Supervizinhança
Não é condomínio de luxo, mas parece
superlimpo, extasiante mesmo, com tudo no lugar, a grama aparadinha até o
detalhe, sem um cisco no chão, sem um palito de picolé, nada. As árvores estão
podadas, os meios fios pintados, tudo aguado, ainda com as gotas de água nas
folhas, embora não tenha chovido. Não há tijolo fora do lugar, as casas estão
pintadas de novo, os telhados perfeitos, tudo na mais perfeita ordem.
HOMEM – querida, nós estamos pagando
mais por isso?
MULHER – Por isso o quê?
HOMEM – tá tudo tão certinho, que fico
até com medo de me mexer do lugar e arruinar algo.
MULHER – não, estamos pagando a mesma
coisa, não mudou nada. Você acha que pode ser nova administradora?
HOMEM – não, nenhum dos caras me disse
nada. Nem tem havido reunião do condomínio. Já tem umas 10 semanas que tá
assim, sem uma folha partida ou plantinha fora do lugar.
MULHER – por falar nisso, tem mais ou
menos uns dois ou três meses que os novos vizinhos chegaram e nós ainda não
fomos fazer visita.
HOMEM – não dá, o cara é muito
ocupado. Muitas tarefas no estrangeiro, pelo que soube. Vai ver que ela tá
dando.
MULHER – como assim, dando? Que
linguajar é esse? Aliás, como você sabe disso? Você tá dando em cima?
HOMEM – que isso, Érica? Tá doida!
ÉRICA – E o nome dela é Lois. Gente
fina, muito apaixonada, já conversei com ela na rua, ela e ele são jornalistas.
Pare de falar besteiras, Jorge.
JORGE – querida, é que o cara não pára
em casa, ninguém consegue conversar com ele.
ÉRICA – trabalha muito, só isso. Você
e os desocupados dos seus amigos deveriam se mirar no exemplo dele que, aliás,
não é “cara”, é Clark. E daí se ele trabalha muito? Vocês desocupados deveriam
ir cuidar da vida de vocês. Já conversei várias vezes com ela, a Mirian também,
a Débora, a Janete. É isso que é enjoado em você...
Jorge vai saindo de fininho.
Serra, sábado, 31 de outubro de 2009.
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