terça-feira, 30 de agosto de 2016


O Fim Matemático do Mundo

 

Era encontro muito sério dos matemáticos mais proeminentes do mundo e estava acontecendo pela primeira vez. Nunca tantos e tantas eminentes homens e mulheres tinham sido postos na mesma sala (ainda que grande). Se uma potência estrangeira estivesse interessada em bombardear de uma só vez a nata da nata da compreensão mundial do universo, bastaria ter atacado aquele lugar.

Já era o terceiro dia de amplos debates.

Já tinham discutido A Convergência n-Parametral do Tropocronômetro do Multiverso, As Instâncias Absolutas do Metadesenho de Mundos, Para Além do Horizonte de Simultaneidades da Métrica Espaçotemporal de Planck – o Desenho de Sementes, A Fusão Aritmo-Geoalgébrica como Equalizador das Equações, A Chave Tripla para a Abertura de π e outros assuntos extraordinariamente candentes.

Estava prometido para o terceiro dia, última palestra das apresentações, o tema Instabilidades Ocultas na Pseudo-Chave do Campartícula Gravinercial que Provocam Cissiparidade na Divisão de Pares.

Subiu ao tablado um garoto de uns 14 anos. Ninguém estranhou, até porque a maioria já conhecia de fama e dos artigos publicados nas revistas.

O garoto curvou-se perante a distinta plateia e começou a encher o primeiro quadro situado à esquerda, de cima para baixo, da esquerda para a direita com letra miudinha, dificilmente distinguível mesmo de perto. Mas isso não constituía dificuldade porque tudo aparecia simultaneamente no telão e sobre o tampo da mesa de cada matemático. Todos iam prestando muita atenção, às vezes arregalando os olhos, às vezes cochichando com os vizinhos, às vezes saindo para usar o celular.

Passou ao quadro central, depois ao da direita e finalmente, bem embaixo neste escreveu: “o mundo terminará amanhã às 14h57min horário padrão. QED”.

Os matemáticos e as matemáticas olharam-se demoradamente, cochicharam mais, conversaram avidamente em voz baixa e em voz alta, ligaram de novo sem sair da sala, conferiram as equações minuciosamente.

- Depois de amanhã eu teria de pagar um seguro enorme, que sorte!

Uma mulher falou para um homem mais velho, seu professor:

- Eu sempre tive vontade de transar com você, mas não tinha como te dizer.

Um ligou para a mãe e confessou para a velha senhora espantada que a amava muito.

- Uma ligou para o diretor do departamento e o escangalhou.

Vários choravam, abraçando-se. E houve todo tipo de manifestação, inclusive abraços admirados no garoto.

Serra, domingo, 14 de agosto de 2011.

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