Disputa
No mesmo livro de
John Henry, página 86, ele diz:
“Muitas vezes é
possível verificar que filosofias naturais fundamentalmente divergentes se
fundam em pressupostos básicos opostos com relação à natureza da providência de
Deus. A teologia
voluntarista supõe que a vontade de Deus é seu atributo dominante, ao passo que
a teologia intelectualista enfatiza a razão de Deus. O voluntarista
se recusa a admitir qualquer coisa que possa circunscrever a onipotência de
Deus, ao passo que o intelectualista acredita que há algumas verdades eternas
ou preexistentes que conduzem Deus a agir de certas maneiras por meio de sua
razão. Os
voluntaristas supõem que o que Deus decide é bom, já os intelectualistas
acreditam que Deus decide o que é bom. O voluntarista não aceita que
o mundo possa ser racionalmente construído. A vontade arbitrária de Deus pode ter introduzido nele
toda sorte de contingência, de modo que é preciso descobrir o sistema do mundo
empiricamente. O intelectualista, em contraposição, acredita ser
possível, pelo menos em certa medida, ‘pensar os pensamentos de Deus à maneira
dele’ e assim chegar a uma compreensão racional do mundo”, negrito e colorido
meus.
Disputa inútil,
porque o diâmetro, no qual se opõe o par polar oposto/complementar, tem no
centro a solução, quer dizer, o centro comporta visões opostas (que são
complementares).
Pois, veja, como
ficou definido no outro artigo deste Livro 37, Duplo, Deus é dois, é duplo, tanto Natureza quanto Deus, voluntário
e intelectual, Aquele UM no qual há o que denominei VONTADE MAJORITÁRIA, isto
é, a própria vontadintelectual, que é ao mesmo tempo vontade-sem-compromisso e autocontrole.
Evidentemente Deus, por definição, é onipotente (vontade toda-potente),
onisciente (saber todo-sapiente), onividente (todavisão), etc. Sua vontade
coincide TOTALMENTE com as possibilidades do Pluriverso, o berço das sementes
dos duploversos universais-antiuniversais. Os seres de dentro, quaisquer
racionais e sencientes, estando aquém do poço infinito, além do qual se encontra
Deus, não podem perceber as construções senão como oposições ou pares, não
percebem as complementações senão parcialmente, isto é, vão imaginar que a
compactação total ou completude não pode dar-se. No entanto, pode, como se dá
na esfera, que é bem a representação das possibilidades harmonizadas do
Pluriverso. Ou, por outra, haverá sempre dissonâncias para os racionais. Haverá
sempre DOR DE PERCEPÇÃO, porque percepção falha, in-completa, in-suficiente,
necessária sempre, apenas. Somente em Deus a necessidade se iguala à
suficiência - sendo assim Deus AO MESMO TEMPO necessário, voluntarioso, e
suficiente, regrado. As regras de Deus são a sua vontade, a que TODOS os seres,
sejam anjos, demônios e deuses menores na escala do Ser, devem obedecer. Assim,
Deus diz na Bíblia: EU (vontade) SOU (contido = ABSOLUTO = CENTRO, na Rede
Cognata), EU SOU MINHA VONTADE, e MINHA VONTADE SOU EU. Tem de ser assim.
Porém, quando os
incompletos (o que traz a prostração completa de todos os entes e é um anúncio
de insuficiência e conseqüentemente de eterna gratidão) que são todos os
racionais olham, não vêem senão a parcialidade. Porque vêem somente a
parcialidade não são capazes de se satisfazerem NUNCA e sempre desejarão, sendo
o desejo justamente a indicação de incompletude. Só o mergulho no Ser
auto-suficiente pode trazer a paz derradeira, por causa disso: todo
Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica, exceto a Matemática que é, esta, a própria mente de Deus) É
INSUFICIENTE, por melhor e maior que seja. Ele só pode mesmo trazer, em
qualquer campo, por mais avançado que seja, a insatisfação e o sentido da
insuficiência e incompletude, cujo rendimento é a aceitação daquela Douta
Ignorância.
Os dois atributos
são dominantes, tanto a vontade quanto as contingências, os limites, as
constantes, pois Deus É SUAS CONSTANTES. Assim sendo, ao desenhar O Mundo, Deus
doa a liberdade, o livre-arbítrio, que só existe enquanto Deus o deseja, isto
é, SE DESEJA. Se Deus parar de se desejar O Mundo geral ou os mundos
particulares desapareceriam.
O que
Deus decide é bom PORQUE Deus
decide o que é bom = DEUS. E Deus decide o que é bom PORQUE o que Deus decide é bom,
POR DEFINIÇÃO, por terminação. Não existe nem pode existir nada fora disso. O
sistema do mundo (= PADRÃO DO MODELO de Deus) pode ser descoberto tanto
empírica ou experimentalmente quanto judicialmente, através do pensamento ou
razão PORQUE os seres JÁ SÃO DEUS, no entanto distorcendo-se dele PELO
EXERCÍCIO DO LIVRE ARBÍTRIO. E não podem renunciar ao exercício porque a
própria renúncia seria já livre arbítrio. Assim sendo, aqueles que renunciam,
que dizem estar meramente cumprindo ordens, estão também exercendo (mal e
covardemente) sua liberdade, bem como os que se dizem não-políticos, não-livres,
distantes de todo interesse pela liberdade batalhada.
Diferentemente de
todo ser, os limites do Ser SE SÃO, não estão fora – o próprio Ser JÁ SE É,
razão daquela extraordinária manifestação bíblica: EU SOU, SOU EU.
Como se pode ver não
há nenhuma razão para disputa ou choque.
Deflui daí que as
religiões, para verem Deus, tem de estar todas juntas, PORQUE Deus é tudo
aquilo e muito mais, é todas as oposições. Assim como os cinco cegos só podem
compreender o elefante se juntarem suas percepções e só vão dialogar se
perceberem que embora cegos não são nem surdos nem mudos.
Além disso, as
verdades eternas e preexistentes SÃO DEUS, isto é, Deus é preexistente (de um
modo que os racionais não podem saber) e eterno, quer dizer, Deus é tempespaço
eterninfinito.
Vitória, sábado, 26
de julho de 2003.