sexta-feira, 5 de maio de 2017


A Faixa da Passagem Masculina

 

                            Mostra-se cada vez mais interessante o rito masculino de passagem, quando os meninos vão se tornar homens, porque até os 13 anos, digamos, eles estão sendo controlados pelas mulheres e sua Voz, ao passo que depois adquirem voz própria, de homens, assumindo toda uma série de posturas próprias de guerreiros. Hoje, quando as duas línguas estão fundidas e confundidas numa só, que é essa que conhecemos, a separação não é nítida, mas no tempo das cavernas era, e muito. Mulheres (fêmeas e pseudomachos), meninas, meninos só falavam a Língua das Mulheres quando os guerreiros estavam fora; só usavam a Língua dos Homens (machos e pseudofêmeas) quando estes voltavam, ao passo que os homens nunca entendiam o que elas falavam.

                            Ora, a Língua, sobre ser dialógica/p.6 e discursiva/X6, é psicologia, compõe as figuras ou psicanálises, os objetivos ou psico-sínteses, as produções ou economias, as organizações ou sociologias, os espaçotempos ou geo-histórias, quer dizer, EMBASAM TODO O PENSAR E O EMOCIONAR. Meninos pensavam como as mulheres até os 13, ao passo que depois deviam passar a pensar como homens, o que terá constituído um choque tremendo. As meninas não sofrem esse choque de transição, essa solução de continuidade, pois não há nenhum abismo entre um e outro lado, sobre o qual devam saltar; como o modelo é de soma zero 50/50, se os meninos são pressionados a dar o salto e isso constitui um prejuízo constitui um lucro também, quer dizer, a Natureza deve compensar o nosso lado de alguma maneira; só não pensei como, ainda. Meninas não sofrem, mas também não são beneficiadas. Jogar uma bomba (por exemplo, sobre o Japão, em Hiroshima e Nagasáki, na Segunda Guerra Mundial) significará depois pagar um preço. Não jogar nada não causa trauma, porém também não traz nenhum benefício posterior. O que os meninos ganham de tão distintivo, depois? Não faço a mínima idéia.

                            Em todo caso, devemos sofrer (embora não se realize mais o rito, a realização continuada dele durante os dez milhões de anos dos hominídeos e os 100, 50 ou 35 mil dos sapiens deixou rastros moleculares) nessa fase devem acontecer um punhado de pesadelos recorrentes de adolescência ligados à transformação, à metamorfose, o equivalente a retirar a pele feminina e vestir a pele nova masculina. ISSO NÃO FOI INVESTIGADO, essa brutal transformação psicológica, e principalmente que recursos a evolução proporcionou para tornar os adolescentes sobreviventes e mais aptos. Porisso a adolescência se configura para mim cada vez mais interessante, um fenômeno espantoso.

                            Vitória, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004.

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