Histórias pra Boi Dormir
- Querida, fiquei com a sensação de que a
gente tava gastando combustível demais no carro que fica com você e comecei a
anotar: ontem tava 53.175 e hoje tá 53.285, 110 km a mais. Onde você foi?
- Amor, você esquece que tenho de pegar as
crianças, fazer as compras, às vezes vou levar a Neide, tenho mamãe pra
visitar, sem falar em ir pro serviço.
- Mas pro seu serviço são só 10 km, ida e volta.
Na sua mãe você pode ir a pé. A Neide você só leva e busca e leva quando tem
greve de ônibus, que é em geral em junho, quando os empresários forçam a greve
pra ganhar reajuste da Prefeitura. As crianças a gente paga ônibus, que, aliás,
está uma baba.
- Você está me vigiando, é isso?
- Não, bem, que isso? É só que a gasolina
está ficando cara, seu carro e o meu, sou eu que pago, né? No quê você gasta o
seu dinheiro?
- Uai, cabeleireiro, unhas, depilação pro meu
queridinho, ficar cheirosinha pro meu amor, peeling, roupas, bijuterias,
massagens, tem de tudo. Você me quer bonita e não quer que eu gaste.
Dá um beijo nele.
Ele fica todo mole, quer agarrá-la, ela se
afasta.
- Cê tá desconfiando de mim?
- Não, bem, mas às vezes tem umas coisas
esquisitas, né? Já faz um tempo, de vez em quando o telefone toca, vou atender,
desligam. Aí toca de novo e quando você vai atender você fala.
- É um tio meu de Rondônia, só fala comigo.
- Tio seu?
- É, um que você não conhece.
- Ah, tá.
- Irmão de mamãe, que fugiu de casa e ninguém
fala nele.
- Ah, não sabia.
Dá outro beijo nele, ele quer agarrá-la, ela
se afasta.
- Tô cansada hoje.
- Cê tá trabalhando muito, chegou depois das
21.
- Esse chefe tá me arrebentando.
Vira na cama e dorme.
No outro dia, pro amante.
- Esse boi tá me cansando.
- Por quê você não se divorcia?
- Filhos, comodidade. Quem paga as contas?
Vem cá me dar uma beijoca, meu amor, passo um tempão me embelezando pra você,
queridinho.
Serra, domingo, 16 de maio de 2010.
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