terça-feira, 3 de janeiro de 2017


As Mãos dos Aliens

 

                            No novo filme-seriado Andrômeda (passa no AXN), com Kevin Sorbo, que fazia Hércules no seriado de mesmo nome, há um alienígena que atende pelo nome de Reverendo. Para nós é bem esquisito, parece um morcego, põe ovos nos inimigos, tem orelhas pontudas, pelos arrepiados, mãos com garras enormes. Claro que é apenas uma modificação de um ser humano, que está por baixo da máscara. Mudam uma orelha e temos os vulcanos; um nariz com cortes horizontais já faz outra espécie. Acolá são dois traços na testa, etc.

                            Bom, para além do ridículo dessas modificações há a questão mais preciosa das mãos. Em geral alienígenas são mostrados com mãos monstruosas, quando não são retratados como humanóides.

                            Pensemos: todo sentido é interpretador também, é sentidinterpretador, como digo no modelo. É externo e é interno, é externinterno. Olhos externos pressupõe olhos internos que interpretem os dados, e os conectem via um centro qualquer com o conjunto dos sentidos externos e internos. O nariz externo certamente é composto com a porção do cérebro encarregada da medição dos impulsos atuais e comparações com o passado. De modo que os anatomistas realmente não mostram o corpo humano tal qual ele é.

                            As mãos humanas externas correspondem a GRANDE PORÇÃO do chamado “homúnculo motor”, a parte do cérebro encarregada de controlá-las. Maior que a do braço, do tronco, das pernas, do pé, é na realidade a parte maior daquele controlador cerebral. Acontece que mãos externinternas são instrumentos SENSÍVEIS DEMAIS, são os instrumentos mais sensíveis que temos, até mais que os olhos, cuja tarefa é fina, porém inerte. As nossas mãos são tudo que temos. De pegar coisas pesadíssimas até manipular aparelhos, máquinas e instrumentos de alguns micras de comprimento, as mãos têm uma versatilidade inacreditável.

                            Obviamente, onde quer que haja uma espécie racional dominante, ela terá mãos habilíssimas, perfeitíssimas, finas, extraordinariamente capazes dos trabalhos mais elaborados. Não pode ser nada tosco. Sejam mãos com dedos, como as nossas, ou de tentáculos, ou como for, serão sempre mãos capazes de fazer aquilo que lá dentro o cérebro manda, e ele manda fantásticas coisas. Manda continuamente, milhões de movimentos por dia – seria o caso de observar com máquina fotográfica os trabalhos de algumas centenas de pessoas escolhidas, ou mesmo de milhares, e comparar tudo isso.

                            Acontece que nos filmes de FC quase ninguém dá atenção às mãos. Elas são desprezadas. Presta-se atenção em configurar cenários, milhares de itens, mas não as mãos. Nunca as mãos. Nunca vi um filme em que as mãos tenham sido especialmente tratadas. Nunca vi mãos diferentes das humanas, para trabalhos particulares em mundos dessemelhantes do nosso. Ninguém pensa nas mãos.

                            Então, o que acontece é que as mãos são sempre as coisas mais desajeitadas do filme, quando não sejam apenas modificações ligeiras das mãos humanas, esses finíssimos, divinos cinzéis que possuímos, por graça de Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI.

                            Vitória, terça-feira, 05 de novembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário