Canoa Furada S.A.
Existe uma imagem no
imaginário brasileiro que fala de “embarcar em canoa furada”, isto é,
participar de empreendimento que desde o início estava fadado ao infortúnio. No
Brasil as microempresas entram em falência em grande número no primeiro ano de
vida, mas ninguém quer ouvir falar de histórias de fracasso, pelo quê elas são
escondidas, todos evitando mencionar os derrapamentos, os esbarroamentos, os
descarrilamentos. Todo mundo só quer notícia de sucesso. O Pequenas Empresas Grandes Negócios, PEGN, da Rede Globo, que está
há muito tempo no ar, só conta esses casos em que tudo correu às mil
maravilhas.
Pelo contrário,
penso que se deveria colher os desastres, recolher as notícias dos
mal-sucedidos, pois eles são maioria, como na época do Programa Nacional do
Álcool, Proálcool, em que se produzia um litro de álcool para dez litros de
vinhoto e sugeri chamar Programa Nacional do Vinhoto, com o quê teríamos
aprendido muito mais sobre adubação consorciada, tendo como subproduto valioso
o álcool.
No caso das
histórias de insucesso cabe muito bem recolher essas notícias para mostrar com
triagem delas os casos repetitivos de erros e de insistência neles. Se os erros
principais forem colocados numa Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições
Estatísticas, poderemos ver POR ONDE NÃO CAMINHAR e que atitudes não tomar. Se
há insistência de todos e cada um de caminhar por ali é preciso colocar isso em
grandes cartazes: “olhe, os perigos principais são estes e aqueles”. Recolhendo
com os fracassados essas notícias pode-se ajudar os outros, os que vem depois e
teriam tendência irresistível de seguir até os atratores fatais. Quem colocasse
uma empresa dessas estaria ajudando a muitos a sair dos buracos recursivos, em
que todos ou quase todos têm tendência de cair.
Vitória,
segunda-feira, 22 de março de 2004.