O Julgamento do Povo
e a Restauração das Grandes Dimensões
Em seu livro A Cabeça Bem-Feita (Repensar a Reforma,
Reformar o Pensamento), Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004, p. 50, Edgar
Morin diz: “No âmago da leitura ou do espetáculo cinematográfico, a magia do
livro ou do filme faz-nos compreender o que não compreendemos na vida comum. Nessa vida comum, percebemos os outros
apenas de forma exterior, ao passo que na tela e nas páginas do livro eles nos
surgem em todas as suas dimensões, subjetivas e objetivas”. Negrito meu.
AS CAMADAS DE EXTERIORIDADE
1. povo
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2. lideranças
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3. profissionais
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4. pesquisadores
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5. estadistas
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6. santos/sábios
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7. iluminados
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Os filósofos têm essa particularidade:
lendo seus textos temos um monte de idéias. Chama-se emanação (no Aurélio Século XXI: Do lat. emanatione.
S. f. 1. Ato ou efeito de emanar. 2.
Proveniência, origem. 3. Eflúvio (1). 4.
Filos. Processo pelo qual os múltiplos seres que constituem o Universo dimanam
de um ser único. Cf., nesta acepç. Gnosticismo), que apelidei “saição”, o que
sai, o ato permanente de sair.
O povo não vê as chamadas “verdades
interiores” porque não lê; cada popular depende apenas de si para fazer todos
os julgamentos. Claro que não é assim, existem os ditados (que são
apaziguadores do pensamento, subtratores, subjugadores). O povo não vê as
dimensões interiores e subjetivas, do sujeito. Vê novelas, quando vê, pois não
assiste filmes, não lê, não se aprofunda de modo nenhum. Todos os seus
julgamentos são superficiais, a menos da sabedoria ou falta de sabedoria do
coletivo, do que estiver espalhado como esperteza convencionada, ou puder ser
achado na Bíblia (entre os muçulmanos a renúncia é em relação ao Corão). Enfim,
o povo se recusa a pensar. Vive do pensamento alheio e vive de julgar sem
pensamento. Porque não lê, não ouve e não fala o povo é como o macaco cego,
surdo e mudo. Vive de julgar e condenar, como tantas vezes vemos. As elites
cooptam esse julgamento excessivo que é verdadeiramente falta de avaliação
correta (e tomada de decisões corretas) dificultando ou impedindo as leituras e
discussões, porque proceder assim restritivamente favorece a apropriação
indébita. E, é claro, ler é sinal de consideração, amor pelo próximo, que as
elites e os povos de muitos países (por exemplo, o Brasil) não têm, pois foram
insuficientemente cristianizadas.
Vitória, agosto de 2005.
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