpretação de segundo grau.

2.           Como ela mesma declara, é um estudo grosseiro, abrutalhado, rude, de qualidade inferior, malfeito. São as definições de dicionários.

3.           O estudo não é exaustivo, é superficial, e, portanto, pode passar uma visão incompleta, quando não incorreta das personagens abordadas.

4.           A aproximação é modesta, acanhada, despretensiosa, envergonhada. Depois, ela diz, “que tentamos”. É uma tentativa, não uma realização.

De certa forma eu gosto dos americanos porque eles não toleram as desculpas. Não adianta dizer que Godzila atravessou no caminho, os guardas desviaram o trânsito, foi necessário fazer uma volta de 80 km. Não interessa, preveja e estabeleça prazos mais longos, ou trabalhe mais, ou saia mais cedo.

Em que as desculpas nos ajudam? Ficamos com a impressão de que é um livreto, um livrinho roscofe, ordinário, que nada vai nos ensinar. Pior ainda, ficamos com o sentimento de que o que lemos é incompleto ou diretamente falso. Um livro pequeno não é necessariamente um livro sem significado, pelo contrário, pode ser muito profundo.

Desculpas são desperdícios.

Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

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