Ciência para Filósofos
Eu
seu livro, Epistemologia (Trechos Escolhidos), Rio de Janeiro, Zahar,
1977 (sobre original de 1971), Gaston Bachelard (filósofo francês, 1884 a 1962,
78 anos entre datas) diz, p. 13: “O cientista era
‘um de nós’, no sentido de Conrad. Ele vivia em nossa realidade, manejava
nossos objetos, educava-se com nosso fenômeno, achava a evidência na clareza de
nossas intuições”, colorido meu.
Evidentemente
a reclamação de Bachelard é pertinente e totalmente cabível, porque o cientista
não foi distanciado, ele se distanciou ao pensar que possuía e possui e
possuirá um conhecimento superior ao de todos os demais pesquisadores do
Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática); que ele nunca será alcançado, sendo todos os
demais irrelevantes, quando não suspeitos ou boçais, além do quê a Matemática
seria uma serva humilde da Ciência, em vez de ser, como é, língua comum e
centro de tudo.
O
resultado foi o temido pedestal, de que tantos foram apeados ou arriados no
passado, alguns de forma bastante humilhante.
O
Cientista geral deixou de ser “um de nós”, como viu esse Conrad (pode ser
Joseph Conrad, aliás, Jòzef Teodor Konrad Korzeniowski, dito, escritor polonês
radicado na Inglaterra, 1857 a 1924, 67 anos entre datas, 45 anos quando
Bachelard estava com 18). Deixou mesmo, é um ser à parte, isolado por vontade
própria, altivo, orgulhoso, soberbo até, que não precisa de mais ninguém, que
se basta a si mesmo e à comunidade chamada científica internacional.
Pelo
contrário, se os cientistas produzem frações, parcelas não-integradas do
Conhecimento inteiro, devem integrá-las. Se não são capazes, devem se socorrer
de outros, que são justamente os filósofos, integradores por natureza, os
preparadores dos grandes cenários de campo.
Por
esse motivo, seria extremamente útil que filósofos e cientistas se reunissem na
interface para produzir não apenas conhecimento destinado ao público em geral,
que sustenta as pesquisas & desenvolvimentos teóricos & práticos com os
tributos, como para passá-los aos demais pesquisadores dos modos do
Conhecimento, em especial aos filósofos e ideólogos, no que chamaríamos de
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA AOS FILÓSOFOS. O que os filósofos devem conhecer da
P&D T&P científica/técnica que seja relevante a eles, isto é,
contraída, de forma que vejam o todo onde outros nada enxergam? Esse PROCESSO
DE REDUÇÃO não pode ser aquele reducionismo ridículo que tantas vezes aparece,
um dar de ombros de desprezo para com os ignorantes. Deve ser, isso sim, algo
de tremendamente responsável, uma atividade governempresarial
políticadministrativa pessoambiental até pautada em Lei, de forma que essa
FECUNDAÇÃO CRUZADA seja frutuosa para todos. Enfim, que seja uma obrigação, até
quando os cientistas e técnicos, pelo costume, pela fixação ao longo prazo dos
efeitos das leis, possam novamente tornar-se “um de nós”, compartilhadores por
conta própria. Os cientistas e filósofos devem perguntar e responder. Não é
preciso forçar, basta chamar os interessados, e sempre vai havê-los entre uns e
outros, um grupo tarefa que queira compartilhar, que queira estabelecer uma
disciplina-ponte restauradora do diálogo e da confiança mútua.
Vitória, segunda-feira, 02 de dezembro de
2002.