quarta-feira, 11 de janeiro de 2017


Atrofia Psicológica

 

                            Em seu livro, Um Desafio Chamado Brasil, 5ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002, lançado antes da disputa presidencial de que participou (e que perdeu no primeiro turno), Ciro Gomes diz, página 18: “Há no Brasil uma geografia e uma economia da fome. Uma geografia manchada de áreas rurais e urbanas em que a produção não é suficiente para alimentar a população que nela sobrevive. Uma economia que, no conjunto, produz muito mais do que o necessário para alimentar toda a população, mas que, por razões diversas – políticas, culturais, sociais e econômicas -, deixa à margem uma parcela inaceitável de brasileiros desnutridos, de crianças condenadas a uma virtual atrofia física e mental e, portanto, social”, colorido meu.

                            Veja que não é só atrofia física e mental e não é só daquele que a sofre, é de toda a coletividade humana, brasileira, capixaba e de Vitória, ES, porque onde quer que ocorra leva seus efeitos a tudo que é humano.

                            É atrofia Psicológica (atrofia das figuras ou psicanálises; atrofia de objetivos ou psico-sínteses; atrofia de produções ou economias; atrofia de organizações ou sociologias; atrofia da geo-histórias ou de espaçotempos). Não é apenas o chamado “homem gabiru” (um tipo de rato) do Nordeste, uma criatura pequena, quase anã de tanto raquitismo, é o futuro do Brasil que está se atrofiando, é um preço que pagaremos depois, todos nós. Seja a escravidão, seja a favelização, seja a desnutrição, seja a dependência química, para onde vai o custo futuro de tudo isso? Para um ganho relativamente minúsculo agora pagaremos alto preço futuro – é a chamada “distribuição social do prejuízo”, frente à “apropriação individual do lucro”. Ou você acha que o preço que estamos pagando pela degradação ambiental praticada pela geração anterior é pequeno? Ou que o preço que a geração de nossos filhos e de nossos netos pagará por nossa tresloucada destruição atual é insignificante? São nossas almas que estão sendo corroídas.

                            O que americanos, europeus, russos, brasileiros e outros povos fizeram não sai da Terra, fica aqui mesmo, é herança virtual, como coloquei no modelo – em algum momento ela será debitada em nossas contas, em nosso capital de vida. Com uma desfaçatez impressionante estamos criando débitos cada vez maiores, emitindo cheques que serão sacados no futuro, imediato ou a mais longo prazo.

                            Todos esses ATROFIAMENTOS que estamos gerando agoraqui estarão lá, junto dos que ficarem, como 10 % de deficientes físicos, como milhares de desaparecidas espécies que não mais poderão gerar para nós seus produtos biológicos/p.2, milhões de seres humanos aleijados físico-quimicamente, biologicamente, psicologicamente; os milhões de bombas plantadas na pele da Mãe Terra por dementes, aquelas minas (que para colocar é fácil, mas para retirar custa milhões de dólares que poderiam ser aplicados noutros lugares) seqüestradoras das vidas preciosíssimas de pessoas, cujos braços, pernas e outras partes do corpo são decepadas barbaramente, quando a vida toda não é perdida.

                            É verdade, a humanidade está doente, e possa Deus enviar um curador qualquer que a livre dessa maliciosa doença mental, dessa atrofia. Inclusive, é claro, que livre os brasileiros também, misericórdia!

                            Vitória, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário