segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


Colégio das Doações

 

                            Como já disse, os que pretenderem doar não devem fazê-lo sujeitando-se à claque dos enganos e das traições, dos aproveitadores, dos vermes que tomam o dinheiro dos outros. Devem fazê-lo interpondo investigações, o que pressupõe organização ou sociologia. Governos e empresas não devem institucionalizar as doações, isso seria tremendamente errado; mas podem perfeitamente, já que a coisa ocorrerá de um jeito ou de outro (2,5 % das pessoas, no mundo atual 150 milhões, desejarão impulsivamente doar qualquer coisa, e outros 47,5 % estarão propensos, com maior ou menor anseio), instituir regras, inclusive legais, para balizar essas doações.

                            Por exemplo, criando os CD, escolas mesmo, até universidades, em que o ato de doar, de dar, de ceder o que é seu por tal ou qual motivo, seja estudado e amparado.

                            Antes de tudo devemos ver que há dois modos de doar: 1) o ato da caridade, que é o “dar o que tem sem saber a quem”, que é sem propaganda, que é legítimo, que é escondido, que é simples e maravilhoso, que é autêntica renúncia, e 2) a solidariedade, que é suja, que é porca, que é publicidade, que é autocongratulação destinada ao inferno, como aquela que fazem esses artistas, estampando seus nomes na mídia e com isso recebendo seu detestável pagamento, que vem da sujeição alheia via agradecimento.

                            Esse segundo modo merece castigo, porisso não vou tratar dele, e sim da proteção dos verdadeiros doadores, que vão fazê-lo interpondo uma linha de desconhecimento entre doador e recebedor. A entidade doadora que os representar tratará de protegê-los da curiosidade alheia. Essa proteção diz respeito à correta aplicação dos recursos, impedindo-se e bloqueando-se a qualquer custo a penetração dos trambiqueiros. Não cuido dos outros, eles que se danem.

                            Para os puros, toda proteção. Os governempresas devem instituir instrumentos de cessão dos legados, colégios cuja pedagogia seja adequada aos impulsos daqueles 2,5 %, os quais não devem ser sujeitos a chacotas e deboches.

                            Vitória, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário