quinta-feira, 19 de janeiro de 2017


Jogo e Trabalho


 

                            Há gente que se orgulha de ter jogado durante quase a vida toda na Loteria Esportiva e nas demais loterias, ou na maioria, até no Jogo do Bicho. Alguns jogaram muito, eu joguei pouquíssimo, umas 20 vezes, se tanto. Todas essas pessoas, inclusive eu, daquelas vezes em que aceitei participar, pensavam o quê?

                            As loterias patrocinadas pelo Estado brasileiro (contra os fervorosos votos da Constituição) logo de cara tiram 66 % a vários títulos (Imposto de Renda, destinações aos esportes e cultura, etc.). Restam 34 % ou o que for. Até milhões jogam a cada vez, mormente quando acumula. A loteria La Gorda, espanhola, parece que paga centenas de milhões, enquanto as brasileiras chegam a uns 15 milhões de dólares, quando acumuladas. É tirado de milhões de indivíduos e colocado nas mãos de um ou de alguns, não muitos, tremenda concentração de renda.

                            Além de os governos já nos tirarem os tributos (no Brasil são 58), sendo oito federais, quatro estaduais e quatro municipais/urbanos, nos tiram também através dos jogos. E não devolvem sob a forma de excelentes obras. Uma parte dos tributos é desviada, uma parte paga obras de má qualidade, uma parte paga juros e uma parte os gastos necessários e desnecessários com o funcionalismo e custeio.

                            As pessoas pensavam no enriquecimento, mas os jogos são: 1) cobrança indevida de tributos, 2) concentração de renda, 3) treinamento para o vício. Isso e outras coisas horrorosas são os jogos patrocinados pelo Estado, que, no entanto, deveria dar o exemplo. Porque em vez de mirarmos o trabalho nos divertimos com o vício. Em vez de valorizar o trabalho, valorizamos os subterfúgios, o enriquecimento lícito, mas não legal através da jogatina desenfreada.

                            Esse é o Brasil que vai para frente, rumo ao precipício.

                            Vitória, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002.

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