segunda-feira, 16 de janeiro de 2017


A Cozinha do Olimpo


 

                            Quem é que cuida de limpar a Mansão dos Deuses (deve ser enorme), servir os pratos aos desocupados, cozinhar, limpar as roupas? Sempre vimos o Olimpo, morada dos deuses pagãos dos gregos antigos, pelo lado da festa da burguesia de lá, nunca pelo lado dos trabalhadores.

                            Seria divertido criar um roteiro mirando a rapaziada que entra no Olimpo pelo “elevador de serviço”, a turma dos fundos, que cuida para que a sujeira dos brilhantes deuses nunca transpareça e eles possam se vestir de seda e linho para aparecer nas infindáveis festas.

                            Evidente que é uma metáfora dos tempos modernos, porque, veja, no Brasil a FIBGE (Fundação IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou do Censo 2000 que o um por cento de brasileiros mais ricos reduziu-se a 0,6 % e aumentou muito sua fortuna. Estão com mais para menos gente – enfim, os ricos estão cada vez mais ricos à custa dos outros. Nos EUA as décadas dos 1980 e dos 1990, desde Reagan, foram concentradoras de riqueza, em proporção ainda maior. Deve ter acontecido no mundo inteiro, que se mira sempre nos exemplos dos americanos sacanas.

                            Com isso os cineastas poderão mostrar que a vida e prazer dos Os-Limpos faz-se à custa de Os-Sujos, os de trás, que garantem a permanente alegria dos da frente. É possível fazer um roteiro consistente, mostrando os deuses falando de ações de planetas, de fábricas, de turismo nos mundos, abordando algumas questões bem marcantes e visíveis de alguns países, fazendo paralelo com a geo-história recente da Terra.

                            Vitória, terça-feira, 24 de dezembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário