segunda-feira, 29 de agosto de 2016


Férias de Corpo

 

- Como foram suas férias?

- Legal demais, peguei um cara saradão, e ainda por cima galã e me dei bem pra caramba, tracei umas 18 em 30 dias. O camaradinha é rico pra caramba, me fiz.

- E ele?

- Bem, tenho 120 kg e embora não seja pobre não sou rico. Mas, quer saber, depois das destrocas conversamos e ele ainda me agradeceu.

- Difícil de acreditar.

- Também pra mim foi difícil. Fazer o quê, tem gosto pra tudo. Falou das vantagens da minha vida, de poder comer sem qualquer responsabilidade, dormir até tarde, beber até cair.

- Como, sem responsabilidade? E as operações de ponte de safena e braquioradiais que você fez?

- Ele chamou de “experiências”. Tem doido pra tudo. Até gostou de tomar os remédios, que merda. Verifiquei se ele tinha seguido direitinho as horas de tomar e seguiu sim, você acredita?

- Conta mais, conta mais... Faturou, hem?

- Bem, demora tempo contar tudo, eu fiz um relato senão ninguém iria acreditar. Vou enviar pra você, dia a dia, só troquei os nomes, claro, você entende. Saradão e não era boiola. ME DEI BEM DEMAIS.

- Claro, tá na cara, também troco os nomes. Já peguei um ministro americano, as cagadas que ele fazia! Era de arrepiar. Eu tinha todas as memórias dele junto com minha vontade transferida, mas sem dúvida alguma os “grandes” fazem tanta merda que é difícil crer. Tem toda uma linha, tenho listado todas essas trapalhadas deles país por país, desde séculos atrás, para entender não propriamente a política de ocultamento deles, enquanto indivíduos, mas a razão de os governos e o capitalismo permitirem e até estimularem com a indiferença e a impunidade.

- Voltando ao assunto, que invenção, hem, o transferidor?

- É mesmo.

- E que tenham deixado aplicar é mais incrível ainda: trocar com um presidiário é perigoso, só tem havido algumas experiências-teste com sociólogos idiotas e psicólogos mais idiotas ainda, antropólogos, gente desocupada assim, e do outro lado acompanhamento de perto pelos policiais, só com presidiários-modelos, mas mesmo assim, é um risco.

- Sem falar nas vezes em que a gente troca com mulher, é desconfortável demais.

- Andei lendo incorporações que elas descrevem, de trocarem com homens, o desconforto e a sujeira, cuspir na rua, ficar cheio de pelos, mijar fora da borda dos vasos, elas sentem mais horror do que nós.

- Você vai ao estádio domingo?

- Sei não, a emoção de estar lá é grande, é inigualável xingar o juiz e os bandeirinhas, extravasar, mas acho que vou ficar com o telão 3D.

Serra, domingo, 13 de junho de 2010.

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