MORTESA
São vários os grupos vivendo na
clandestinidade absoluta, inclusive nós. Falamos de nós mesmos, depois lançamos
campanhas desestabilizantes das crenças, fazemo-las passar por boataria e
conspirações infundadas. De fato, criamos tantas versões que as pessoas ficam
perdidinhas.
Bom, para começar, cobramos caro.
US$ 200 milhões de cada um.
Quem pode pagar pague, quem não pode, fique
de fora, sem qualquer remorso ou qualquer chance de contestação. Não pode haver
porque arruinaria o negócio todo. De nossa parte somos os Homens de Pedro.
Restam-lhes bilhões depois de nos pagarem
esse valor. Não somos ambiciosos e as despesas são muitas. Criar todo um
cenário de falsa morte é complicado.
Vejam o caso de Reza.
Ele herdou inicialmente do pai, que também se
chamava Reza. Era o Xainxá da Pérsia. O fato é que ele não contava com a
intervenção de outros poderes, que também nos interessa desestabilizar. Eles
moveram seu títere, o aiatolá Khomeini e nós arranjamos a morte do Xá. O pai
dele ficou no poder 16 anos e juntou um dinheirão. O Xá Mohamed, propriamente,
ficou mais 48 anos e juntou dinheiro a rodo, tudo do povo. Por que teríamos
remorso?
Foi preciso fazê-lo emagrecer a pulso, para
dar crédito à doença, ao câncer. Quando eles se veem diante da morte verdadeira
lutam com todas as forças, nem que seja por uns anos a mais na obscuridade.
É patético.
Nem têm a hombridade de morrer com dignidade,
rastejam por uma, duas, três décadas.
Já no caso de certo ditador foi diferente, aí
já precisamos simular uma explosão bem à vista de todo mundo, arranjar um
idiota para se passar por ele (a família foi muito bem paga). A quantidade de
gente que precisa ser comprada não é brincadeira, não. Mesmo com as ameaças de
morte as pessoas não se rendem, querem participar dos despojos.
Acontece assim: o perigo ronda, eles não
sabem como sair da enrascada e nos procuram através de A ou B que já “morreu”.
Por vezes dão trabalho.
Sentem-se tão livres dos problemas que ficam
se mostrando por aqui e por ali.
Veja o caso de Elvis.
Tivemos de engordá-lo, foi o contrário do Xá;
ele ficou inchadão, injetamos drogas nele, depois o purificamos. 42 anos:
iríamos matá-lo de câncer? Overdose, claro, como tantos outros.
Livre dos problemas ele começou a aparecer
aqui e acolá, a mostrar-se, o idiota, até que formos obrigados e dar-lhe um
“chega pra lá”, ameaçá-lo com a segunda morte, a verdadeira. Ele sossegou um
pouco, mas o dano já estava feito e começou esse culto abestalhado.
Tivemos de dar conta de alguns mais afoitos
que desejavam investigar.
Agora foi o Michael.
Quando a história dos garotos começou a
chegar à barra das calças ele miou direitinho. São tempos mais difíceis, porque
até divulgaram na Internet como ele seria hoje, tivemos de fazer cirurgia
plástica, que custou caro. Enfim, daqueles 200 não sobra tanto assim para tanta
dificuldade.
E, claro, não juntamos para nós, tudo que
sobra vai sendo depositado em determinada conta na Suíça, o banqueiro mais
tradicional.
Ao longo dos séculos já amealhamos bastante
para nossa ordem, para quando tivermos de financiar a guerra do Fim do Mundo.
Ou eles ou nós, não tem meio termo.
E pode ter certeza de que para não
desaparecermos faremos DE TUDO. Vocês, os recrutas, devem estar dispostos a dar
suas vidas em anonimato.
Vão conhecer as listas de todos que ajudamos
ao longo dos séculos, vão saber coisas extraordinárias, mas viverão escondidos,
ninguém saberá de vocês, nem os parentes, nem os filhos, nem as esposas ou
maridos, ninguém mesmo.
Serra, domingo, 25 de outubro de 2009.
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