Burguesia Favorecida
As
burguesias do mundo inteiro são favorecidas, dado que os governos são
escritórios do Capital, como venho dizendo faz tempo. Mas, a do Brasil é
demais, é extremamente favorecida. Creio que os acadêmicos deveriam retratar os
favores dados por seus governos às de fora e depois contrastar os favores
especiais da daqui: todas as coisas que no correr de 500 anos os burgueses
daqui receberam de mãos beijadas dos governantes.
Claro,
o mundo é capitalista - agora o primeiro mundo estando na terceira onda -,
porisso só podemos mesmo esperar que tudo favoreça os dominantes. Esperar
elegância deles seria demais.
Acontece
que no Brasil é muito mais, muito mais, mesmo. Subsídios, tributos orientados
(anistias, isenções, julgamentos favoráveis, imunidades, etc.), escritórios de
apoio, favores subterrâneos que a gente nunca fica sabendo, impunidade
empresarial e legal.
Ora,
a evolução é solução de problemas; quanto mais difíceis de resolver mais o
conjunto (pessoais: indivíduos, famílias, grupos e empresas; ambientais:
municípios/cidades, estados, nações e mundo) se fortalece e suplanta os demais.
Evidentemente quanto menos o predador esgota o campo-presa, mais fácil é para
ele suplantar os demais, porque não precisa gastar uma parte da produção para
recuperar seu lugar de criação. Mais as presas prosperam e ele também. No
Brasil o capitalismo guloso, guloso demais, preda a presa exageradamente. Gasta
os recursos além do cruelmente aconselhável, já que ele não tem decência.
Há
o que denominei sobre-uso uterino (as mulheres precisavam e precisam ainda ter
muito mais filhos, dado que tantos morrem precocemente) e de modo geral o
sobre-uso de tudo, de recursos ambientais a pessoais. Em virtude disso o
capitalismo brasileiro é apoiado em muletas e não tem competitividade. Ele se
rejubila dos privilégios e adormece no tal berço esplêndido. Usa o povo
demasiadamente, castigando-o, fustigando-o com sobre-trabalho. Torna-se pouco
competitivo, porque as burguesias de fora, não tendo tantos privilégios, desenvolvem
continuamente suas forças e poderes, em verdadeira evolução, que não conduz a
beco sem saída.
Ao
contrário, a burguesia brasileira, tratada com tantos mimos, vive num mundo de
fantasia, em que poucos são efetivamente competitivos, fora das benesses
governamentais, como essa canalha Lei Kandir, que des-onera a exportações,
tirando-lhes o ICMS e colocando os estados em dificuldades, sob a falsa
perspectiva do “custo Brasil”, essa invenção febril e louca dos capitalistas
daqui, tutorados por essa perversa categoria dos economistas.
O
resultado é que Hong Kong exporta, sei lá, 200 bilhões de dólares e o Brasil
apenas 50, com certeza.
Para
não estender muito, aposto que os estudos vão mostrar o significado
anticompetitivo dos favores governamentais brasileiros à burguesia daqui -
essas elites detestáveis e ociosas.
Vitória,
segunda-feira, 11 de novembro de 2002.
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