Escola de Motos
Era uma escola muito bonita, com os lugares
de estacionamento das motos legais, com grama do lado, com as baias para cada
uma.
A escola em si era bem grande, com salas e
mais salas de aula, um mundo, com rampas, com tudo que tem direito, com
instrutores bacanas e bem apanhados. A Harley Davidson estava lá, antiga, mas
bonitaça, toda inteiraça depois do check-up. Fazia presença, de impor respeito.
Tinha as porqueirazinhas, novinhas ainda
pirralhas, nem davam pro gasto, ciclomotores.
Tinha as estrangeiras, 750, imponentes.
O professor chegou à porta e falou grosso e
ríspido, aquele vozeirão de deixar a gente sem graça, toda lubrificada.
PROFESSOR – para quem não me conhece sou O
Professor e exijo respeito.
Quase derreti, ai.
PROFESSOR – Todo mundo de frente pra cá,
vamos parar aí com a falação, todo mundo de olho no quadro negro.
HARLEY (como se fosse alguma mocinha
charmosa) – Eu também, professor?
PROFESSOR – a senhora também, não tem regalia
aqui pra ninguém, não. A senhora pode ser famosa, mas direção defensiva faz bem
a todas, de todas as idades e potências. (ENFEZADO, MUITO SÉRIO, CARRANCUDO
MESMO) – turma, é para andar em corredor de carros?
TURMA (a todo pulmão, querendo agradar o
mestre) – não, fessô.
PROFESSOR (rindo) – é para fazer zig-zag na
pista?
TURMA (rindo também) – não, fessô.
PROFESSOR (feliz da aceitação) – é para andar
rápido onde tem pedregulhos?
DONA HONDA (sôfrega) – não, fessôzinho!
PROFESSOR (cortando) – dona Honda, a senhora
que é maior e mais poderosa, dê exemplo pras mocinhas aqui presente, não se
antecipe, se faz favor. Perguntei pra toda a turma. E aí, turma?
TURMA (rindo, ganindo, se divertindo com o
atrapalhamento da japonesa) – NÃO, FESSÔ!
DONA HONDA (sem graça) – foi a Yamaha que me
cutucou.
PROFESSOR – não interessa, toda a turma tem
de participar. É para dar rabeada? Já que a senhora gosta tanto de se projetar,
dona Honda, diga.
DONA HONDA (cabeça baixa) – não, professor,
rabear nunca, se o patrão insistir, desligar o motor.
PROFRESSOR – muito bem, dona Honda. E a
senhora pare de cutucá-la, dona Yamaha, senão mando para a oficina do diretor.
DONA YAMAHA – isso não, Professor.
PROFESSOR – e as brasileirinhas lá dos
fundos, senhoritas Agrale, Cagiva, Zanella? O que tem pra dizer?
AS TRÊS (em uníssono) – a gente não tem muito
a dizer, não, Professor, estamos mais aprendendo. Estamos prestando atenção
tentando dar o melhor de nós (parecia tudo ensaiado).
PROFESSOR – então, gente, CORREDOR DE CARROS,
NUNCA. Andar na chuva só com muito cuidado. Nunca dar tudo de si, para evitar
dar aos donos excesso de expectativas. Nas competições o máximo de cautela e é
só para as experimentadas. Deitar nas curvas com os patrões só com o MÁXIMO de
prudência, com proteção. Alguma pergunta a mais, por hoje?
A TURMA TODA – não, fessô.
PROFESSOR – certo, amanhã vamos falar de
cilindradas.
VIXON (francesa, toda melindrosa) – ai,
professor, isso morde (ri)? Tô brincando, fessô.
FERRARI (toda coquete, jogando charme) –
vamos dar uma festa lá em casa hoje, quer ir professor?
TODAS – vai professor. (FAZENDO CORO) Vai,
vai, vai.
PROFESSOR – tá bom. Vou com tudo, tá bem? Vou
levar meus amigos, vamos entrar arrebentando.
TODAS – ui.
Serra, sábado, 14 de janeiro de 2012.
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