segunda-feira, 1 de maio de 2017


Caverna Aconchegante

 

                            Em termos de proximidade e aconchego-do-lar as cavernas eram muito melhores que as nossas casas atuais, DE LONGE; sentimos, em nossos inconscientes, saudades incuráveis delas.

                            Elas não eram coisas sujas, emporcalhadas – não podiam ser. Pelo contrário, deviam ser cheirosas e limpinhas, muito intimistas, com as mulheres limpando-as continuamente, centena de ano após centena de anos, nos dez milhões de anos em que estiveram em poder dos hominídeos. Só quando os sapiens surgiram há 100, 50 ou 35 mil anos atrás é que elas se tornaram pequenas e acanhadas, sendo a muito custo e com grande sofrimento abandonadas; depois disso a Natureza voltou a destruí-las, a arrasá-las, a sujá-las, como casas que ficassem 10 mil séculos abandonadas – ninguém estranharia.

                            Pela lógica as cavernas (eram uma espécie de herança grupal) tinham de ser bem limpinhas, cheirosas (com todo tipo de cheiros coletados nas redondezas), com muitos milhares de objetos (depois levados para as novas casas construídas nas migrações), todo tipo de beleza. Na realidade estamos sempre tentando fazer nossas casas ficarem parecidas com as cavernas e acredito agora que a grande saudade é a de viver comunitariamente, em grande coletividade. Pelo menos é o que tentamos conseguir durante muito tempo em nossa família ampla, com grande desgosto tendo perdido aquele tempo.

                            Ora, se aquelas cavernas forem buscadas serão achadas – as mulheres devem ter arredondado as pontas de tanto varrer dentro e nas imediações, o que será ainda parcialmente visível, mesmo com a degeneração promovida pela Natureza. Os 100 mil anos sapiens não podem ter destruído os 10.000 mil dos hominídeos, 100 vezes tanto quanto. Então, se procurarem com diligência acharão, sem dúvida alguma.

                            É claro que a produçãorganização ou socioeconomia mundial deverão re-programar nossas casas para se parecerem mais com as antigas cavernas.

                            Vitória, sábado, 17 de janeiro de 2004.

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