Pequeno Infinito
No
seu livro, O Sistema Solar (viagem
ao reino do Sol, através das mais recentes conquistas espaciais), Rio de
Janeiro, Ediouro, 2002, o autor, Alberto Delerue, diz, página 255, entrada do
capítulo 11, Último Gigante: “Antes de seu mergulho
rumo ao infinito, a Voyager 2 sobrevoou Netuno e seu principal
satélite, Tritão. Chegava-se, assim, ao fim da Idade do Ouro da exploração
espacial”, colorido meu.
A
facilidade com que quase todos e quase cada um usa a palavra “infinito”, assim
como também “amor”, tem-nas desvalorizado, apequenado, de modo que poderíamos
falar de PEQUENO INFINITO, por oposição ao GRANDE INFINITO, aquele infinito
mesmo que não acaba e do qual nem se poderia verdadeiramente falar, por ser
impossível seu enquadramento. O grande e o pequeno, este outro que tantos
tratam com essa espantosa intimidade, com essa grande familiaridade, com essa
camaradagem inclusive, com essa abissal sem-cerimônia.
Voltando
à categoria em si, o conceito propriamente dito, a idéia, o não-concreto,
infinito seria apenas uma palavra para o não-expressável, pois um elevador
infinito seria tão grande quanto o próprio prédio. Ademais, a coisa foi tão
não-tratada que em tal prédio infinito caberiam infinitos elevadores, cada um
por si mesmo infinito. Enfim, infinito é a confusão mental.
A
Voyager não poderia MERGULHAR NO INFINITO exatamente porque todo o universo não
é senão um cisco infinitesimal comparado com o infinito e a V-2 sequer saiu do
sistema solar, que vai até a Nuvem Cometária de Öort, a estimado 0,5 ano-luz de
distância. Ai, ai, o que os divulgadores das tecnociências fazem às vezes para
chamar a atenção da platéia é de chocar o mais recatado e fechado dos lógicos.
Vitória,
quinta-feira, 19 de dezembro de 2002.
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