segunda-feira, 16 de janeiro de 2017


A Casa dos Lordes

 

                            Ontem, 16.12.2002, eu estava trabalhando no Posto Fiscal da SEFA no Aeroporto de Vitória, que chamo de Aeroposto, quando entrou um despachante de empresa aérea. O colega agente fiscal falou com desfeita do futuro governo de Lula, o despachante ficou brabo, e disse: “ah, tá, melhor seria se fosse a casa dos lordes”.

                            Então eu compreendi que os ambientes todos (municípios/cidades, estados, nações e mundo) e até as empresas são casas dos lordes, dos inimigos de classe dos proletários. A gente já sabia há muito tempo, desde pensar e desde ler Marx e outros, mas ali estava um claro anúncio popular da separação, que jaz no fundo, oculta por reverências e salamaleques. E, é claro, o povo vai se decepcionar (de novo), como já analisei alhures.

                            O povo tem justa raiva de entrar sempre pela cozinha e pelo elevador de serviço, enquanto as classes “altas” se banqueteiam no salão principal. E ruge lá dentro uma angústia não só de separação, mas de diminuição, de redução, de distanciamento e desprezo. Lá dentro queimam misérias acumuladas em centenas, em milhares de anos. Quando abre uma pequena brecha a gente sabe que é aquela vazão incontida. Bonita Casa dos Lordes, sempre prestes a ruir (porque o tempo do povo é como o geológico, dado que a coisa só termina no fim).
                            Vitória, terça-feira, 17 de dezembro de 2002.

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