domingo, 28 de agosto de 2016


Escola de Motos

 

Era uma escola muito bonita, com os lugares de estacionamento das motos legais, com grama do lado, com as baias para cada uma.

A escola em si era bem grande, com salas e mais salas de aula, um mundo, com rampas, com tudo que tem direito, com instrutores bacanas e bem apanhados. A Harley Davidson estava lá, antiga, mas bonitaça, toda inteiraça depois do check-up. Fazia presença, de impor respeito.

Tinha as porqueirazinhas, novinhas ainda pirralhas, nem davam pro gasto, ciclomotores.

Tinha as estrangeiras, 750, imponentes.

O professor chegou à porta e falou grosso e ríspido, aquele vozeirão de deixar a gente sem graça, toda lubrificada.

PROFESSOR – para quem não me conhece sou O Professor e exijo respeito.

Quase derreti, ai.

PROFESSOR – Todo mundo de frente pra cá, vamos parar aí com a falação, todo mundo de olho no quadro negro.

HARLEY (como se fosse alguma mocinha charmosa) – Eu também, professor?

PROFESSOR – a senhora também, não tem regalia aqui pra ninguém, não. A senhora pode ser famosa, mas direção defensiva faz bem a todas, de todas as idades e potências. (ENFEZADO, MUITO SÉRIO, CARRANCUDO MESMO) – turma, é para andar em corredor de carros?

TURMA (a todo pulmão, querendo agradar o mestre) – não, fessô.

PROFESSOR (rindo) – é para fazer zig-zag na pista?

TURMA (rindo também) – não, fessô.

PROFESSOR (feliz da aceitação) – é para andar rápido onde tem pedregulhos?

DONA HONDA (sôfrega) – não, fessôzinho!

PROFESSOR (cortando) – dona Honda, a senhora que é maior e mais poderosa, dê exemplo pras mocinhas aqui presente, não se antecipe, se faz favor. Perguntei pra toda a turma. E aí, turma?

TURMA (rindo, ganindo, se divertindo com o atrapalhamento da japonesa) – NÃO, FESSÔ!

DONA HONDA (sem graça) – foi a Yamaha que me cutucou.

PROFESSOR – não interessa, toda a turma tem de participar. É para dar rabeada? Já que a senhora gosta tanto de se projetar, dona Honda, diga.

DONA HONDA (cabeça baixa) – não, professor, rabear nunca, se o patrão insistir, desligar o motor.

PROFRESSOR – muito bem, dona Honda. E a senhora pare de cutucá-la, dona Yamaha, senão mando para a oficina do diretor.

DONA YAMAHA – isso não, Professor.

PROFESSOR – e as brasileirinhas lá dos fundos, senhoritas Agrale, Cagiva, Zanella? O que tem pra dizer?

AS TRÊS (em uníssono) – a gente não tem muito a dizer, não, Professor, estamos mais aprendendo. Estamos prestando atenção tentando dar o melhor de nós (parecia tudo ensaiado).

PROFESSOR – então, gente, CORREDOR DE CARROS, NUNCA. Andar na chuva só com muito cuidado. Nunca dar tudo de si, para evitar dar aos donos excesso de expectativas. Nas competições o máximo de cautela e é só para as experimentadas. Deitar nas curvas com os patrões só com o MÁXIMO de prudência, com proteção. Alguma pergunta a mais, por hoje?

A TURMA TODA – não, fessô.

PROFESSOR – certo, amanhã vamos falar de cilindradas.

VIXON (francesa, toda melindrosa) – ai, professor, isso morde (ri)? Tô brincando, fessô.

FERRARI (toda coquete, jogando charme) – vamos dar uma festa lá em casa hoje, quer ir professor?

TODAS – vai professor. (FAZENDO CORO) Vai, vai, vai.

PROFESSOR – tá bom. Vou com tudo, tá bem? Vou levar meus amigos, vamos entrar arrebentando.

TODAS – ui.

Serra, sábado, 14 de janeiro de 2012.

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