Férias de Corpo
- Como foram suas férias?
- Legal demais, peguei um cara
saradão, e ainda por cima galã e me dei bem pra caramba, tracei umas 18 em 30
dias. O camaradinha é rico pra caramba, me fiz.
- E ele?
- Bem, tenho 120 kg e embora não seja
pobre não sou rico. Mas, quer saber, depois das destrocas conversamos e ele
ainda me agradeceu.
- Difícil de acreditar.
- Também pra mim foi difícil. Fazer o
quê, tem gosto pra tudo. Falou das vantagens da minha vida, de poder comer sem
qualquer responsabilidade, dormir até tarde, beber até cair.
- Como, sem responsabilidade? E as
operações de ponte de safena e braquioradiais que você fez?
- Ele chamou de “experiências”. Tem
doido pra tudo. Até gostou de tomar os remédios, que merda. Verifiquei se ele
tinha seguido direitinho as horas de tomar e seguiu sim, você acredita?
- Conta mais, conta mais... Faturou,
hem?
- Bem, demora tempo contar tudo, eu
fiz um relato senão ninguém iria acreditar. Vou enviar pra você, dia a dia, só
troquei os nomes, claro, você entende. Saradão e não era boiola. ME DEI BEM
DEMAIS.
- Claro, tá na cara, também troco os
nomes. Já peguei um ministro americano, as cagadas que ele fazia! Era de
arrepiar. Eu tinha todas as memórias dele junto com minha vontade transferida,
mas sem dúvida alguma os “grandes” fazem tanta merda que é difícil crer. Tem
toda uma linha, tenho listado todas essas trapalhadas deles país por país,
desde séculos atrás, para entender não propriamente a política de ocultamento
deles, enquanto indivíduos, mas a razão de os governos e o capitalismo
permitirem e até estimularem com a indiferença e a impunidade.
- Voltando ao assunto, que invenção,
hem, o transferidor?
- É mesmo.
- E que tenham deixado aplicar é mais
incrível ainda: trocar com um presidiário é perigoso, só tem havido algumas
experiências-teste com sociólogos idiotas e psicólogos mais idiotas ainda,
antropólogos, gente desocupada assim, e do outro lado acompanhamento de perto
pelos policiais, só com presidiários-modelos, mas mesmo assim, é um risco.
- Sem falar nas vezes em que a gente
troca com mulher, é desconfortável demais.
- Andei lendo incorporações que elas
descrevem, de trocarem com homens, o desconforto e a sujeira, cuspir na rua,
ficar cheio de pelos, mijar fora da borda dos vasos, elas sentem mais horror do
que nós.
- Você vai ao estádio domingo?
- Sei não, a emoção de estar lá é
grande, é inigualável xingar o juiz e os bandeirinhas, extravasar, mas acho que
vou ficar com o telão 3D.
Serra, domingo, 13 de junho de 2010.
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