quarta-feira, 1 de março de 2017

AR

                            Nos Correios brasileiros A.R. é aviso-de-recebimento, o destinatário tendo de assinar.

Pegando carona em Arthur Clarke, na trilogia Rama, podemos pensar numa modificação: uma “carta” é enviada das regiões centrais da Galáxia a cada tantos milênios ou centenas de anos para ver como vão as plantações remotas da periferia, por exemplo, a da Terra. Permanentemente os robôs carteiros investigam os planetas suburbanos para ver o ritmo do desenvolvimento local, determinando se podem ser inseridos no ritmo pleno de crescimento: se atingido certo estágio um pacote de transformações rapidinhas é entregue, ao portador do índice, que ninguém sabe qual seria, sendo necessário “assinar” com a chave desconhecida.

                            Então a nave-correio chega pata “tomar ponto”, como se dizia há algumas décadas nas escolas brasileiras, ou seja, para fazer uma medição de progresso, supondo-se que se deva atingir um patamar mínimo para receber as dádivas que, pode-se perceber pela configuração da nave (é certo as pessoas poderem freqüentar, os astronautas indo de ônibus espaciais). Evidentemente os seres humanos são reprovados e a nave vai embora, depois de algumas décadas, para voltar (ó desespero!) depois de mais algumas centenas ou milhares de anos. Fizemos o bastante, os orgulhosos?

                            Mas os visitantes da nave podem ver alguns objetos surpreendentes, que não decifram além das caixas pretas indevassáveis. Fica a pergunta: que ultras tecnociências existiriam alhures? Percebem que é uma nave comum, trivial, fazendo patrulhamento de rotina há milhares de anos, durante os quais aconteceram substanciais avanços nas regiões centrais, que são várias repúblicas e impérios, com milhares e mesmo milhões de planetas fervilhando de Vida-racional cada qual.

                            Filme-piloto e série. Um pouco depressivo, sim, mas permitindo poderosas elucubrações e despertando os seres humanos para novo otimismo.

                            Vitória, quinta-feira, 26 de junho de 2003.

A Tensão Gravinercial

 

                            No livro Os 100 Maiores Cientistas da História, Rio de Janeiro, Difel, 2002, p. 33, ao falar de Albert Einstein, o autor John Simmons diz:

                            “A grande conseqüência desse princípio é que a gravidade não é simplesmente a força da Natureza pela qual todos os objetos são atraídos entre si. É, na realidade, um ‘emperramento’ do espaço e do tempo, causado pela massa física”.

                            Quando eu estava na faculdade de engenharia, a partir de 1972/2, tinha esse conceito de “tensão material”, que expus algumas vezes em conversas sem resultado algum. Claro, Simmons é historiador, não é físico, mas mesmo assim a colocação é oportuna, ligando-se a Mach (Ernst, Moravia, então Áustria, 1838 a 1916, 78 anos entre datas), postulador dessa inércia universal.

                            Mais recentemente liguei as palavras (pois os conceitos já estavam ligados desde Einstein) gravidade e inércia em gravinércia, a gravidade-inercial, sendo uma igual a outra, veja o modelo do balde. Balde = TERRA, e a quantidade de matéria contida na esfera é equivalente ao impedimento da fuga dela no balde, ou seja, a força pseudocentrífuga (de fuga, inércia, linear) é igual à força pseudocentrípeta (que segura, gravidade, circular).

                            A utilidade do conceito de TENSÃO GRAVINERCIAL é que as tensões podem subir ou descer, aumentar ou decrescer, e podem até ser zeradas, de forma que se a tensão GI cessar os objetos não estarão mais presos, podendo ascender sem serem chamados pelos campos GI, o que equivaleria à antigravidade, como dizem. Não haveria “arrastamento”, quer dizer, puxões, retenções, nenhumas cordas segurando os objetos. As cordas (ou supercordas, como diriam agora) seriam desatadas e os objetos poderiam mover-se realmente EM GRAVINÉRCIA ZERO, com gastos insignificantes de energia adquirindo velocidades fantásticas, sem qualquer dano aos corpomentes (inclusive, é claro, aos humanos).

                            Vitória, segunda-feira, 30 de junho de 2003.

A Reinvenção da Cidadania

 

                            Peguemos o que chamei de “maiores bandeiras”, aquelas que são, pela natureza das necessidades a expressar, as mais altas, largas e profundas: a das mulheres, a dos negros, a dos índios, a das crianças, a dos velhos, a dos pobres e miseráveis, a das minorias políticas nacionais, as de todos os que sofrem e anseiam – elas devem ter, no futuro, mais e melhores respostas, até chegar à presumida igualdade.       

                            Coloque numa planilha os quesitos:

1.       Quantidade de pleiteantes (logo de cara as mulheres ganham, pois passam de 50 %);

2.      Os males geo-históricos sofridos (os negros sofreram barbaramente, durante 500 anos nas mãos dos ocidentais, e só não padeceram no Oriente porque não foram levados para lá);

3.      O desamparo (por exemplo, o das crianças);

4.     A nobreza de gestos (como os dos velhos);

5.      Muitos outros.

Multiplicando os índices ou apontadores (que um coletivo de acadêmicos pode estabelecer), pode ser verificada aquela largura (quantitativa), aquela altura (qualitativa) e aquela profundidade da ofensa, e conseqüentemente a carência ou querência, o querer que deve ser satisfeito.

Então saberemos as DIMENSÕES DE BANDEIRA.

Ora, interessa a todos que novas cidadanias estejam constantemente sendo inventadas, ou seja, que os desafios de satisfazer a estes ou aqueles empurrem os governempresas para renovações expressivas, quer dizer, dilatação da liberdade de fazer, de estar, de ir e vir, de assumir e assumir-se nesta ou naquela atividade. Evidentemente interessa aos que já são livres somar liberdades e direitos. Não diminuiu as dos homens a ampliação das liberdades femininas, o fato de as mulheres estarem sendo mais respeitadas. Reinventar a cidadania é condição sem a qual não haverá futuro, pois tudo afunilaria para um ponto e para o desaparecimento.

Vitória, quarta-feira, 25 de junho de 2003.

A Pregação da Revolução

 

                            Os tolos têm como certo que a pregação revolucionária, por ser detestada pela classe ocupante do poder, deve ser feita às escondidas, por cochichos, “na camufla”. Isso provoca um afunilamento e um círculo de vigilância que leva à criação dos comitês centrais à soviética, aquela concentração extremamente daninha que mata a democracia participativa.

                            Pelo contrário, tudo deve ser feito às claras.

                            É evidente que os agentes da burguesia não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo e algumas coisas lhes escaparão.

                            E como haveríamos de fazer coalescer ou aglutinar na sociedade supersaturada os cristais, sem lhes comunicar a energia inicial que provoca a reação de fusão? Como saberemos quem detém os conhecimentos (racionais) e as práticas (sentimentais) ligativas? Como chegaremos aos simpatizantes que cederão o dinheiro de sustentação? A menos que queiramos fazer revolução através da estrutura dos partidos estabelecidos e sancionados ou desejemos cair nessa clandestinidade fajuta que é a pregação suposta esperta, o único caminho é manifestar desde logo todas as intenções, colocando abertamente os elementos de troca na mesa. Sem a franqueza dessa abertura total, como é que atrairemos os verdadeiros revolucionários, os que não estão ocultos sob camadas e camadas de tratos culturais aprovados?

                            Os da burguesia e seu braço armado não são bobos e estão preparados para seguir qualquer pretendente a conspirador.

                            Daí que somente a disposição de comunicar a todos nos trará aquelas figuras mais competentes para o novo jogo. Somente o anúncio às claras, completamente despojado provocará a queda dos frutos maduros.

                            Eis porque é necessário promover essa palestra anunciando a revolução mundial que se levanta.

                            Vitória, sexta-feira, 18 de julho de 2003.

A Perfeição Obsoleta

 

                            Na enciclopédia Barsa de papel (São Paulo, 1993), p. 222 do volume 13, está escrito: “Na maioria dos casos, a régua de cálculo oferece resultados aproximados, com grande rapidez. Mesmo nos modelos comuns, realiza multiplicação, divisão, quadrados e cubos, extrai raízes quadradas e raízes cúbicas, determinando logaritmos e funções trigonométricas”, negrito e colorido meus.

                            Quando estava no cursinho do Colégio Salesiano de Vitória em 1971 deram aulas de régua de cálculo para nós, um grupo pasmado de estudantes. Depois, nunca mais se viu, o que mostra quanto a Barsa está defasada, aproveitando artigos do passado, já em 1993 com mais de 20 anos.

                            Além disso, eis um exemplo notável de algo que foi se aperfeiçoando tanto até cair na obsolescência.

                            Depois que John Napier (dos logaritmos neperianos), escocês, 1550 a 1617, 67 anos entre datas, trouxe ao conhecimento do mundo os logaritmos em 1614, deles apareceram as réguas de cálculo, a primeira apresentada por Willian Oughtred em 1633, a primeira com lingüeta, de Robert Bissaker em 1654, com sucessões de Seth Partridge em 1657, de Henry Coggeshall em 1677 e Thomas Everard em 1683, surgindo a régua Soho em 1779. Coisas avançadíssimas, como a eletrola, a antena parabólica grande (que durou uns 10 anos como evidência: chegou a custar 600 a 700 dólares, sendo preciso fazer consórcio para adquirir uma) e tantos objetos caíram em desuso. Tanto avançaram que se tornaram inúteis. A substituição das réguas veio daqueles UNIVAC que ocupava salas inteiras e fazia algumas centenas de operações por segundo, até que 30 anos depois as máquinas de calcular cabiam na palma das mãos, uns tijolões que faziam as quatro operações e raiz quadrada e depois se tornaram potências que possibilitam a operação de 300 funções por 150 reais (30 dólares). Das baratas compra-se agora um repolho e se ganha uma de brinde, mil vezes mais poderosa e precisa que as réguas de cálculo mais avançadas.

                            Isso nos lembra duas coisas: 1) o poder coletivo de construção pela humanidade; 2) tudo que julgamos muito avançado pode de repente caducar – o que nos recorda também da necessidade de acelerar.

                            Vitória, quinta-feira, 03 de julho de 2003.

A Luta Chinesa pela Sobrevivência

 

                            Do livro de Charles Darwin A Origem das Espécies, São Paulo, Hemus, 1979, sobre original inglês de 1859, p. 70, temos esta passagem: “A luta pela sobrevivência resulta inevitavelmente da rapidez com que os seres organizados tendem a multiplicar-se”, negrito meu. Darwin nasceu em 1809 e morreu em 1882, 73 anos entre datas. Escreveu o texto acima um tempo antes, revelando a conclusões a poucos, finalmente publicando-o em 1859, há 144 anos (deve-se comemorar fartamente o sesquicentenário, 150 anos, em mais seis anos, 2009).

                            O modelo veio acrescer.

                            Veja a luta pela sobrevivência do Conhecimento (da Magia/Arte, da Teologia/Religião, da Filosofia/Ideologia, da Ciência/Técnica e da Matemática), como importantes acréscimos, novos sentidos humanos. Daí o sentido mais apurado ainda da pontescada tecnocientífica, em especial da pontescada científica (Física/química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6), indo cada vez mais para cima e para baixo, abrindo para os lados, aprofundando sucessivamente.

                            Na Psicologia há a apuração das figuras ou psicanálises; dos objetivos ou psico-sínteses; das produções ou economias; das organizações ou sociologias; dos espaçotempos ou geo-histórias, e tudo isso como evolução, revolução (ou salto) e reevolução. Seja como PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) ou como AMBIENTES (municípios/cidades, estados e nação frente ao mundo) os chineses são eficientes, resolvendo sempre suas inúmeras crises com soluções imaginativas, como essa de 1986 da VIA DE DUAS MÃOS (a favor as duas, em vez de ser uma contra a outra), em que se pode unir o melhor dos dois mundos em confronto, o Capitalismo e o Socialismo.

                            Em cada um desses pontos os chineses estão às vésperas de se tornarem mais aptos, na luta pela sobrevivência psicológica, aprimorando todos os conjuntos pessoambientais numa rapidez incrível. Estão juntando dois modos de ser, tecnociência ocidental com experiência socioeconômica oriental, e isso para 1.300 milhões de habitantes.

                            SABENDO QUANTO É ISTO (milhões de habitantes)

·        EUA                   290                     290

·        Brasil                 180                     470

·        Rússia               150                     620

·        Europa             600                    1220

E ainda caberia um punhado dos pequenos, ou o México, 100 milhões. E se você pensa que são níveis de desenvolvimento muito diferentes está muitíssimo enganado, observe os índices: envio de foguetes e satélites, inclusive o primeiro astronauta, com programação de vôos á Lua; entrada de toda a Psicologia inglesa através de Hong Kong, da portuguesa através de Macau, da tecnociência ocidental através das patentes, da Internet, da tecnociência japonesa avançadíssima; agregação dos substratos culturais orientais, com um mercado infindável; a disciplina férrea do socialismo à chinesa; a Rússia logo acima precisando de ajuda, a Austrália logo abaixo, a Índia como mercado e parceria, mercado americano, europeu e latinamericano, uma infinidade de absorções. Enfim, você deve rever seu ponto de vista, porque A PRODUÇÃO CONHECIDA já chega a dois trilhões de dólares, apenas 1/5 da americana (pode ser o dobro daquilo).

A menos que hajam mudanças notáveis a China estará presente em todo o horizonte terrestre em duas ou três gerações, ou seja, em 60 ou 90 anos.

O conhecimento produzido por Darwin para a Biologia/p.2 deve ser aplicada à questão chinesa urgentemente, pois não queremos um desequilíbrio, com unilateralidade do desenvolvimento humano, superposição da China. E, até onde podemos ver, é o que se desenha, pois a China tende a se multiplicar rapidamente EM TUDO.

Vitória, terça-feira, 01 de julho de 2003.

A Insistência dos Bandidos

 

                            A gente vê os bandidos sendo presos continuamente, uns depois dos outros, mas entram novos no cenário a cada ano, a cada mês, sem que seja feito um estudo comparado das motivações psicológicas universais, das PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) nos AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo), na Chave do Labor (operários, intelectuais, financistas, militares e burocratas), na Chave do Sexo (machos, fêmeas, pseudomachos, pseudofêmeas), na Chave das Tarefas (agropecuárias/extrativistas, industriais, comerciais, dos serviços e bancárias), na Chave do Ter (ricos, médios-altos, pobres e miseráveis).

                            Enfim, mais uma vez a Academia passou ao largo.

                            Veja, todos nós cometemos algum gênero de erro. E se tivéssemos ampla liberdade será que nos conteríamos em transgredir os limites a que hoje obedecemos? Mas, por quê, sob a ameaça da lei, uns transgridem e outros não? De pronto o modelo, seguindo a Curva do Sino ou de Gauss, diz que as motivações são (2,5 + 47,5 + 47,5 + 2,5) %, ou seja, HAJA O QUE HOUVER 2,5 % ou 1/40 fará sempre, independente de precisar ou não, e sua insistência estará sempre atraindo outros 47,5 %, sendo tal persistência demonstração pedagógica para metade da população. Parece um problema simples, mas ele se apresenta sem solução há milênios, de modo que os estudiosos deveriam ter reparado.

                            Se NUNCA acontece o fim dos bandidos, de onde eles surgem? Se o banditismo prossegue é porque tem valor de sobrevivência; qual seria ele?

                            As respostas estão longe de serem simples.

                            Vitória, quinta-feira, 26 de junho de 2003.