Duas Burguesias
No
livro Comunismo Cientifico (Diccionario A-Z), Moscou, Progreso, 1981, de
vários autores (lista grande), em espanhol, o verbete Burguesia Nacional
diz, p. 30: “Em los países menos desarrollados, subyugados o liberados, a B. n.
es uma clase interesada em el progreso político y económico independiente de su
país”. Minha tradução seria: “Nos países desenvolvidos, subjugados ou
liberados, a B. n é uma classe interessada no progresso político e econômico
independente de seu país”.
Portanto,
temos uma BURGUESIA NACIONAL e uma BURGUESIA NÃO-NACIONAL. Na realidade ambas
são burguesias nacionais, estão dentro do país, só que uma se acha competente
para o desenvolvimento autônomo e a outra não - esta última quer copiar o
estrangeiro, subjugando-se a ele em tudo ou quase tudo, querendo viver uma vida
transplantada, xerox da outra, e se sentindo mal porque não consegue e não vai
conseguir nunca. Mas mimetiza ao máximo. É um poder mimético dos demais, dos de
fora, e sente vergonha do seu povo, preferindo ter um específico ou até
qualquer outro, em casos extremos, de maior indignidade e sujeição ou
alienação.
Podemos
dizer que a MESMA burguesia se divide em duas seções: a BURGUESIA
(parcialmente) DESALIENADA e a BURGUESIA ALIENADA. Lembre-se que é a mesma
burguesia que, em caso de ameaça, esquecerá seu seccionamento e funcionará em
uníssono. São SETORES da MESMA BURGUESIA. NÃO EXISTEM DUAS, é uma só, não se
esqueça.
Mas,
por vezes essa burguesia se desentende tanto em questões de mérito que é possível
cravar uma cunha em sua união, dividindo-a permanente ou temporalmente, ou
seja, findando-a ou não. Ela termina no final, quando se passa ao socialismo
local, e é apenas abalada quando há um golpe, bem ou mal assestado. Entretanto,
é sempre uma só, e pensar diferente é alienar-se, distanciar-se da melhor
compreensão de mundo.
Porém
podemos raciocinar como se fossem duas, se não esquecermos que se trata de uma
só, apenas uma. APARENTANDO SER DUAS, falemos então de BN, burguesia nacional,
e de BNN, burguesia não-nacional.
A
BNN acredita poder continuar dominando o povo apenas com o conhecimento vindo
de fora, sem qualquer adaptação, em caso extremo até mesmo mínima. Que o povo
jamais conseguirá, nem com o serviço de intelectuais orgânicos com seus interesses,
vencer aqueles poderosos conhecimentos alienígenas. Em razão disso ela nada
quer ceder, porque não se acha ameaçada.
A
BN, por outro lado, acredita, corretamente que as coisas mudam (Trotski diria
que os conjuntos mudam diferencialmente) e que em algum tempo o povo
conseguiria se safar do domínio presente ou imediatamente futuro, e que porisso
mesmo é preciso construir uma nova dominância, baseada em equilíbrios internos,
pelo quê ela está disposta a ceder, deixando o povo crescer mais e mais livremente.
Ela está aberta a trocas, até a coopções dos intelectuais de esquerda, os quais
podem saber ou não proporcionar muitas soluções ou amaciamentos que permitam e
até ampliem o domínio e a dominância burguesa.
Evidentemente,
é muito claro, é cristalino que há uma só burguesia, sutilmente
seccionável, o que permite fazer avaliações grosseiras e muito sutis, que
alimentarão fortemente as chances ou possibilidades revolucionárias, indo além
dessa divisão estúpida em duas burguesias, e mesmo assim aprontando um
movimento só que se divide em dois, para tocar diferencialmente as fraquezas da
mesma burguesia com duas apreciações (como o povo também tem duas). Tal
compreensão permite refazer as demais, para maior efetividade.
Vitória,
terça-feira, 12 de novembro de 2002.
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