O Homem que Gostava de Levar Chifre
O povo torcia o nariz quando Maicon
passava.
Ele não dava a mínima bola.
Gosto é gosto e ninguém tem nada com
isso.
Mês após mês Maicon era um homem feliz
com a esposa e as crianças, com seu sustento. E se o povo sentia repugnância o
problema era dele.
Maicon levava chifre. E daí?
Os chifres fediam. E daí?
Muitas coisas podiam ser feitas com
chifres, de botões a pentes. Naturalmente os chifres tinham ainda restos de
carne dos animais e passado algum tempo teriam mesmo de feder. Era, por si, uma
profissão digna, embora Maicon não gostasse de ver animais mortos, mesmo se
para alimentação. A família toda era vegetariana e tinha lhe calhado - como
carma na vida - JUSTAMENTE ver os animais sendo mortos, pois quando ia comprar os
chifres sempre estavam assassinando alguns, a qualquer hora do dia.
Os animais são nossos inimigos?
No entanto, travamos uma guerra
ininterrupta com eles. Nós os comemos, quando muito mais cedo em nossa história
poderíamos ter desenvolvido alimentação à base de vegetais, como fizemos com as
vitaminas artificiais e sintéticas. Ainda há gente vestindo animais mortos.
São, sim, porque dentro das peles curtidas estão em virtual os animais
assassinados para fornecê-las.
Bem pensando, talvez haja justiça
nisso de ele, como vegetariano, ser obrigado a viver da morte dos animais e de
vê-las todos os dias: pois se fosse outro, alguém indiferente, não teria
começado a luta que Maicon começou, junto de sua família.
Pois não somente Maicon parou de ser
responsável pelos chifres alheios, tendo passado a outra profissão, como também
o fato de estar quase diariamente diante desse morticínio levou-o irado a
produzir camisas, botões, pôsteres, santinhos e propaganda à farta contra a
matança. Acabou sensibilizando professores universitários e abriu várias
frentes de luta na cidade, o que acabou se espalhando nas redondezas.
Vitória, quinta-feira, 17 de junho de
2010.
Anexo
Usos dos Chifres
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Milhões de Animais Mortos
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