Filme Preto é Branco
Alguém teve a idéia maluca de fazer
filmes não em P&B (preto & branco), mas trocando exatamente os papéis,
colocando os pretos nos lugares dos brancos e vice-versa, os índios ficando em
suas posições e os asiáticos nas deles. Casablanca, ...E o Vento Levou, Perdidos no
Espaço, Vale das Bonecas, tudo, tudo mesmo passou a ser motivo de
investidas.
A coisa começou com algum negro
querendo expor aos brancos as vidas de seus antepassados escravizados e
maltratados, no primeiro filme seguindo exatamente as posições PRETO É BRANCO e
vice-versa, BRANCO É PRETO. Os mestiços, evidentemente, continuaram como tais,
exceto que se mais brancos ficavam mais pretos e o contrário.
Os asiáticos aproveitaram a deixa para
cutucar os brancos por suas invasões no Oriente. Os cineastas indígenas e
simpatizantes se meteram também, para lembrar os ataques brancos nas
descobertas das Américas do Norte, Central e do Sul.
E tome filme.
Guerra nas Estrelas, quarto episódio, e os demais exatamente
na mesma ordem de lançamento. Sete Homens e um Destino, cópia do
Kurosawa Os 7 Samurais. Cidadão Kane, um ícone, 2010,
uma Odisséia no Espaço. A coisa foi longe, lançamento após lançamento.
No princípio soou como uma revolução, as pessoas aplaudiam e os brancos não se
incomodavam, eram outros tempos. Depois começou a insistência na representação,
a repetição, e logo vieram os acintes, as agressões, a malícia e a malignidade
deslavada.
Os brancos começaram a se sentir mal
ao serem apontados nas ruas.
Afinal de contas, disseram, os brancos
trabalharam muito através da história e a grande maioria teve antepassados escravizados.
Quando alguns ousados falaram em os
brancos “aproveitarem as lições do gueto”, a coisa estourou, aconteceram
depredações. Os brancos mais extremados acharam-se no direito de assumir as
posturas dos Panteras Negras e passaram a se chamar Panteras Brancas, grupos de
extrema direita saindo à noite para linchar, como fazia a antiga Klux Klux
Klan. Lembre-se que os juízes nos tribunais não tinham virado pretos,
continuavam brancos, porisso fecharam os olhos às atrocidades. Os policiais
eram, em sua maioria e nos EUA, brancos, assim como empresários, estudiosos e
outros. Em países como o Brasil, onde os brancos (mestiçados) eram então 50 %,
os negros 6 % e os mestiços 44 % a coisa pegou mesmo, pois os pretos ficaram
mais furiosos, o mesmo acontecendo na hispano-América e em ambos os lugares os
brancos reagiram com violência.
O resultado do que havia começado como
brincadeira foi um saldo de centenas de milhares de mortos, milhões de feridos
e regressão dos programas de aproximação. Nas famílias de mestiços de brancos e
pretos o resultado foi pior, pois pai ou mãe era branco ou preto: aqui o
resultado foi a dilaceração total, com uma quantidade cada vez maior de divórcios
e filhos cuidados pelo Estado.
Alguém se lembrou que a origem de tudo
tinha sido o cinema e outro perguntou pela responsabilidade dos cineastas e da
indústria cinematográfica. Grupos voltaram-se então para eles, espancando-os
barbaramente nas ruas, depredando suas casas, destruindo seus veículos,
destruindo seus bens. Como sempre, em todo lugar havia preto ou branco
trabalhando para a gente de cinema, foi um desastre de proporções épicas,
filmado depois do abrandamento, muitas décadas no futuro.
A lição foi dolorosa.
Vitória, segunda-feira, 14 de junho de
2010.
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