Filosofia, Segundo
Durant
No livro já citado
de Durant, p. 82, ele diz: “A filosofia é um estudo da parte à luz do todo”.
Pode parecer pouco,
mas não é.
O Conhecimento
(Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e
Matemática) geral coloca a F/I como antecessora da C/T. Assim, poderíamos
colocar um triângulo eqüilátero dividido em duas porções, uma negra e uma
branca, para mostrar oposição/complementação.
F/I E C/T
Ciclo
do Partodo ou Todoparte ou Hólon,
Movimento
dedutivindutivo
Filosofia/Ideologia Ciência/Técnica
(Todo para a parte, (da parte para o
todo,
Dedutiva) Indutiva)
Na Filosofia (e na
sua contraparte menor, a Ideologia) o estudo se dá do todo para a parte, ou
seja, como de um conjunto de memórias mais vasto a um outro menor, mais
reduzido. É o da separação do todo em seus constituintes. É o da forma, das
imagens, das emoções, das paixões, por conseguinte necessariamente emotivo. Na
Ciência (e na Técnica, sua contraparte menor), a pesquisa é da parte para o
todo, é o da junção dos pedaços num cenário mais vasto. É racional, é frio, é
metódico, é a montagem de um quebra-cabeças feito de milhões de peças. Não é
intuitivo, não depende de vastas visões sentimentais. A C/T salta sobre o
precipício para reconstituir com segurança os grupamentos, enquanto a F/I
mostra novos caminhos que se possa pressentir no todo.
Porém, veja que
Durant diz que “A filosofia é um estudo DA PARTE À LUZ DO TODO”, maiúsculas
minhas. Não é um mero estudo das partes, mas sim delas quando se tem no fundo a
impressão ou gestalt (no alemão indicando configuração, forma, segundo a Barsa
eletrônica) do todo. É o todo que é referência primária, do qual se decalcam as
partes, um quadro onde desenhos são feitos. O todo pressiona as partes, como
pai e mãe que se imprimem nos filhos enquanto herança ou transferência de carga
genética, sobredeterminação ambiental. É prisão, não é índice de liberdade. O
movimento contrário/complementar é o da C/T, que é pessoal, das partículas que
recompõe o todo, que o re-formam a partir das estruturas.
Temos dois momentos:
a) do todo para a parte o F/I que impõe limites às partes, que tolhe, mas
proporciona unidade subjacente, chamamento das ortodoxias, e b) da parte para o
todo o C/T que abre a novos todos, que é heterodoxo, que traz nova unidade,
antes não vista, mas que subverte e impõe a tradição das novidades excessivas e
angustiantes para os de menor poder aquisitivo mental.
Para a filosofia de
que fala Durant, a parte só tem significado se no fundo houver um quadro
conservador da unidade. A parte seria um apêndice obediente, o significado, o
recebedor, enquanto o modelo ou estudo completo de fundo é que seria o
significante, o doador. Numa qualquer ciência seria o contrário. A parte não
existe sem o todo para a filosofia, ao passo que o todo é o reverenciado poder
unificador, conservador por excelência.
Veja só quanto
podemos tirar de uma frase, se a olhamos com atenção, principalmente se temos
algo que a enquadre.
Vitória,
terça-feira, 11 de março de 2003.