sábado, 6 de maio de 2017


Sobresforço dos Inférteis

 

                            Qual a utilidade dos não-férteis (tanto homens quanto mulheres) para eles sobreviverem? Mesmo vivendo 40 anos nos tempos antigos e comendo apenas um quilograma por dia, são (40 x 365,25 =) quase 15 toneladas de alimentos numa vida, fora roupas e outros objetos, um peso enorme para a coletividade. Mesmo contando que isso só vá ser descoberto depois dos 13 (digamos 15), quando há o rito de passagem e os meninos e as meninas podem começar a transar, pois nas sociedades antigas logo ficava evidente quem podia e quem não podia ter filhos, ainda será muita coisa. A tendência seria serem logo mortos pelos férteis e, por não terem descendência, terminarem como vertente. Os genes que os férteis tivessem produzido gerando infertilidade logo teriam sido cancelados pela Natureza. Por quê esta manteve os inférteis como viáveis, isto é, por que conservou nos férteis a produção de inférteis?

                            Deve haver utilidade.

                            Penso que seria o sobre-serviço, o excesso de trabalho que os inférteis fariam para compensar a infertilidade, por assim dizer para pagar a sobrevivência, o interesse da Natureza em produzi-los. Se for verdadeiro será certo que poderemos rastrear nos não-férteis uma sobrecapacidade de trabalho, uma insistência em trabalhar muito, que terá passado de geração em geração, ou seja, quando os genes de infertilidade sejam postos no conjunto do esparmatóvulo (espermatozóide + óvulo) também são carregados genes de sobreatarefamento, superinteresse em trabalhar, aquela tal sublimação de que se fala. E será também verdadeiro que os férteis, percebendo claramente isso, tornam-se abusados, o que poderá ser igualmente rastreado nas coletividades através da geo-história. Em resumo, devemos buscar as compensações devidas pelos inférteis aos férteis e em cada sobrevivência um motivo de aptidão, isto é, por quê o sobrevivente foi condecorado com sobrevivência?

                            Vitória, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004.

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