quarta-feira, 31 de agosto de 2016


Sangue Bom


 

- Você acha Fulano sangue bom?

- Mais ou menos, fraco.

- É? Eu gostei.

- Pode ser, na falta de outro.

- E Beltrana?

- Essa já achei melhor. Estive com ela, gostei.

- Quem você recomenda?

- Sicrano, de Chicago.

- Claro, super sangue bom. Nota 10. E olha que tinham me falado mal dele pra caramba?

- É nisso que dá ser cosmopolita, você anda viajando muito.

- Lá isso é.

- Você perde a sensibilidade com os valores nativos.

- É verdade, tenho de levar isso em conta. Quantos anos você não sai daqui?

- Uns 30 anos, 35, não estou fazendo muito as contas.

- E quem tem te indicado os sangue bom?

- No geral vou pelo Guia Harper, no particular pego indicação com os irmãos e as irmãs.

- Mas o Harper não tá muito batido?

- Aí é que tá: tudo dele é garantido. Se você encontrar algo de diferente, tudo bem, vai fundo, aproveita, mas  para o dia-a-dia não tem coisa melhor, né? Tá no livro, como dizem.

- Tenho que voltar a ler.

- Depende do país que você tá. Se for ao México pega o  Morales.

- Não tinham arrebentado o Morales?

- Sim, caçaram ele, ele deu mole, mas o livro dele vem sendo atualizado pela filha.

- Ela é uma vamp, mas é uma vaca. E você, se for ao Egito, não tem melhor que o Salim.

- Acomodei. O cercado tá bom, muita comida, muita bebida.

- Tá dando pra todo mundo, aqui? Quantos somos nos Estados Unidos?

- 600, 700, acho que ninguém contou.

- E dá pra todo mundo, ninguém vai reclamar?

- Vai nada! E muita gente viaja também, tem a China com aquela multidão, a Índia só faz crescer.

- Então posso morder meus pescocinhos sossegado?

- Com toda certeza, mano, mete os dentes. Pescoço é que não falta. Agora, com esse negócio de AIDS e coisa e tal, às vezes você se dá mal, o gosto fica meio atravessado, o material não é tão bom, tá entendendo?

- É porisso que temos de melhorar os catálogos.
Serra, domingo, 22 de janeiro de 2012.

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