Piadaria
Romilda era um caso
diferente, diferentemente da maioria das mulheres ela gostava de contar piadas.
Para elas piadas são coisas infantis, masculinas, perda de tempo diante de
tarefas mais sérias de um dia ocupado a ocupadíssimo. Só os homens, com seu
excesso de tempo, se preocupavam com piadas.
Bem, Romilda era
diferente.
Fosse porque fosse,
ela gostava de contar piadas.
Pensando bem, os
homens ficavam em volta dela e ela aproveitava para pegar um e outro, era uma
isca, ficavam igual insetos em volta da lâmpada e ela só abocanhando, mirava e
ia certeira.
Os homens amavam, ela
se especializou.
Bonita não era, mas
era simpática, que é o que conta, gostava de homem, GOSTAVA MUITO, era
ninfomaníaca, ficou amiga de centenas. Eles riam, ela ria, eles gargalhavam,
ela gargalhava, tava pra ela.
Ela se aprofundou
mais ainda.
Rica não era, mas os
homens não a deixavam pagar a conta nem de bebida nem de comida, disputavam a
tapa para pagar a parte dela, no final da noite ela escolhia um, os outros já
sabiam.
Ela foi mais fundo
ainda.
Começou a colecionar,
criou arquivo cada vez maior das que conhecia, das que perguntava aos outros,
das antigas e das novas, por gênero, como vários já fizeram, por exemplo, Ary
Toledo. Muitos, muitos sites/sítios, inumeráveis, quase se tornara impossível
contar uma piada nova, porque tudo ia parar na Internet.
E, já que era assim,
ela criou um site internacional, em inglês, para coletá-las de todo o mundo
falante dessa língua agora universal. Choveram piadas.
O sítio dela era acessado
mediante pagamento. Por quê pagar, se você podia obter de graça a graça na
Internet? O caso é que o dela era o mais amplo que existia, de longe o mais
completo, todo mês tinha coisa nova, por conseguinte as pessoas pagavam pela
novidade: podiam baixar e espalhar, mas se não fosse com o sinete da Romilda as
pessoas não gostavam, achavam banal. E esse plus mensal, esse “mais” que ela
tinha cuidado de colocar separando para adultos e crianças, leves e pesadas,
era realmente a atração. Ele recontava no português do Brasil as piadas
internacionais, por vezes as adaptando.
Show de bola.
Vivia disso,
literalmente a vida da Romilda era uma piada.
E a fome sexual
insaciável dela estava sempre sendo cortejada, agora que tinha além de apetite,
dinheiro.
Tem gente que não se
acha.
Já a Romilda se
achou.
Serra, quinta-feira,
05 de abril de 2012.