Vozes e Coletivos
Transparece cada vez
mais que muitas coisas atribuídas aos homens foram de invenção original das
mulheres.
Por exemplo, no
Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres coletoras os homens
(machos e pseudofêmeas) ficavam muito tempo fora espreitando, preparando
armadilhas, correndo atrás (literal e metaforicamente), atacando os animais
pequenos e grandes, descarnando-os, queimando-os, carregando-os de volta às
cavernas – não teriam tempo para muita coisa mais.
Ao passo que as
mulheres (fêmeas verdadeiramente e pseudomachos por imitação e inveja das
fêmeas), embora grávidas 100 % do tempo (tanto pelo emprenhamento constante
quanto por necessidade intrínseca) ainda podiam desenvolver uma relação
COLETIVA com o volume e o plano fora das cavernas, com os fungos, as plantas,
os animais, os primatas e as demais hominídeas (embora pouco, porque eram
competidoras), os objetos, tudo. Aliás, devia ser uma relação MUITO ÍNTIMA,
verdadeiramente apegada – o que, podemos pensar, leva a que as mulheres
desenvolvam até um extraordinário apego à vizinhança e ao espaço em geral.
Quem domesticou os
fungos, as plantas, os animais, os primatas, quem os tornou DO LAR? As
mulheres, é lógico. E elas inventaram então coletivos para eles e suas “vozes”,
interpretando em linguagem humana seus “falares” (inclusive, acredito, devem
existir em tais vozes restos de linguagem não-humanas, pré-sapiens, dos
hominídeos, coisas que não se encaixam nas línguas sobreviventes hoje, coisas
que vem “de nenhum lugar”, sem explicação).
AS VOZES HUMANAS DOS ANIMAIS
·
Acuar cachorro,
cão.
·
Aflautar,
agloterar ave.
·
Apupar gralha,
etc.
OS
COLETIVOS (a
feminilidade, humanidade feminina, coletiviza o mundo)
·
Abelhal abelhas
·
Alameda álamos
·
Aldeia índios,
etc.
Que sentido faria os homens acharem
coletivos se estavam caçando? No máximo grupos de animais de caça, coletivos de
presas (inclusive peixes e aves abatíveis) que podiam ser distinguidas daqueles
outros seres que permanecem parados, estáticos, sempre das mulheres. Ou seja,
coletivos dos homens são aqueles de viagem, enquanto os das mulheres são os
cíclicos, os que voltam sempre, que circulam e retornam ao ponto de partida,
nunca os que vencem longas distâncias. E todos os coletivos (digamos, os de
árvores, alameda, conjunto de álamos) de objetos serão sempre de mulheres, o
que coloca uma nova perspectiva: que parte do Dicionário original foi criação
das mulheres e que seção foi dos homens? Com quais palavras as mulheres terão
maior afinidade?
Ademais, a criação de palavras demanda
uma certa proximidade, convivência duradoura, o que quer dizer inequívoca
intimidade, pelo quê poderemos rastrear em testes de que criaturas as mulheres
longinquamente se sentiam achegadas e de quais se sentiam mais aparentadas,
quase como se fossem extensão da família. Através da detecção dessa proximidade
atual saberemos como era provavelmente o desenho da Caverna antiga.
Vitória, domingo, 25 de janeiro de
2004.
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