terça-feira, 30 de agosto de 2016


O Homem que Gostava de Levar Chifre

 

O povo torcia o nariz quando Maicon passava.

Ele não dava a mínima bola.

Gosto é gosto e ninguém tem nada com isso.

Mês após mês Maicon era um homem feliz com a esposa e as crianças, com seu sustento. E se o povo sentia repugnância o problema era dele.

Maicon levava chifre. E daí?

Os chifres fediam. E daí?

Muitas coisas podiam ser feitas com chifres, de botões a pentes. Naturalmente os chifres tinham ainda restos de carne dos animais e passado algum tempo teriam mesmo de feder. Era, por si, uma profissão digna, embora Maicon não gostasse de ver animais mortos, mesmo se para alimentação. A família toda era vegetariana e tinha lhe calhado - como carma na vida - JUSTAMENTE ver os animais sendo mortos, pois quando ia comprar os chifres sempre estavam assassinando alguns, a qualquer hora do dia.

Os animais são nossos inimigos?

No entanto, travamos uma guerra ininterrupta com eles. Nós os comemos, quando muito mais cedo em nossa história poderíamos ter desenvolvido alimentação à base de vegetais, como fizemos com as vitaminas artificiais e sintéticas. Ainda há gente vestindo animais mortos. São, sim, porque dentro das peles curtidas estão em virtual os animais assassinados para fornecê-las.

Bem pensando, talvez haja justiça nisso de ele, como vegetariano, ser obrigado a viver da morte dos animais e de vê-las todos os dias: pois se fosse outro, alguém indiferente, não teria começado a luta que Maicon começou, junto de sua família.

Pois não somente Maicon parou de ser responsável pelos chifres alheios, tendo passado a outra profissão, como também o fato de estar quase diariamente diante desse morticínio levou-o irado a produzir camisas, botões, pôsteres, santinhos e propaganda à farta contra a matança. Acabou sensibilizando professores universitários e abriu várias frentes de luta na cidade, o que acabou se espalhando nas redondezas.

Vitória, quinta-feira, 17 de junho de 2010.

 

Anexo

Usos dos Chifres
Milhões de Animais Mortos

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