quinta-feira, 19 de janeiro de 2017


Ideologia


 

                            O Conhecimento é composto de quatro partes altas (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência) e quatro partes baixas correspondentes (Arte, Religião, Ideologia e Técnica), como duas pirâmides emborcadas, cujo centro comum em cima e embaixo é a Matemática.

                            De todas, a Ideologia é a mais renitente, a mais resistente, a que não se dobra a absolutamente nada, e é fácil compreender porque.

                            Sendo a contraparte da Filosofia, desta herda argumentos poderosos, superiores, que só a Ciência, com muita persistência, pode negar. Acontece que a Ideologia é a LÓGICA DA IDÉIA, é doutrina, é idéia transformada em introjetamento, em missão inquestionável, totalmente bloqueada para fora, não se indagando mais de suas justificativas. Os fascismos italiano, japonês e alemão, ou soviético, ou os fanatismos americanos são difíceis de combater, e sempre levam a morticínios, primeiro dos de fora, depois dos de dentro, quando vem a reação.

                            Uma vez que lideranças combinem o que é dogmático e o que está, por via de conseqüência, excluído como não pertencendo ao corpo de crenças, o resultado só pode ser o enrijecimento progressivo do grupo, a constituição de um COMITÊ CENTRAL cada vez mais reduzido e expurgado, a instituição de uma POLÍCIA PATRIMONIAL IDEOLÓGICA (os dogmas são entendidos a partir de então como uma propriedade e toda invasão dela será rechaçada duramente), a caça os inimigos (de fora) e aos dissidentes (de dentro). O PERÍMETRO IDEOLÓGICO vai se estreitando cada vez mais, enquanto os paramentos dos comissionados do CC ficam mais elaborados, os troféus cada vez mais guardados e ocultos da generalidade da gente, e assim por diante. Basta olhar as igrejas, a Revolução dos Bichos (de George Orwell), os exércitos, tudo que é fechado num ciclo de RENOVAÇÃO DOGMÁTICA, quer dizer, compressões sucessivas pelos dogmas dominantes (porque, como tudo, os dogmas também competem pela sobrevivência e seleção dos dogmas mais aptos, mais representativos, mais “fortes”).

                            Enfim, é uma coisa que, de um jeito ou de outro está destinada ao fracasso PORQUE, ou de fora vem a destruição ou de dentro a falta de renovação e ampliação, com reduções cada vez mais drásticas conduzindo finalmente à extinção. Socioeconomias dogmáticas estão destinadas à extinção. A Ideologia é um perigo, mas também tem seu serviço, quando pode ser mantida quieta e tranqüila. É como um cão bem alimentado.

                            Vitória, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002.

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