segunda-feira, 29 de agosto de 2016


Filme Preto é Branco

 

Alguém teve a idéia maluca de fazer filmes não em P&B (preto & branco), mas trocando exatamente os papéis, colocando os pretos nos lugares dos brancos e vice-versa, os índios ficando em suas posições e os asiáticos nas deles. Casablanca, ...E o Vento Levou, Perdidos no Espaço, Vale das Bonecas, tudo, tudo mesmo passou a ser motivo de investidas.

A coisa começou com algum negro querendo expor aos brancos as vidas de seus antepassados escravizados e maltratados, no primeiro filme seguindo exatamente as posições PRETO É BRANCO e vice-versa, BRANCO É PRETO. Os mestiços, evidentemente, continuaram como tais, exceto que se mais brancos ficavam mais pretos e o contrário.

Os asiáticos aproveitaram a deixa para cutucar os brancos por suas invasões no Oriente. Os cineastas indígenas e simpatizantes se meteram também, para lembrar os ataques brancos nas descobertas das Américas do Norte, Central e do Sul.

E tome filme.

Guerra nas Estrelas, quarto episódio, e os demais exatamente na mesma ordem de lançamento. Sete Homens e um Destino, cópia do Kurosawa Os 7 Samurais. Cidadão Kane, um ícone, 2010, uma Odisséia no Espaço. A coisa foi longe, lançamento após lançamento. No princípio soou como uma revolução, as pessoas aplaudiam e os brancos não se incomodavam, eram outros tempos. Depois começou a insistência na representação, a repetição, e logo vieram os acintes, as agressões, a malícia e a malignidade deslavada.

Os brancos começaram a se sentir mal ao serem apontados nas ruas.

Afinal de contas, disseram, os brancos trabalharam muito através da história e a grande maioria teve antepassados escravizados.

Quando alguns ousados falaram em os brancos “aproveitarem as lições do gueto”, a coisa estourou, aconteceram depredações. Os brancos mais extremados acharam-se no direito de assumir as posturas dos Panteras Negras e passaram a se chamar Panteras Brancas, grupos de extrema direita saindo à noite para linchar, como fazia a antiga Klux Klux Klan. Lembre-se que os juízes nos tribunais não tinham virado pretos, continuavam brancos, porisso fecharam os olhos às atrocidades. Os policiais eram, em sua maioria e nos EUA, brancos, assim como empresários, estudiosos e outros. Em países como o Brasil, onde os brancos (mestiçados) eram então 50 %, os negros 6 % e os mestiços 44 % a coisa pegou mesmo, pois os pretos ficaram mais furiosos, o mesmo acontecendo na hispano-América e em ambos os lugares os brancos reagiram com violência.

O resultado do que havia começado como brincadeira foi um saldo de centenas de milhares de mortos, milhões de feridos e regressão dos programas de aproximação. Nas famílias de mestiços de brancos e pretos o resultado foi pior, pois pai ou mãe era branco ou preto: aqui o resultado foi a dilaceração total, com uma quantidade cada vez maior de divórcios e filhos cuidados pelo Estado.

Alguém se lembrou que a origem de tudo tinha sido o cinema e outro perguntou pela responsabilidade dos cineastas e da indústria cinematográfica. Grupos voltaram-se então para eles, espancando-os barbaramente nas ruas, depredando suas casas, destruindo seus veículos, destruindo seus bens. Como sempre, em todo lugar havia preto ou branco trabalhando para a gente de cinema, foi um desastre de proporções épicas, filmado depois do abrandamento, muitas décadas no futuro.

A lição foi dolorosa.

Vitória, segunda-feira, 14 de junho de 2010.

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