O Príncipe Colocando o Sapatinho de Cristal
O Príncipe finalmente achou a moça.
Quis por que quis ele mesmo colocar o
sapatinho de cristal, lindo, lindo, toda a corte em expectativa, mas o pezinho
era na realidade um pezão e pedia mais um sapatão de cristal que um sapatinho,
tão delicado, tão lindo.
- Puxa, mas que pezão - disse o Príncipe, sem
a menor correção política, principalmente com Xenïa e suas aias atentas ali do
lado.
- Quer levar bordoada?
- Eu, hem? Mãe, segura elas aí.
Os tempos mudaram muito. Com essas viagens
fáceis por avião e tudo os tempos tem viajado bastante, particularmente os
Tempos Mais Alegres que outrora ficavam no Brasil. Os Tempos Decentes, também,
quase não apareceram depois do governo de Lula e aliás desde faz muito tempo, desde
Juscelino, nem sei. Os Tempos Honestos, então, não vêm desde a época de nossos
pais e mães, desde os avôs e avós. Os Tempos Remotos é que eram felizes,
segundo dizem. Essa família, os Tempos D’Agora, está cheia de desesperança,
depois de ter sido roubada pelos Partidos da Ladroagem, a família rival,
financiada pelos burgueses.
Bem, voltando ao Príncipe, ele não conseguia,
não conseguia colocar o sapatinho de cristal naquele pezão fedorento da Nova
Dama, sua noiva. Tão lindinho, aquela formosura.
- Quer ver – ele disse -, nem cabe no meu pé.
E ao tentar colocar não é que coube? O
Príncipe ficou encantado, aquele sapatinho tão luminoso, tão, tão, tão alegre.
Tão tcham!
O Acompanhante do Príncipe, cuja função era
fazer Nada, mas Nada Bem-feito, assim como os políticos brasileiros, fazia Nada
com extrema satisfação e auto justificação. Além disso, falando de seus gostos,
gostava de Puxar Saco, um programa da Rede Lobo dirigido à interface amigável
com os ovos e os pentelhos.
- Lindo, lindo, lindo. Ele e o senhor, meu
Príncipe (e deixou cair a munheca, todo excitado).
- Você acha mesmo, Breno?
- Acho, acho, acho.
- Vou ficar com ele.
E pôs-se a andar com os dois sapatinhos de
salto alto pelo salão, batendo com as agulhas e fazendo barulhinho poc, poc,
poc.
Os Tempos De Vergonha, cidade de Minas
Gerais, foram saindo de fininho e nunca mais voltaram àquela corte.
Serra,
quinta-feira, 03 de junho de 2010.
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