Atrofia Psicológica
Em
seu livro, Um Desafio Chamado Brasil, 5ª edição, Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 2002, lançado antes da disputa presidencial de que
participou (e que perdeu no primeiro turno), Ciro Gomes diz, página 18: “Há no
Brasil uma geografia e uma economia da fome. Uma geografia manchada de áreas
rurais e urbanas em que a produção não é suficiente para alimentar a população
que nela sobrevive. Uma economia que, no conjunto, produz muito mais do que o
necessário para alimentar toda a população, mas que, por razões diversas –
políticas, culturais, sociais e econômicas -, deixa à margem uma parcela inaceitável de brasileiros desnutridos, de
crianças condenadas a uma virtual atrofia física e mental e, portanto, social”,
colorido meu.
Veja
que não é só atrofia física e mental e não é só daquele que a sofre, é de toda
a coletividade humana, brasileira, capixaba e de Vitória, ES, porque onde quer
que ocorra leva seus efeitos a tudo que é humano.
É
atrofia Psicológica (atrofia das figuras ou psicanálises; atrofia
de objetivos ou psico-sínteses; atrofia de produções ou economias; atrofia de
organizações ou sociologias; atrofia da geo-histórias ou de espaçotempos). Não
é apenas o chamado “homem gabiru” (um tipo de rato) do Nordeste, uma criatura
pequena, quase anã de tanto raquitismo, é o futuro do Brasil que está se
atrofiando, é um preço que pagaremos depois, todos nós. Seja a escravidão, seja
a favelização, seja a desnutrição, seja a dependência química, para onde vai o
custo futuro de tudo isso? Para um ganho relativamente minúsculo agora
pagaremos alto preço futuro – é a chamada “distribuição social do prejuízo”,
frente à “apropriação individual do lucro”. Ou você acha que o preço que
estamos pagando pela degradação ambiental praticada pela geração anterior é
pequeno? Ou que o preço que a geração de nossos filhos e de nossos netos pagará
por nossa tresloucada destruição atual é insignificante? São nossas almas que
estão sendo corroídas.
O
que americanos, europeus, russos, brasileiros e outros povos fizeram não sai da
Terra, fica aqui mesmo, é herança virtual, como coloquei no modelo – em algum
momento ela será debitada em nossas contas, em nosso capital de vida.
Com uma desfaçatez impressionante estamos criando débitos cada vez maiores, emitindo
cheques que serão sacados no futuro, imediato ou a mais longo prazo.
Todos
esses ATROFIAMENTOS que estamos gerando agoraqui estarão lá, junto dos que ficarem,
como 10 % de deficientes físicos, como milhares de desaparecidas espécies que
não mais poderão gerar para nós seus produtos biológicos/p.2, milhões de seres
humanos aleijados físico-quimicamente, biologicamente, psicologicamente; os
milhões de bombas plantadas na pele da Mãe Terra por dementes, aquelas minas (que
para colocar é fácil, mas para retirar custa milhões de dólares que poderiam
ser aplicados noutros lugares) seqüestradoras das vidas preciosíssimas de
pessoas, cujos braços, pernas e outras partes do corpo são decepadas
barbaramente, quando a vida toda não é perdida.
É
verdade, a humanidade está doente, e possa Deus enviar um curador qualquer que
a livre dessa maliciosa doença mental, dessa atrofia. Inclusive, é claro, que
livre os brasileiros também, misericórdia!
Vitória,
sexta-feira, 06 de dezembro de 2002.
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