Os Diretores
Onipotentes
Dizem que Alfred Hitchcock teria
afirmado que “os artistas são gado”, ao que ele teria retrucado nunca ter
falado assim, apenas que “os artistas devem ser tratados como gado”.
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A primeira afirmação
é melhor que a outra, porque se as criaturas são bois e são tratadas como bois
isso é apenas reconhecimento da natureza delas; tratar os bois como bois não é
necessariamente ruim, se não há crueldade no tratamento. Muitos touros com
pedigree são excelentemente tratados, porque custam milhares de reais e seu
espermatozóide é julgado valiosíssimo. São paparicados.
Entrementes, dizer
que PESSOAS devem ser tratadas como gado é tirar delas sua humanidade, que lhe
foi entregue pela evolução da espécie em parte de 3,8 bilhões de anos da Vida,
parte de 100 milhões de anos dos primadas, parte de 10 milhões de anos dos
hominídeos, parte de 200 mil anos dos neandertais, 80 a 70 mil anos dos
cro-magnons que somos nós, 11 mil anos de civilização desde Jericó na
Antiguidade até 476, na Idade Média até 1453, na Idade Moderna até 1789, na
Idade Contemporânea até 1991 e na Idade Pós-Contemporânea depois disso. Se uma
pessoa é tratada como gado, todo o esforço de nossa espécie foi suprimido.
Embora a superatenção aos atores e atrizes seja improdutiva e eminentemente
errada, é também certo que a superafirmação dos diretores é um erro. É um
ciclo, certamente, que vai da supervalorização dos artistas à supervalorização
dos diretores.
OS
CUIDADOS QUE DEVERÍAMOS TER DERIVARIAM DA OBSERVAÇÃO DA CURVA DO SINO (há um punhado de superdiretores, é
certo, mas superdimensioná-los levaria a fazer-nos suportar a carga maciça dos
médios que se arvoram a ser Deus). Por conta de 2,5 % ou 1/40 nós temos de
suportar as impertinências de uma multidão.
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Em resumo, Hitchcock extrapolou.
Vitória, agosto de 2005.
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