segunda-feira, 1 de maio de 2017


Sangue do Cordeiro

 

                            Da música de João Bosco e Aldir Blanc, Agnus Sei.

                            “Faces sob o sol, os olhos na cruz” deve mostrar um soldado com um facho tridimensional, um cone de luz que emana de uma cruz de onde pende Jesus e vai aos olhos dele. “Os heróis do bem... a conversão para os infiéis” mostrará cenas da Guerra do Golfo de 1991 e da Guerra do Iraque de 2003. “Na ponta dos aríetes” mostrará os canos dos canhões dos tanques. “Na fumaça negra vinda na brisa da manhã” as destruições por bombas, “ah, como é difícil tornar-se herói”, pende a cabeça. Não podendo guerrear os religiosos de todas as religiões (nitidamente católicos, muçulmanos, budistas, hinduístas, etc.) em volta da mesma mesa redonda rezando ajoelhados: “Só quem tentou sabe como dói vencer Satã só com orações”.  “Que Deus tudo vê” deve colocar inúmeros olhos imensos em volta de todo o teatro. “Todos esses anos agnus sei que sou também/ mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei/ da arma oculta em sua mão”. Mostra as cúpulas dos palácios dos governos (as fachadas mais notáveis, como o Capitólio romano-americano), presidentes e mandatários discursando e mal-disfarçadas muitas armas que despontam de todo o corpo.

“Meu profano amor eu prefiro assim/ a nudez sem véus diante da Santa AQUISIÇÃO”, muda a palavra de inquisição para essa; e o ator-cantor vai se despindo, ficando de tanga (não é o objetivo mostrar nada de ninguém). Quando diga “a nudez sem véus” estende as mãos, que são algemadas, sendo ele suspenso, mas continuando a cantar desbragadamente, e aí desce.

                            Aponta para a platéia: “Ah, o tribunal não recordará dos fugitivos de Sangri-lá”, de Sangri-aqui, aqui mesmo, “o tempo vence toda a ilusão”.

                            Termina o soldado aos berros, gritando a plenos pulmões: “ê mandar, ê matar, RESPONDEREI NÃO”. Repete, repete, repete NÃO várias vezes.

                            Vitória, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004.

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