Sangue do Cordeiro
Da música de João
Bosco e Aldir Blanc, Agnus Sei.
“Faces sob o sol, os
olhos na cruz” deve mostrar um soldado com um facho tridimensional, um cone de
luz que emana de uma cruz de onde pende Jesus e vai aos olhos dele. “Os heróis
do bem... a conversão para os infiéis” mostrará cenas da Guerra do Golfo de
1991 e da Guerra do Iraque de 2003. “Na ponta dos aríetes” mostrará os canos
dos canhões dos tanques. “Na fumaça negra vinda na brisa da manhã” as
destruições por bombas, “ah, como é difícil tornar-se herói”, pende a cabeça. Não
podendo guerrear os religiosos de todas as religiões (nitidamente católicos,
muçulmanos, budistas, hinduístas, etc.) em volta da mesma mesa redonda rezando
ajoelhados: “Só quem tentou sabe como dói vencer Satã só com orações”. “Que Deus tudo vê” deve colocar inúmeros
olhos imensos em volta de todo o teatro. “Todos esses anos agnus sei que sou
também/ mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei/ da
arma oculta em sua mão”. Mostra as cúpulas dos palácios dos governos (as
fachadas mais notáveis, como o Capitólio romano-americano), presidentes e
mandatários discursando e mal-disfarçadas muitas armas que despontam de todo o
corpo.
“Meu profano amor eu prefiro assim/ a
nudez sem véus diante da Santa AQUISIÇÃO”, muda a palavra de inquisição para
essa; e o ator-cantor vai se despindo, ficando de tanga (não é o objetivo
mostrar nada de ninguém). Quando diga “a nudez sem véus” estende as mãos, que
são algemadas, sendo ele suspenso, mas continuando a cantar desbragadamente, e
aí desce.
Aponta para a
platéia: “Ah, o tribunal não recordará dos fugitivos de Sangri-lá”, de
Sangri-aqui, aqui mesmo, “o tempo vence toda a ilusão”.
Termina o soldado
aos berros, gritando a plenos pulmões: “ê mandar, ê matar, RESPONDEREI NÃO”.
Repete, repete, repete NÃO várias vezes.
Vitória, quarta-feira,
14 de janeiro de 2004.
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