quarta-feira, 4 de janeiro de 2017


Con/ver/gente

 

                            Quando a ditadura militar brasileira começou a fazer as casas populares (que o povo denominava “casas de pombos”), fez instalar mais ou menos nos centros geométricos dos conjuntos grandes ou pequenos Centros Comunitários, que constavam de uma construção no meio de uma praça, arborizada ou não.

                            As construtoras, ganhando fortunas ao entregar casas pequenas e com material de segunda ou terceira por dinheiro de primeira, faziam qualquer coisa e praticamente “jogavam” em cima do povo, a título de integrador comunitário. Como visava lucro, como não provinha do amor, como não tinha objetivo, poucos iam, se iam, porque era “cada um por si e Deus por todos”, o velho ditado popular da guerra geral, respeitada, em certa medida, a família.

                            Obviamente nunca ou quase nunca funcionou a contento e muito menos com contentamento dos moradores, para não dizer que não só não integrava como não servia a nenhum tipo de progresso ou de desenvolvimento, os lemas positivistas da bandeira brasileira.

Perdemos dinheiro, tempo e nenhuma melhoria notável foi conseguida. As pessoas não convergiram e certamente não formaram qualquer comunidade. O resultado, naturalmente, foi que nunca houve uma verdadeira coletividade nos bairros das casas populares, os “bairros BNH” (Banco nacional da Habitação, já extinto). Os sociólogos de merda das empresas não obtiveram nenhum resultado organizativo naqueles bairros, que se tornaram com o tempo local de proliferação de uma série de problemas, agora crônicos, não sei se incuráveis. É nisso que dá (para o futuro grande agonia) entregar coisas importantes a idiotas que acham que construir a melhor alma humana é fácil.

Pelo contrário, devemos ver assim como grafei: CON/VER/GENTE. Em primeiro lugar é GENTE, não é bicho, e será gente tão alta quanto soubermos considerá-la, em todos os sentidos. Depois, é VER, é falar, é trocar experiências de vida, é construir, é melhorar, é tudo que está na expectativa das almas ou razões humanas. Em terceiro lugar, é CON, junto, não-separado, é comunhão, é integração dos pensamentos, dos sentimentos, dos prazeres de indivíduos, de famílias, de grupos e até de empresas. Que os bobocas não vejam como uma grande oportunidade nacional, estadual, municipal/urbana não é chocante para mim, mas é motivo de grande tristeza, porque dada a capacidade de contemplação à humanidade, vemos quão pouco uso a falta de consideração pelo próximo pode dar a ela.

Não apenas creio que ainda há tempo para reverter a situação como também que um grupo pode tirar disso grandes lições, pelo quê de suporte tal conjunto de construções, através de todos os espaçotempos, pode proporcionar aos governempresas, como sustentação do porvir e do desenvolvimento geral.

Se sabemos que a alma humana exige em sua construção as mais apuradas tecnociências e Conhecimento em geral e se somos capazes de arregimentar na coletividade aquelas pessoas com discernimento para valorizar ao máximo essa construção, podemos facilmente erigir esses novos centros convergentes, transformadores do país.

Vitória, sexta-feira, 08 de novembro de 2002.

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