sábado, 6 de maio de 2017


Sexo Selvagem

 

                            Quando a Caverna geral é mostrada ela é idealizada ou é monstrualizada, transformada em monstruosa; creio agora que não foi nem uma coisa nem outra. No Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres coletoras ela parece crescentemente especializada, muito avançada para quem a pensava atrasada e ao mesmo tempo com possibilidades que nem de longe imaginamos.

                            Primeiro que não havia instituição religiosa para ditar normas de conduta, nem sábado nem domingo nem qualquer dia da semana, nem tabus alimentares ou outros, nem quaisquer restrições, que ainda seriam construídas no futuro; nem posse nem domínio, nem dificuldade nenhuma para transar ou fazer sexo, nem divisão familiar, nem pertencer a A ou a B por laços tais ou quais – tudo ainda era descoberta, de modo que coisas hoje inacreditáveis devem ter sido feitas.

                            Então, sexo era uma embolança danada, uma embolação inacreditável, todo mundo com todo mundo, pretendendo-se apenas produzir filhos a qualquer custo, na maior quantidade possível, as mulheres estando grávidas por 10 milhões de anos dos hominídeos e os 100, 50 ou 35 mil anos dos sapiens TODOS OS DIAS DO ANO; tão logo uma gravidez acabava já começava outra e isso desde a mais tenra infância das meninas.

                            Era seguramente o que poderíamos chamar de sexo selvagem; chegar ao sexo bárbaro, em que já havia algum gênero de controle deve ter sido uma vitória cultural dos sapiens. Seguindo a regra de todas menstruarem na caverna junto da Mãe Dominante, que tinha acesso a todos os machos viáveis, o resto era sexo todo o tempo, todo o dia e toda a noite, sempre que os machos guerreiros estavam de volta das caçadas. Só sendo assim poderemos entender como os sapiens se tornaram tantos em tão pouco tempo relativo, a ponto de segundo os cálculos dos cientistas já terem nascido 100 bilhões (dos quais 6,3 bilhões estão vivos agoraqui) de humanos.

                            Nossos avoengos não eram propriamente as peças finas que imaginávamos, aquelas coisinhas doces e carolas; pelo contrário, provavelmente teriam muito a nos ensinar, embora sem refinamento – muitas descobertas que se perderam no amortecimento e no refinamento civilizatório.

                            Vitória, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004.

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