Companhia
Rosa de Lis
O capitão Gustavo bateu à porta.
- Quem é?
- Como, quem é? É o capitão Gustavo, vim
passar revista à tropa.
- Espere um pouco (para dentro). Gente, é o
Gustavão Gostosão.
Vários ais e uis. Demora um tempo, o capitão
se impacienta.
- Abram logo essa merda.
- Não podemos, capitão gostosão, quer dizer,
Gustavão, estamos em trajes íntimos.
- Quem tá falando?
- É o cabo Jura, capitesãozinho.
- Que cabo Jura?
CABO JURA (tentado falar grosso) - Cabo
Jurandir, senhor.
CAPITÃO GUSTAVO (injuriado, socando a porta)
– abre logo essa titica, cabo.
CABO JURANDIR – Ih, o capitãozinho tá bravo,
garotas, é melhor abrir.
Abre. O capitão entra pisando duro.
- Quem está no comando, aqui?
- Sou eu, capitão, sargento Moça.
CAPITÃO (surpreso) – Moça?
- É Moacir, senhor, mas elas, quero dizer,
eles trocaram o nome.
- Moça, Moça, Moça (gritam vários). Ela é
sargentona, girls.
SARGENTO MOACIR (constrangido) – depois vou
te pegar, Riva.
CAPITÃO – quem é Riva?
- Soldado (aliás, muito dado, gritam várias)
Rivadavia, senhor. Onde está o supercapitão Guilhermão, aquele tesudo, nossa,
aquela barriga de tanquinho, não é, meninas, é de arrasar, aqueles bíceps,
aqueles glúteos, ui, quase derreto.
- Ele está doente.
A COMPANHIA TODA (assombrada) – Doente? Tá
doentinho, vamos lá levar socorro, moças.
- De jeito nenhum, fiquem onde estão. Posição
de sentido junto às camas. Até que estão arrumadinhas (estavam todas superarrumadas,
sem nenhum vinco, um primor, um capricho).
- O senhor acha, capitão Gostosão, que vamos
ser iguais às botinas, que cospem no chão, que horror, enceram as botas nos
lençóis (várias fazem que vão desmaiar). Como está o caso delas/deles com as
mulheres?
- Bem, o comando fez uma cruz (“é uma cruz
pra carregar”, diz o coronel comandante), vocês ficam num braço, elas/eles no
outro, as mulheres no lado da cabeça, nós nos pés, que somos em maior número, o
comando no centro para tentar equilibrar tudo. Foi preciso passar uma cerca de
arame farpado entre as botinas e as mulheres e entre vocês e nós, pelas razões
óbvias.
- Fala, capitão Gostosão, gosto tanto quando
ele fala, é tão positivo, tão másculo.
- Bem, as botinas ficavam dando em cima das
mulheres e você queriam passar para nossas barracas. Em compensação, nós homens
estamos aos pés da cruz.
FAZ
UM DESENHO
(assim)
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- Como sabem, há patrulhamento e quem for pego
tentando atravessar vai ficar na solitária.
- Puxa, capitãozinho, que maldade.
- Pode ser, mas vai ser assim. Difícil mesmo
é a ordem unida e formar as duplas, pois as botinas ficam beliscando a bunda
das mulheres e vocês ficam jogando beijinhos, mas o comando está cuidando
disso.
- Tudo no interesse da defesa da pátria
contra os interesses de fora, né, capitão Gostosão?
- Que pátria, que interesse, mal estamos
conseguindo equilibrar os conflitos internos.
Serra, segunda-feira, 12 de março de 2012.
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