terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Burguesia Favorecida

 

                            As burguesias do mundo inteiro são favorecidas, dado que os governos são escritórios do Capital, como venho dizendo faz tempo. Mas, a do Brasil é demais, é extremamente favorecida. Creio que os acadêmicos deveriam retratar os favores dados por seus governos às de fora e depois contrastar os favores especiais da daqui: todas as coisas que no correr de 500 anos os burgueses daqui receberam de mãos beijadas dos governantes.

                            Claro, o mundo é capitalista - agora o primeiro mundo estando na terceira onda -, porisso só podemos mesmo esperar que tudo favoreça os dominantes. Esperar elegância deles seria demais.

                            Acontece que no Brasil é muito mais, muito mais, mesmo. Subsídios, tributos orientados (anistias, isenções, julgamentos favoráveis, imunidades, etc.), escritórios de apoio, favores subterrâneos que a gente nunca fica sabendo, impunidade empresarial e legal.

                            Ora, a evolução é solução de problemas; quanto mais difíceis de resolver mais o conjunto (pessoais: indivíduos, famílias, grupos e empresas; ambientais: municípios/cidades, estados, nações e mundo) se fortalece e suplanta os demais. Evidentemente quanto menos o predador esgota o campo-presa, mais fácil é para ele suplantar os demais, porque não precisa gastar uma parte da produção para recuperar seu lugar de criação. Mais as presas prosperam e ele também. No Brasil o capitalismo guloso, guloso demais, preda a presa exageradamente. Gasta os recursos além do cruelmente aconselhável, já que ele não tem decência.

                            Há o que denominei sobre-uso uterino (as mulheres precisavam e precisam ainda ter muito mais filhos, dado que tantos morrem precocemente) e de modo geral o sobre-uso de tudo, de recursos ambientais a pessoais. Em virtude disso o capitalismo brasileiro é apoiado em muletas e não tem competitividade. Ele se rejubila dos privilégios e adormece no tal berço esplêndido. Usa o povo demasiadamente, castigando-o, fustigando-o com sobre-trabalho. Torna-se pouco competitivo, porque as burguesias de fora, não tendo tantos privilégios, desenvolvem continuamente suas forças e poderes, em verdadeira evolução, que não conduz a beco sem saída.

                            Ao contrário, a burguesia brasileira, tratada com tantos mimos, vive num mundo de fantasia, em que poucos são efetivamente competitivos, fora das benesses governamentais, como essa canalha Lei Kandir, que des-onera a exportações, tirando-lhes o ICMS e colocando os estados em dificuldades, sob a falsa perspectiva do “custo Brasil”, essa invenção febril e louca dos capitalistas daqui, tutorados por essa perversa categoria dos economistas.

                            O resultado é que Hong Kong exporta, sei lá, 200 bilhões de dólares e o Brasil apenas 50, com certeza.

                            Para não estender muito, aposto que os estudos vão mostrar o significado anticompetitivo dos favores governamentais brasileiros à burguesia daqui - essas elites detestáveis e ociosas.

                            Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

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