segunda-feira, 29 de agosto de 2016


MORTESA

 

São vários os grupos vivendo na clandestinidade absoluta, inclusive nós. Falamos de nós mesmos, depois lançamos campanhas desestabilizantes das crenças, fazemo-las passar por boataria e conspirações infundadas. De fato, criamos tantas versões que as pessoas ficam perdidinhas.

Bom, para começar, cobramos caro.

US$ 200 milhões de cada um.

Quem pode pagar pague, quem não pode, fique de fora, sem qualquer remorso ou qualquer chance de contestação. Não pode haver porque arruinaria o negócio todo. De nossa parte somos os Homens de Pedro.

Restam-lhes bilhões depois de nos pagarem esse valor. Não somos ambiciosos e as despesas são muitas. Criar todo um cenário de falsa morte é complicado.

Vejam o caso de Reza.

Ele herdou inicialmente do pai, que também se chamava Reza. Era o Xainxá da Pérsia. O fato é que ele não contava com a intervenção de outros poderes, que também nos interessa desestabilizar. Eles moveram seu títere, o aiatolá Khomeini e nós arranjamos a morte do Xá. O pai dele ficou no poder 16 anos e juntou um dinheirão. O Xá Mohamed, propriamente, ficou mais 48 anos e juntou dinheiro a rodo, tudo do povo. Por que teríamos remorso?

Foi preciso fazê-lo emagrecer a pulso, para dar crédito à doença, ao câncer. Quando eles se veem diante da morte verdadeira lutam com todas as forças, nem que seja por uns anos a mais na obscuridade.

É patético.

Nem têm a hombridade de morrer com dignidade, rastejam por uma, duas, três décadas.

Já no caso de certo ditador foi diferente, aí já precisamos simular uma explosão bem à vista de todo mundo, arranjar um idiota para se passar por ele (a família foi muito bem paga). A quantidade de gente que precisa ser comprada não é brincadeira, não. Mesmo com as ameaças de morte as pessoas não se rendem, querem participar dos despojos.

Acontece assim: o perigo ronda, eles não sabem como sair da enrascada e nos procuram através de A ou B que já “morreu”.

Por vezes dão trabalho.

Sentem-se tão livres dos problemas que ficam se mostrando por aqui e por ali.

Veja o caso de Elvis.

Tivemos de engordá-lo, foi o contrário do Xá; ele ficou inchadão, injetamos drogas nele, depois o purificamos. 42 anos: iríamos matá-lo de câncer? Overdose, claro, como tantos outros.

Livre dos problemas ele começou a aparecer aqui e acolá, a mostrar-se, o idiota, até que formos obrigados e dar-lhe um “chega pra lá”, ameaçá-lo com a segunda morte, a verdadeira. Ele sossegou um pouco, mas o dano já estava feito e começou esse culto abestalhado.

Tivemos de dar conta de alguns mais afoitos que desejavam investigar.

Agora foi o Michael.

Quando a história dos garotos começou a chegar à barra das calças ele miou direitinho. São tempos mais difíceis, porque até divulgaram na Internet como ele seria hoje, tivemos de fazer cirurgia plástica, que custou caro. Enfim, daqueles 200 não sobra tanto assim para tanta dificuldade.

E, claro, não juntamos para nós, tudo que sobra vai sendo depositado em determinada conta na Suíça, o banqueiro mais tradicional.

Ao longo dos séculos já amealhamos bastante para nossa ordem, para quando tivermos de financiar a guerra do Fim do Mundo.

Ou eles ou nós, não tem meio termo.

E pode ter certeza de que para não desaparecermos faremos DE TUDO. Vocês, os recrutas, devem estar dispostos a dar suas vidas em anonimato.

Vão conhecer as listas de todos que ajudamos ao longo dos séculos, vão saber coisas extraordinárias, mas viverão escondidos, ninguém saberá de vocês, nem os parentes, nem os filhos, nem as esposas ou maridos, ninguém mesmo.

Serra, domingo, 25 de outubro de 2009.

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