quarta-feira, 31 de agosto de 2016


A Condessa de Monte Cristo


 

Monte Cristo é penitenciária de Roraima, estado brasileiro do Norte, a moça mesmo se dando esse nome, porque tinha lido o livro famosíssimo de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo. Pegou na biblioteca e depois só queria lê-lo, ficou apaixonada por ele, até que o decorou totalmente, lia-o sem precisar, tinha decorado todas as páginas, inclusive as inflexões. Quando passou o filme a seu pedido, assistiu, chorou.

Deu a si mesma o nome de Condessa e ai de quem não a chamasse assim, era uma loucura, retalhou várias presas. Passou a acreditar que era condessa mesmo, nobre, tendo havido uma conspiração para privá-la de suas riquezas – enfim, para resumir, incorporou o personagem, só que pelo lado feminino.

Nessa prisão havia uma presa fugida para o Brasil, onde foi pega e colocada incomunicável. Era esposa de conhecido traficante colombiano e conhecendo os segredos deste poderia entregar os antigos parceiros, já que seu marido fora morto por cartel rival. Como resultado, ficou em prisão especial, isolada de todas as demais (e dos guardas comuns, havia policiais especiais da PF brasileira fazendo a guarda e ouvindo-a), pois poderiam querer matá-la.

Calhou de, em paralelo ao livro, a Condessa ter sido posta em cela contígua, onde começou a falar com a colombiana em código Morse, tudo muito difícil porque a outra falava pouco o português, foi difícil decifrar, demorou década e meia. A outra, condenada a prisão perpétua pelo simples fato de não poder sair, passou todos os detalhes de contas nos paraísos fiscais, desde que a Condessa ao sair a vingasse e ao marido. Conversavam muito, eram centenas de milhões, a Condessa anotou todos os números, a colombiana não tinha filhos, só queria vingança. A brasileira prometeu que faria, não fez, decidiu vingar a si mesma.

Com as instruções da outra, foi aos shoppings e gastou com fartura, vestiu-se como uma perua de grande estilo, como essas atrizes de TV; comprou casa em condomínio rico do RJ, como os cantores, e uma mansão em praia do sul da Bahia; comprou carrão, como os jogadores de futebol; apareceu na Ilha de Garras, como os convidados. Fez festa. Fez muita festa e lá pelas tantas concluiu que a vida de rico era muito boa, pra quê vingança? Bem aconselhada por assessores devidamente vigiados, comprou títulos do governo brasileiro e com as altas taxas de juros viveu feliz para sempre. O que, convenhamos, é a vingança correta do carma (ela contratou um guru oriental para promover justificativas dos seus atos, foi dinheiro muito bem empregado).

Essa é ou não é a melhor vingança?

Afinal de contas, os que a ofenderam ficaram bem distantes, postos lá no rodapé da história e da sociedade.
Serra, terça-feira, 06 de março de 2012.

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