terça-feira, 30 de agosto de 2016


O Anjo Gordo

 

Todo anjo que a gente vê desenhado é magro, apresente-se como homem ou como mulher – infalivelmente magro. Nunca alguém terá visto um anjo gordo, porém este em particular, era. Imenso de gordo, como diz o povo, um anjo balofo, obeso mesmo e não apenas “fofo” como o ex-Ronaldinho, depois Ronaldo, o Fofucho, fofo-gorducho.

Era gordo mesmo.

Dava até dó, porisso não era escalado para muitas missões, já que sempre chegava atrasado, tendo que voar levando toda aquela banha junto. É porisso que os anjos são magros, eles devem levar o peso, e para peso muito grande asas muito grandes. Contudo, as asas que a gente vê nas representações são sempre do mesmo tamanho, padronizadas, não iria a fábrica de Deus colocar a circular asas despadronizadas, todas esquisitaças, ridículas – nem pensar! Eram asas padrão as do AG (anjo gordo).

Nem o anjo gordo podia voar muito alto, pois ele cansava à beça. Deus ria de não mais poder e não cuidava de emagrecer o pobre infeliz, sempre motivo de gozação infinita entre os outros. Afinal de contas mantinha o bom-humor da tropa e o moral alto. Muitos serviços prestava a imensa gordura do anjo gordo, além de servir de lição para o demente.

Lá ia ele, descendo um pouquinho e subindo um pouquinho a cada batida das asas, ouvindo em surdinha os risinhos dos demais. Sempre chegava atrasado, as coisas já tinham acontecido, já tinham degringolado, o sujeito tinha morrido, a bicicleta entortara o pneu, o anjo de guarda não guardara nada. A chacota era geral. Uns o chamavam de Bolão, outros de Melancia (depois da fama da mulher melancia) e por aí a fora.

Quando ia passar uma parede (pois não cabia nas portas) o tempo de passagem era demorado e ele ficava preso. De qualquer forma Deus só lhe dava as missões sem necessidade de eficácia. Não havia como tirar o anjo daquela fixação pelo MacDanado, vivia comendo sanduíches de lá e foi inchando, inchando, inchando. Como anjo não morre nem fica doente, o único efeito era a visível forma duma gordura cada vez maior. Se anjo pesasse aquele passaria fácil de 270 kg. Os outros anjos, de gozação, amarravam corda nele e fingiam estar puxando com força a baleia, até se inclinando para trás na corda. Ou então formavam um grupo e tentavam empurrar, depois riam e riam e riam, rolando no chão. Não é que um dia, voltando atrapalhado de outra missão fracassada passou perto de uma carreata e desviou o braço que disparava a bala que mataria o Santo Padre? Deus escreve certo por linhas tortas. Tinha havido um problema qualquer com o anjo magro encarregado e foi o gordo que salvou o dia.

MORAL DA HISTÓRIA: não se avexe de sua condição. Mas, se você quer participar mais, seja magro e bem-disposto.

Vitória, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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