sábado, 6 de maio de 2017


Vozes e Coletivos

 

                            Transparece cada vez mais que muitas coisas atribuídas aos homens foram de invenção original das mulheres.

                            Por exemplo, no Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres coletoras os homens (machos e pseudofêmeas) ficavam muito tempo fora espreitando, preparando armadilhas, correndo atrás (literal e metaforicamente), atacando os animais pequenos e grandes, descarnando-os, queimando-os, carregando-os de volta às cavernas – não teriam tempo para muita coisa mais.

                            Ao passo que as mulheres (fêmeas verdadeiramente e pseudomachos por imitação e inveja das fêmeas), embora grávidas 100 % do tempo (tanto pelo emprenhamento constante quanto por necessidade intrínseca) ainda podiam desenvolver uma relação COLETIVA com o volume e o plano fora das cavernas, com os fungos, as plantas, os animais, os primatas e as demais hominídeas (embora pouco, porque eram competidoras), os objetos, tudo. Aliás, devia ser uma relação MUITO ÍNTIMA, verdadeiramente apegada – o que, podemos pensar, leva a que as mulheres desenvolvam até um extraordinário apego à vizinhança e ao espaço em geral.

                            Quem domesticou os fungos, as plantas, os animais, os primatas, quem os tornou DO LAR? As mulheres, é lógico. E elas inventaram então coletivos para eles e suas “vozes”, interpretando em linguagem humana seus “falares” (inclusive, acredito, devem existir em tais vozes restos de linguagem não-humanas, pré-sapiens, dos hominídeos, coisas que não se encaixam nas línguas sobreviventes hoje, coisas que vem “de nenhum lugar”, sem explicação).

                            AS VOZES HUMANAS DOS ANIMAIS

·        Acuar                                           cachorro, cão.

·        Aflautar, agloterar                   ave.

·        Apupar                                        gralha, etc.

OS COLETIVOS (a feminilidade, humanidade feminina, coletiviza o mundo)

·        Abelhal                                        abelhas

·        Alameda                                     álamos

·        Aldeia                                          índios, etc.

Que sentido faria os homens acharem coletivos se estavam caçando? No máximo grupos de animais de caça, coletivos de presas (inclusive peixes e aves abatíveis) que podiam ser distinguidas daqueles outros seres que permanecem parados, estáticos, sempre das mulheres. Ou seja, coletivos dos homens são aqueles de viagem, enquanto os das mulheres são os cíclicos, os que voltam sempre, que circulam e retornam ao ponto de partida, nunca os que vencem longas distâncias. E todos os coletivos (digamos, os de árvores, alameda, conjunto de álamos) de objetos serão sempre de mulheres, o que coloca uma nova perspectiva: que parte do Dicionário original foi criação das mulheres e que seção foi dos homens? Com quais palavras as mulheres terão maior afinidade?

Ademais, a criação de palavras demanda uma certa proximidade, convivência duradoura, o que quer dizer inequívoca intimidade, pelo quê poderemos rastrear em testes de que criaturas as mulheres longinquamente se sentiam achegadas e de quais se sentiam mais aparentadas, quase como se fossem extensão da família. Através da detecção dessa proximidade atual saberemos como era provavelmente o desenho da Caverna antiga.

Vitória, domingo, 25 de janeiro de 2004.

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