quarta-feira, 18 de janeiro de 2017


Pequeno Infinito

 

                            No seu livro, O Sistema Solar (viagem ao reino do Sol, através das mais recentes conquistas espaciais), Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, o autor, Alberto Delerue, diz, página 255, entrada do capítulo 11, Último Gigante: “Antes de seu mergulho rumo ao infinito, a Voyager 2 sobrevoou Netuno e seu principal satélite, Tritão. Chegava-se, assim, ao fim da Idade do Ouro da exploração espacial”, colorido meu.

                            A facilidade com que quase todos e quase cada um usa a palavra “infinito”, assim como também “amor”, tem-nas desvalorizado, apequenado, de modo que poderíamos falar de PEQUENO INFINITO, por oposição ao GRANDE INFINITO, aquele infinito mesmo que não acaba e do qual nem se poderia verdadeiramente falar, por ser impossível seu enquadramento. O grande e o pequeno, este outro que tantos tratam com essa espantosa intimidade, com essa grande familiaridade, com essa camaradagem inclusive, com essa abissal sem-cerimônia.

                            Voltando à categoria em si, o conceito propriamente dito, a idéia, o não-concreto, infinito seria apenas uma palavra para o não-expressável, pois um elevador infinito seria tão grande quanto o próprio prédio. Ademais, a coisa foi tão não-tratada que em tal prédio infinito caberiam infinitos elevadores, cada um por si mesmo infinito. Enfim, infinito é a confusão mental.

                            A Voyager não poderia MERGULHAR NO INFINITO exatamente porque todo o universo não é senão um cisco infinitesimal comparado com o infinito e a V-2 sequer saiu do sistema solar, que vai até a Nuvem Cometária de Öort, a estimado 0,5 ano-luz de distância. Ai, ai, o que os divulgadores das tecnociências fazem às vezes para chamar a atenção da platéia é de chocar o mais recatado e fechado dos lógicos.

                            Vitória, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002.

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