domingo, 29 de outubro de 2017


O Julgamento do Povo e a Restauração das Grandes Dimensões

 

                            Em seu livro A Cabeça Bem-Feita (Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento), Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004, p. 50, Edgar Morin diz: “No âmago da leitura ou do espetáculo cinematográfico, a magia do livro ou do filme faz-nos compreender o que não compreendemos na vida comum. Nessa vida comum, percebemos os outros apenas de forma exterior, ao passo que na tela e nas páginas do livro eles nos surgem em todas as suas dimensões, subjetivas e objetivas”. Negrito meu.

                            AS CAMADAS DE EXTERIORIDADE

Seta para a Direita: Mais exterior1. povo
2. lideranças
3. profissionais
4. pesquisadores
5. estadistas
6. santos/sábios
Seta para a Esquerda: Mais interior7. iluminados

Os filósofos têm essa particularidade: lendo seus textos temos um monte de idéias. Chama-se emanação (no Aurélio Século XXI: Do lat. emanatione. S. f. 1. Ato ou efeito de emanar.  2. Proveniência, origem. 3. Eflúvio (1).  4. Filos. Processo pelo qual os múltiplos seres que constituem o Universo dimanam de um ser único. Cf., nesta acepç. Gnosticismo), que apelidei “saição”, o que sai, o ato permanente de sair.

O povo não vê as chamadas “verdades interiores” porque não lê; cada popular depende apenas de si para fazer todos os julgamentos. Claro que não é assim, existem os ditados (que são apaziguadores do pensamento, subtratores, subjugadores). O povo não vê as dimensões interiores e subjetivas, do sujeito. Vê novelas, quando vê, pois não assiste filmes, não lê, não se aprofunda de modo nenhum. Todos os seus julgamentos são superficiais, a menos da sabedoria ou falta de sabedoria do coletivo, do que estiver espalhado como esperteza convencionada, ou puder ser achado na Bíblia (entre os muçulmanos a renúncia é em relação ao Corão). Enfim, o povo se recusa a pensar. Vive do pensamento alheio e vive de julgar sem pensamento. Porque não lê, não ouve e não fala o povo é como o macaco cego, surdo e mudo. Vive de julgar e condenar, como tantas vezes vemos. As elites cooptam esse julgamento excessivo que é verdadeiramente falta de avaliação correta (e tomada de decisões corretas) dificultando ou impedindo as leituras e discussões, porque proceder assim restritivamente favorece a apropriação indébita. E, é claro, ler é sinal de consideração, amor pelo próximo, que as elites e os povos de muitos países (por exemplo, o Brasil) não têm, pois foram insuficientemente cristianizadas.

Vitória, agosto de 2005.

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