quarta-feira, 31 de agosto de 2016


Companhia Rosa de Lis


 

O capitão Gustavo bateu à porta.

- Quem é?

- Como, quem é? É o capitão Gustavo, vim passar revista à tropa.

- Espere um pouco (para dentro). Gente, é o Gustavão Gostosão.

Vários ais e uis. Demora um tempo, o capitão se impacienta.

- Abram logo essa merda.

- Não podemos, capitão gostosão, quer dizer, Gustavão, estamos em trajes íntimos.

- Quem tá falando?

- É o cabo Jura, capitesãozinho.

- Que cabo Jura?

CABO JURA (tentado falar grosso) - Cabo Jurandir, senhor.

CAPITÃO GUSTAVO (injuriado, socando a porta) – abre logo essa titica, cabo.

CABO JURANDIR – Ih, o capitãozinho tá bravo, garotas, é melhor abrir.

Abre. O capitão entra pisando duro.

- Quem está no comando, aqui?

- Sou eu, capitão, sargento Moça.

CAPITÃO (surpreso) – Moça?

- É Moacir, senhor, mas elas, quero dizer, eles trocaram o nome.

- Moça, Moça, Moça (gritam vários). Ela é sargentona, girls.

SARGENTO MOACIR (constrangido) – depois vou te pegar, Riva.

CAPITÃO – quem é Riva?

- Soldado (aliás, muito dado, gritam várias) Rivadavia, senhor. Onde está o supercapitão Guilhermão, aquele tesudo, nossa, aquela barriga de tanquinho, não é, meninas, é de arrasar, aqueles bíceps, aqueles glúteos, ui, quase derreto.

- Ele está doente.

A COMPANHIA TODA (assombrada) – Doente? Tá doentinho, vamos lá levar socorro, moças.

- De jeito nenhum, fiquem onde estão. Posição de sentido junto às camas. Até que estão arrumadinhas (estavam todas superarrumadas, sem nenhum vinco, um primor, um capricho).

- O senhor acha, capitão Gostosão, que vamos ser iguais às botinas, que cospem no chão, que horror, enceram as botas nos lençóis (várias fazem que vão desmaiar). Como está o caso delas/deles com as mulheres?

- Bem, o comando fez uma cruz (“é uma cruz pra carregar”, diz o coronel comandante), vocês ficam num braço, elas/eles no outro, as mulheres no lado da cabeça, nós nos pés, que somos em maior número, o comando no centro para tentar equilibrar tudo. Foi preciso passar uma cerca de arame farpado entre as botinas e as mulheres e entre vocês e nós, pelas razões óbvias.

- Fala, capitão Gostosão, gosto tanto quando ele fala, é tão positivo, tão másculo.

- Bem, as botinas ficavam dando em cima das mulheres e você queriam passar para nossas barracas. Em compensação, nós homens estamos aos pés da cruz.

FAZ UM DESENHO (assim)


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


- Como sabem, há patrulhamento e quem for pego tentando atravessar vai ficar na solitária.

- Puxa, capitãozinho, que maldade.

- Pode ser, mas vai ser assim. Difícil mesmo é a ordem unida e formar as duplas, pois as botinas ficam beliscando a bunda das mulheres e vocês ficam jogando beijinhos, mas o comando está cuidando disso.

- Tudo no interesse da defesa da pátria contra os interesses de fora, né, capitão Gostosão?

- Que pátria, que interesse, mal estamos conseguindo equilibrar os conflitos internos.

Serra, segunda-feira, 12 de março de 2012.

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