segunda-feira, 16 de outubro de 2017


Re-Partição Pública


 

                        Na Agência da Receita Estadual (ARE) de Vitória onde trabalho agora a moça que fica na parte da manhã, L, chega às oito, fica atoa até as 10, atende daí até as 13 e vai embora, para um regime que em geral aceita dos administrativos seis horas diárias (isso vem do ex-presidente Geisel - entrou em março/1974, saiu em março/1979 -, que adotou o sistema quando tomou posse depois da primeira crise do petróleo em 1973. A partir de 1976, salvo engano, os funcionários passaram a fazer 30 horas semanais e devem ter sido os precursores no mundo. Como o brasileiro é “jeitoso”, como todos dão nó até em pingo d’água, logo deram jeito de reduzir ainda mais.

                        No meu caso, pretendendo freqüentar o curso de matemática pedi para trabalhar de 12 às 20, mas foi negado, contra a constituição estadual. Não obstante, a administrativa R chega às 13:30 e atende até às 16:00 - quando fecham as portas que abriram às 10:00 – ou até o último residual ir embora, ficando depois até as 18. Há ainda N, outra oficial administrativa, que tem horário flexiível para ajudar essas duas.

                        Segundo contagem do colega W há na ARE 13 fiscais - custando cada um bastante dinheiro ao estado - quando somos no todo na ativa pouco mais de 400, no máximo 450; é que aqui colocam os de “castigo”, ou porque fazem corpo mole ou porque, como eu, discutem e brigam com as chefias. No setor de notas fiscais avulsas ficam três colegas: JMCO, EP e DL, que decidiram por conta própria dividir sua rotina de seis horas em três partes de duas cada das 10 às 12, das 12 às 14 e das 14 às 16 ou o que convir. Eu mesmo faço apenas seis horas, de 10 às 16, com horário de almoço de 10 minutos, porque foi o jeito que acharam de matar meu curso de matemática.

                        A agência toda tem mais de 30 pessoas em vários graus de desocupação, exceto a administrativa G, que trabalha muito e ganha pouco. Trabalhando de 8 às 20, com duas horas de almoço, estão apenas J e P, ela chefe de agência e ele supervisor, porque ganham três mil pontos a mais, com o valor do ponto a R$ 0,44 chegando por mês a mais 1.320,00, que com as vantagens característias de 70 % em 20 anos de serviço vão a 2.244,00 a mais, com a agregação montando até a morte a mais de um milhão de reais. São dedicados, dez horas diárias de serviço, mas são regiamente pagos.

                        As análises mostrariam as coisas mais extraordinárias no serviço público, causando tanto espanto que deixaria qualquer um chocado: como o Brasil vai mudar para ser primeiro mundo?

                        Vitória, terça-feira, 19 de julho de 2005.

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