Robin IURD
A jornalista chegou à Sede da IURD
Instituição Universal de Recondicionamento pró Doação e foi recebida
diretamente pelo próprio presidente, Edinho Macete, chamado pelos funcionários
de O Bispo, porque os funcionários e os gerentes pegaram a mania de beijar a
mão dele, onde havia um anel enorme.
O Bispo era só cordialidade.
- Bom dia, como vai a senhora?
- Vou bem, e o senhor?
Conduziu-a ao escritório luxuoso.
Sentaram-se, foram servidos cafezinhos e refrescos, além de petiscos, e
decorrido o tempo mínimo das civilidades ela colocou o gravador sobre a mesa e
foi fazendo as perguntas.
- Porque vocês se chamam Robin IURD?
- Por semelhança com o outro, o Robin Hood da
mitologia inglesa.
- Vocês também roubam dos ricos para dar aos
pobres?
- Não, nós tiramos de quem tem e não sente
nenhuma dificuldade de dar o pouco que tem. Tiramos dos pobres para dar a
outros pobres. Porque tirar dos ricos é a maior dificuldade, eles são
escolados, eles é que tiram de todos nós através dos governos e do lucro das empresas,
quando não são eles mesmos homens e mulheres dos governos que enriqueceram
tirando dos outros. É evidente – ele piscou o olho – que depois de darmos a
esses pobres - por sinal é a nossa própria gente - deixamos de ser pobres, mas
o sentido da coisa é que vale, a pureza do propósito original, a intenção,
entende? Porisso estamos sempre admitindo outros pastores-vendedores, sempre
pobres, que repassam para nós. Assim nos mantemos sempre fiéis ao dístico de
roubar dos pobres para dar a outros pobres.
- Que cinismo! O senhor percebe que estou
gravando e vou escrever no jornal?
- Não vai, não.
- Como não?
- No mês de maio deste ano a senhora estava
dentro de um carro no motel tal, com certo deputado federal?
A jornalista, assustada:
- Não!
- Pois nós temos tudo gravado e fotografado.
- O senhor pensa me intimidar?
- De maneira nenhuma. Mas só para lembrar, em
1988, quando tinha 17 anos, a senhora viajou a certo endereço de um médico
abortista no Rio de Janeiro, sem a sua mãe saber? Ela está vivíssima, não é?
Embora 22 anos mais velha, claro, um doce de velhinha, nos recebeu muito bem,
ficamos encantados. Temos um dossiê enorme da senhora (mostra no notebook,
virando-o para a assustadíssima jornalista).
A jornalista, ainda mais indignada, mas
caindo em si.
- NÃO!
- Pois é, nem nós estamos tendo esta
conversa. A senhora pode gravar o que quiser e depois escrever como somos
instituição de caridade cristã dedicada a salvar tantos irmãos das dificuldades
da vida.
A jornalista tenta extrair algo que a
garanta.
- E quantos são vocês?
- Ah, minha filha, milhares. Só no Brasil,
registrados no CNPJ temos mais de cinco mil, a caminho de seis mil filiais, com
15 mil gerentes no mundo inteiro. Somos isentos de todos os impostos, de toda
espécie. Porisso arrebanhamos tantos gerentes bons a quem damos carro (isento
de IPVA), casa, comida, passagens, seguro de vida, seguro saúde e tudo mais –
vem daí a extrema fidelidade deles. Estamos presentes em mais de 170 países dos
menos de 200 que existem.
- Tanto assim?
- Mais que isso. Estamos expandindo nossas
atividades constantemente, compramos TVs e rádios, criamos jornais e assim por
diante. Temos um departamento de propaganda, a Relações Públicas: qualquer
barbaridade que a gente diga eles amaciam. São bons garotos e meninas, uns
doces. O vice do Lulambão é nosso e por todos os países estamos elegendo
políticos, formando nossa base.
- E Deus?
- Você fala de Jesus? Porque Deus mesmo não
vai vir aqui, não.
- Sim, Jesus. Vocês não têm receio da volta
dele?
- Bem, quando ele chegar já vamos estar
estabelecidos em tudo por aí e vamos tem um papo bem sério. Da vez que ele
expulsou a gente dos porcos nós não gostamos.
- Vocês são de um descaramento de arrepiar!
- Vocês também não são flor que se cheire.
Imprensa vem de imprensar, colocar na prensa, apertar, e apertar muito, não é?
E os acordos de “eu não publico se vocês colocarem propaganda”? Por falar nisso
a senhora não quer ser pastora, quer dizer, gerente de uma de nossas filiais?
- Vou pensar.
- Pense e depois converse com o Bispo
Roberto, sexta de manhã.
Serra, domingo, 30 de maio de 2010.
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