O Anjo Gordo
Todo anjo que a gente vê desenhado é
magro, apresente-se como homem ou como mulher – infalivelmente magro. Nunca
alguém terá visto um anjo gordo, porém este em particular, era. Imenso de
gordo, como diz o povo, um anjo balofo, obeso mesmo e não apenas “fofo” como o
ex-Ronaldinho, depois Ronaldo, o Fofucho, fofo-gorducho.
Era gordo mesmo.
Dava até dó, porisso não era escalado
para muitas missões, já que sempre chegava atrasado, tendo que voar levando
toda aquela banha junto. É porisso que os anjos são magros, eles devem levar o
peso, e para peso muito grande asas muito grandes. Contudo, as asas que a gente
vê nas representações são sempre do mesmo tamanho, padronizadas, não iria a
fábrica de Deus colocar a circular asas despadronizadas, todas esquisitaças,
ridículas – nem pensar! Eram asas padrão as do AG (anjo gordo).
Nem o anjo gordo podia voar muito
alto, pois ele cansava à beça. Deus ria de não mais poder e não cuidava de
emagrecer o pobre infeliz, sempre motivo de gozação infinita entre os outros.
Afinal de contas mantinha o bom-humor da tropa e o moral alto. Muitos serviços
prestava a imensa gordura do anjo gordo, além de servir de lição para o
demente.
Lá ia ele, descendo um pouquinho e
subindo um pouquinho a cada batida das asas, ouvindo em surdinha os risinhos
dos demais. Sempre chegava atrasado, as coisas já tinham acontecido, já tinham
degringolado, o sujeito tinha morrido, a bicicleta entortara o pneu, o anjo de
guarda não guardara nada. A chacota era geral. Uns o chamavam de Bolão, outros
de Melancia (depois da fama da mulher melancia) e por aí a fora.
Quando ia passar uma parede (pois não
cabia nas portas) o tempo de passagem era demorado e ele ficava preso. De
qualquer forma Deus só lhe dava as missões sem necessidade de eficácia. Não
havia como tirar o anjo daquela fixação pelo MacDanado, vivia comendo
sanduíches de lá e foi inchando, inchando, inchando. Como anjo não morre nem
fica doente, o único efeito era a visível forma duma gordura cada vez maior. Se
anjo pesasse aquele passaria fácil de 270 kg. Os outros anjos, de gozação,
amarravam corda nele e fingiam estar puxando com força a baleia, até se
inclinando para trás na corda. Ou então formavam um grupo e tentavam empurrar,
depois riam e riam e riam, rolando no chão. Não é que um dia, voltando
atrapalhado de outra missão fracassada passou perto de uma carreata e desviou o
braço que disparava a bala que mataria o Santo Padre? Deus escreve certo por
linhas tortas. Tinha havido um problema qualquer com o anjo magro encarregado e
foi o gordo que salvou o dia.
MORAL DA HISTÓRIA: não se avexe de sua
condição. Mas, se você quer participar mais, seja magro e bem-disposto.
Vitória, segunda-feira, 14 de junho de
2010
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