Sobresforço dos
Inférteis
Qual a utilidade dos
não-férteis (tanto homens quanto mulheres) para eles sobreviverem? Mesmo
vivendo 40 anos nos tempos antigos e comendo apenas um quilograma por dia, são
(40 x 365,25 =) quase 15 toneladas de alimentos numa vida, fora roupas e outros
objetos, um peso enorme para a coletividade. Mesmo contando que isso só vá ser
descoberto depois dos 13 (digamos 15), quando há o rito de passagem e os
meninos e as meninas podem começar a transar, pois nas sociedades antigas logo
ficava evidente quem podia e quem não podia ter filhos, ainda será muita coisa.
A tendência seria serem logo mortos pelos férteis e, por não terem
descendência, terminarem como vertente. Os genes que os férteis tivessem
produzido gerando infertilidade logo teriam sido cancelados pela Natureza. Por
quê esta manteve os inférteis como viáveis, isto é, por que conservou nos
férteis a produção de inférteis?
Deve haver
utilidade.
Penso que seria o
sobre-serviço, o excesso de trabalho que os inférteis fariam para compensar a
infertilidade, por assim dizer para pagar
a sobrevivência, o interesse da Natureza em produzi-los. Se for verdadeiro
será certo que poderemos rastrear nos não-férteis uma sobrecapacidade de
trabalho, uma insistência em trabalhar muito, que terá passado de geração em
geração, ou seja, quando os genes de infertilidade sejam postos no conjunto do
esparmatóvulo (espermatozóide + óvulo) também são carregados genes de
sobreatarefamento, superinteresse em trabalhar, aquela tal sublimação de que se
fala. E será também verdadeiro que os férteis, percebendo claramente isso,
tornam-se abusados, o que poderá ser igualmente rastreado nas coletividades através
da geo-história. Em resumo, devemos buscar as compensações devidas pelos
inférteis aos férteis e em cada sobrevivência um motivo de aptidão, isto é, por
quê o sobrevivente foi condecorado com sobrevivência?
Vitória,
quinta-feira, 22 de janeiro de 2004.
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