quarta-feira, 18 de janeiro de 2017


A Dialética e o Puritanismo

 

                            Do mesmo O Livro das Religiões, página 201, citemos (sobre os movimentos reformados radicais e o legado calvinista a eles): “Outro aspecto comum à maioria desses movimentos é o legado puritano do calvinismo. Dá-se muita importância a uma vida de honestidade, frugalidade e moderação, e se rejeita a idéia de luxos externos e divertimentos. Contudo, a prosperidade do pós-guerra ocasionou grandes mudanças nesses conceitos”.

                            Em primeiro lugar, na Rede Cognata puritanismo = SATANISMO = SATANÁS = PLUTÃO = SOBERBOS = CHARLATÃES = SABICHÕES = PRETENSÕES, etc. Não é nada de bom. Talvez seja porque há a pretensão de saber o que é bom ou ruim, ao passo que o modelo apontou distintamente que Deus, a parte consciente do par polar oposto/complementar Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI, está postado na Tela Final com A Verdade, a coalizão de todas as verdades parciais numa geral, absoluta, central. Nós não podemos saber REALMENTE o que seja DEFINITIVAMENTE bom e ruim e isso deveria nos ensinar simplicidade.

                            Depois, a dialética diz que a tentativa de chegar a 100 % cria uma tensão contrária (e igual em módulo, como Newton disse noutro contexto), que é diretamente proporcional, como uma exponencial. Na realidade temos 2,5 % na superesquerda, 47,5 % na esquerda, 47,5 % na direita e 2,5 % na superdireita. Não apenas não se pode chegar a 100 %, sequer podemos passar de 97,5 %. É impeditivo. Forças terríveis começam a existir e a forçar o barco além do limite, até tombo, até emborcá-lo e destruí-lo.

                            Como não poderia deixar de ser, a tentativa dos calvinistas e seus imitadores de supervalorizar a purificação (que é apenas uma meta, não se pode chegar ao puro = PAI – só se pode e se deve continuar trabalhando rumo a ele) levou à superafirmação do contrário, quer dizer, das inversões de valores, mediante a nova prosperidade, que afrouxou os supercontroles. Não seria mesmo diferente. A tentativa de afastamento da média, rumo a um dos pólos, levou à hiperafirmação do outro. Daí veio essa licenciosidade com que primeiro os nórdicos e os alemães, e depois os EUA, pátrias dos protestantes, legaram ao mundo, todo esse emporcalhamento, esses excessos que vemos invadindo as casas. Sexo é muito bom e tudo, nós sabemos, ele é central no Projeto, mas excesso é perdição = SATANÁS. Tanto excesso de sexo quanto excesso de culpa.

                           

A questão não é a honestidade, a frugalidade e a moderação, pelo contrário; é o excesso disso tudo, a sobreafirmação da honestidade a qualquer custo, da frugalidade ascética, da moderação castradora. Todas aquelas coisas são boas, são mesmos adoráveis. O que é ruim mesmo é viver só disso, sem nenhum relaxamento, sem nenhuma tranqüilidade, sem pausa para respirar. São essas dilatações impositivas que levam às sombras, às perversidades.

Que isso nos sirva de lição eterna.

                            Vitória, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002.

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