Sangue
Bom
- Você acha Fulano sangue bom?
- Mais ou menos, fraco.
- É? Eu gostei.
- Pode ser, na falta de outro.
- E Beltrana?
- Essa já achei melhor. Estive com ela,
gostei.
- Quem você recomenda?
- Sicrano, de Chicago.
- Claro, super sangue bom. Nota 10. E olha
que tinham me falado mal dele pra caramba?
- É nisso que dá ser cosmopolita, você anda
viajando muito.
- Lá isso é.
- Você perde a sensibilidade com os valores
nativos.
- É verdade, tenho de levar isso em conta.
Quantos anos você não sai daqui?
- Uns 30 anos, 35, não estou fazendo muito as
contas.
- E quem tem te indicado os sangue bom?
- No geral vou pelo Guia Harper, no
particular pego indicação com os irmãos e as irmãs.
- Mas o Harper não tá muito batido?
- Aí é que tá: tudo dele é garantido. Se você
encontrar algo de diferente, tudo bem, vai fundo, aproveita, mas para o dia-a-dia não tem coisa melhor, né? Tá
no livro, como dizem.
- Tenho que voltar a ler.
- Depende do país que você tá. Se for ao
México pega o Morales.
- Não tinham arrebentado o Morales?
- Sim, caçaram ele, ele deu mole, mas o livro
dele vem sendo atualizado pela filha.
- Ela é uma vamp, mas é uma vaca. E você, se
for ao Egito, não tem melhor que o Salim.
- Acomodei. O cercado tá bom, muita comida,
muita bebida.
- Tá dando pra todo mundo, aqui? Quantos
somos nos Estados Unidos?
- 600, 700, acho que ninguém contou.
- E dá pra todo mundo, ninguém vai reclamar?
- Vai nada! E muita gente viaja também, tem a
China com aquela multidão, a Índia só faz crescer.
- Então posso morder meus pescocinhos
sossegado?
- Com toda certeza, mano, mete os dentes.
Pescoço é que não falta. Agora, com esse negócio de AIDS e coisa e tal, às
vezes você se dá mal, o gosto fica meio atravessado, o material não é tão bom,
tá entendendo?
- É porisso que temos de melhorar os
catálogos.
Serra, domingo, 22 de
janeiro de 2012.
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