quarta-feira, 4 de janeiro de 2017


Duas Burguesias

 

                            No livro Comunismo Cientifico (Diccionario A-Z), Moscou, Progreso, 1981, de vários autores (lista grande), em espanhol, o verbete Burguesia Nacional diz, p. 30: “Em los países menos desarrollados, subyugados o liberados, a B. n. es uma clase interesada em el progreso político y económico independiente de su país”. Minha tradução seria: “Nos países desenvolvidos, subjugados ou liberados, a B. n é uma classe interessada no progresso político e econômico independente de seu país”.

                            Portanto, temos uma BURGUESIA NACIONAL e uma BURGUESIA NÃO-NACIONAL. Na realidade ambas são burguesias nacionais, estão dentro do país, só que uma se acha competente para o desenvolvimento autônomo e a outra não - esta última quer copiar o estrangeiro, subjugando-se a ele em tudo ou quase tudo, querendo viver uma vida transplantada, xerox da outra, e se sentindo mal porque não consegue e não vai conseguir nunca. Mas mimetiza ao máximo. É um poder mimético dos demais, dos de fora, e sente vergonha do seu povo, preferindo ter um específico ou até qualquer outro, em casos extremos, de maior indignidade e sujeição ou alienação.

                            Podemos dizer que a MESMA burguesia se divide em duas seções: a BURGUESIA (parcialmente) DESALIENADA e a BURGUESIA ALIENADA. Lembre-se que é a mesma burguesia que, em caso de ameaça, esquecerá seu seccionamento e funcionará em uníssono. São SETORES da MESMA BURGUESIA. NÃO EXISTEM DUAS, é uma só, não se esqueça.

                            Mas, por vezes essa burguesia se desentende tanto em questões de mérito que é possível cravar uma cunha em sua união, dividindo-a permanente ou temporalmente, ou seja, findando-a ou não. Ela termina no final, quando se passa ao socialismo local, e é apenas abalada quando há um golpe, bem ou mal assestado. Entretanto, é sempre uma só, e pensar diferente é alienar-se, distanciar-se da melhor compreensão de mundo.

                            Porém podemos raciocinar como se fossem duas, se não esquecermos que se trata de uma só, apenas uma. APARENTANDO SER DUAS, falemos então de BN, burguesia nacional, e de BNN, burguesia não-nacional.

                            A BNN acredita poder continuar dominando o povo apenas com o conhecimento vindo de fora, sem qualquer adaptação, em caso extremo até mesmo mínima. Que o povo jamais conseguirá, nem com o serviço de intelectuais orgânicos com seus interesses, vencer aqueles poderosos conhecimentos alienígenas. Em razão disso ela nada quer ceder, porque não se acha ameaçada.

                            A BN, por outro lado, acredita, corretamente que as coisas mudam (Trotski diria que os conjuntos mudam diferencialmente) e que em algum tempo o povo conseguiria se safar do domínio presente ou imediatamente futuro, e que porisso mesmo é preciso construir uma nova dominância, baseada em equilíbrios internos, pelo quê ela está disposta a ceder, deixando o povo crescer mais e mais livremente. Ela está aberta a trocas, até a coopções dos intelectuais de esquerda, os quais podem saber ou não proporcionar muitas soluções ou amaciamentos que permitam e até ampliem o domínio e a dominância burguesa.

                            Evidentemente, é muito claro, é cristalino que há uma só burguesia, sutilmente seccionável, o que permite fazer avaliações grosseiras e muito sutis, que alimentarão fortemente as chances ou possibilidades revolucionárias, indo além dessa divisão estúpida em duas burguesias, e mesmo assim aprontando um movimento só que se divide em dois, para tocar diferencialmente as fraquezas da mesma burguesia com duas apreciações (como o povo também tem duas). Tal compreensão permite refazer as demais, para maior efetividade.

                            Vitória, terça-feira, 12 de novembro de 2002.

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