terça-feira, 30 de agosto de 2016


O Príncipe Colocando o Sapatinho de Cristal

 

O Príncipe finalmente achou a moça.

Quis por que quis ele mesmo colocar o sapatinho de cristal, lindo, lindo, toda a corte em expectativa, mas o pezinho era na realidade um pezão e pedia mais um sapatão de cristal que um sapatinho, tão delicado, tão lindo.

- Puxa, mas que pezão - disse o Príncipe, sem a menor correção política, principalmente com Xenïa e suas aias atentas ali do lado.

- Quer levar bordoada?

- Eu, hem? Mãe, segura elas aí.

Os tempos mudaram muito. Com essas viagens fáceis por avião e tudo os tempos tem viajado bastante, particularmente os Tempos Mais Alegres que outrora ficavam no Brasil. Os Tempos Decentes, também, quase não apareceram depois do governo de Lula e aliás desde faz muito tempo, desde Juscelino, nem sei. Os Tempos Honestos, então, não vêm desde a época de nossos pais e mães, desde os avôs e avós. Os Tempos Remotos é que eram felizes, segundo dizem. Essa família, os Tempos D’Agora, está cheia de desesperança, depois de ter sido roubada pelos Partidos da Ladroagem, a família rival, financiada pelos burgueses.

Bem, voltando ao Príncipe, ele não conseguia, não conseguia colocar o sapatinho de cristal naquele pezão fedorento da Nova Dama, sua noiva. Tão lindinho, aquela formosura.

- Quer ver – ele disse -, nem cabe no meu pé.

E ao tentar colocar não é que coube? O Príncipe ficou encantado, aquele sapatinho tão luminoso, tão, tão, tão alegre. Tão tcham!

O Acompanhante do Príncipe, cuja função era fazer Nada, mas Nada Bem-feito, assim como os políticos brasileiros, fazia Nada com extrema satisfação e auto justificação. Além disso, falando de seus gostos, gostava de Puxar Saco, um programa da Rede Lobo dirigido à interface amigável com os ovos e os pentelhos.

- Lindo, lindo, lindo. Ele e o senhor, meu Príncipe (e deixou cair a munheca, todo excitado).

- Você acha mesmo, Breno?

- Acho, acho, acho.

- Vou ficar com ele.

E pôs-se a andar com os dois sapatinhos de salto alto pelo salão, batendo com as agulhas e fazendo barulhinho poc, poc, poc.

Os Tempos De Vergonha, cidade de Minas Gerais, foram saindo de fininho e nunca mais voltaram àquela corte.
Serra, quinta-feira, 03 de junho de 2010.

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