O Fim Matemático do Mundo
Era encontro muito sério dos matemáticos mais
proeminentes do mundo e estava acontecendo pela primeira vez. Nunca tantos e
tantas eminentes homens e mulheres tinham sido postos na mesma sala (ainda que
grande). Se uma potência estrangeira estivesse interessada em bombardear de uma
só vez a nata da nata da compreensão mundial do universo, bastaria ter atacado
aquele lugar.
Já era o terceiro dia de amplos debates.
Já tinham discutido A Convergência n-Parametral do
Tropocronômetro do Multiverso, As Instâncias Absolutas do Metadesenho de
Mundos, Para Além do Horizonte de Simultaneidades da Métrica Espaçotemporal de
Planck – o Desenho de Sementes, A Fusão Aritmo-Geoalgébrica como Equalizador
das Equações, A Chave Tripla para a Abertura de π e outros assuntos
extraordinariamente candentes.
Estava prometido para o terceiro dia, última
palestra das apresentações, o tema Instabilidades Ocultas na Pseudo-Chave do
Campartícula Gravinercial que Provocam Cissiparidade na Divisão de Pares.
Subiu ao tablado um garoto de uns 14 anos.
Ninguém estranhou, até porque a maioria já conhecia de fama e dos artigos
publicados nas revistas.
O garoto curvou-se perante a distinta plateia
e começou a encher o primeiro quadro situado à esquerda, de cima para baixo, da
esquerda para a direita com letra miudinha, dificilmente distinguível mesmo de
perto. Mas isso não constituía dificuldade porque tudo aparecia simultaneamente
no telão e sobre o tampo da mesa de cada matemático. Todos iam prestando muita
atenção, às vezes arregalando os olhos, às vezes cochichando com os vizinhos,
às vezes saindo para usar o celular.
Passou ao quadro central, depois ao da
direita e finalmente, bem embaixo neste escreveu: “o mundo terminará amanhã às
14h57min horário padrão. QED”.
Os matemáticos e as matemáticas olharam-se
demoradamente, cochicharam mais, conversaram avidamente em voz baixa e em voz
alta, ligaram de novo sem sair da sala, conferiram as equações minuciosamente.
- Depois de amanhã eu teria de pagar um
seguro enorme, que sorte!
Uma mulher falou para um homem mais velho,
seu professor:
- Eu sempre tive vontade de transar com você,
mas não tinha como te dizer.
Um ligou para a mãe e confessou para a velha
senhora espantada que a amava muito.
- Uma ligou para o diretor do departamento e
o escangalhou.
Vários choravam, abraçando-se. E houve todo
tipo de manifestação, inclusive abraços admirados no garoto.
Serra, domingo, 14 de agosto de 2011.
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