quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017


Aula de Arqueologia

 

                            Os cineastas e os estúdios deveriam inaugurar uma série, na seqüência de Indiana Jones, misturando realidade e ficção, a cada filme da série sucedendo-se a aula propriamente dita, em episódios duplos de 2 x 40 minutos, metade para cada propósito, de tal forma que à aventurosa vida do arqueólogo fictício se seguissem as explicações, mostrando os objetos reais, vistas explodidas deles, computação gráfica, 3D (três dimensões) e RV (realidade virtual), fotos, cuidados inerentes à pesquisa, os objetos usados, os textos disponíveis, filmes relacionados, documentários, entrevistas, aulas, tudo a respeito da Arqueologia.

                            Onde os museus a visitar, onde há cursos nas universidades, os sítios de Internet, os professores eméritos e os divulgadores, as grandes descobertas, a grande aventura geral da Arqueologia, as buscas antigas e as recentes, o valor dos objetos (cultural e monetário), os custos da investigação de campo, os patrocinadores públicos e particulares, o tempo que leva para burilar as peças e recompô-las, os programas de computador, como começou tudo, as perspectivas para o futuro (há quem imagine que nada há mais a descobrir), como encomendar réplicas, onde há cursos por correspondência, onde universidades abertas que oferecem formação à distância, a mídia associada, os arqueólogos amadores que já descobriram algo, etc.

                            O objetivo é atrair tanto amadores quanto os que estejam dispostos a passar pela demorada formação oficial.

                            Como é fácil de pensar, o mundo move muitos bilhões de toneladas de terra e areia com o passar do tempo, havendo inúmeros estratos a desenterrar, tanto na arqueologia quanto na paleontologia. A coisa não terminou, longe disso, e penso que necessariamente há muito a tirar do solo, a gente estando num platô relativo à primeira subida, nada mais que isso.
                            Vitória, segunda-feira, 28 de abril de 2003.

As Virtudes dos Adolescentes

 

                            Na página 15 do livro já citado de Deonísio da Silva, ele diz:

                            “Tais origens mesclaram-se na denominação de adolescência para o período de crescimento algo desordenado do ser humano, compreendido entre os 12 e os 20 anos, quando ocorrem transformações físicas, anatômicas, fisiológicas e psíquicas”, negrito e colorido meus.

                            Nada há de desordenado; há, isso sim, CRESCIMENTO ACELERADO, e é um dos períodos mais bonitos da vida de cada um, que os pais e as mães, tentando conter em torniquete ditatorial, imputam desagradável, e a Rita Lee em especial chamou de “aborrescente”, mistura de aborrecido com adolescente. Não é, é o último grito de liberdade do indivíduo, depois apascentado como uma cabrita presa nas garras da coletividade, sendo sangrada do leite de sua produção.

                            É um milagre, só equivalente à chegada do bebê à Língua geral, quando ele percebe a formestrutura lingüística.

                            O adolescente, sobre o influxo sexual, tem o corpomente re-programado totalmente, para tarefas muito maiores; é como uma crisálida se trans-formando em borboleta, indo por metamorfose muito além do estágio infantil, tornando-se in-dependente do ninho e da família, da mãe e do pai. Deve ser uma carga tremenda, nunca suficientemente analisada pelos psicólogos. Chega a ser até incompreensível. Num momento é criança, no outro é adulto, e a mágica entre ambos os estágios muito distintos nunca foi compreendida pelos estudiosos, sendo fase freqüentemente achincalhada, chacoteada por parentes e por estranhos impiedosos, esquecidos de suas próprias dificuldades de transição.

                            Tenho todo adolescente como um herói, um vitorioso que sabe atravessar mares revoltos, perigosíssimos, saindo relativamente ileso do outro lado.

                            Eles merecem aplausos, todos os que são e todos os que foram um dia, quer dizer, todo ser humano. Qual é a química dessa psicologia?

                            Vitória, terça-feira, 29 de abril de 2003.

As Três Maneiras do Exército

 

                            Creio que no filme A Filha do General, com John Travolta, um oficial diz: “Existem três maneiras de fazer as coisas: 1) a certa, 2) a errada, 3) a maneira do Exército”. Já que na Rede Cognata exército = MODELO, a terceira maneira seria a do modelo, que de fato se situa entre o certo e o errado, o certerrado, o nortessul, o lesteoeste, a formestrutura, etc., no centro, na governadoria das coisas. Mas o modelo é um ente proposicional, uma proposta a considerar, não é um ente real como o qual devamos lidar imediatamente.

                            Entrementes, no plano do real de agoraqui, este anúncio soa como terrível, porque vemos que o exército americano se considera acima do certo e do errado, do bem e do mal, da verdade e da mentira, de todo e qualquer julgamento, e, portanto, responsabilidade. Quem por nada responde é porque se julga inimputável e não-punível, acima de qualquer retaliação, o que só Deus, evidentemente, estaria em condições de manifestar, de fato.

                            O que o personagem está dizendo, esse oficial do filme, é que o exército só se guia por suas considerações, sem qualquer freio, e isso quer dizer que ele, o Exército dos EUA (e as Forças Armadas em geral de lá) está prestes a assumir o poder ostensivamente, de público (porque já controla dos bastidores, através dos interesses irrecusáveis da Indústria da Guerra, ou, melhor dizendo, da Economia de Guerra, já que envolve agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos). Em breve os militares de lá afastarão os títeres para mostrar-se como comandantes do país. Aliás, a presença de Bush Jr. já é um anúncio palpável, publicado em jornal, menos para os que não sabem ler e dependem da leitura alheia. Todos que minimamente são capazes de ler o real podem perceber isso, que as FA americanas tomaram o poder lá, com conseqüências tremendamente daninhas para o mundo inteiro.

                            Vitória, segunda-feira, 05 de maio de 2003.

A Unanimidade é Burra?

 

                            O auxiliar fazendário N, que trabalhou comigo em Pequiá em março/2003, pegou os medalhões e pendurou no meu pescoço, a modo de ver se me atrelava à dependência das sacrossantas consciências, digamos de Freud. Desde muito cedo pensei nisso e vi que a suposta autoridade é perigosa, porque, por princípio ou ela ou a citação dela pelos seguidores quer suprimir o diálogo, não apenas a capacidade de pensar de um, mas a própria necessidade do outro de responder com juízo.

                            Depois sacou essa de que “toda unanimidade é burra”, creio que frase de Nelson Rodrigues, o grande escritor brasileiro.

                            Analisando, podemos pensar que nenhum racional pode, estando no mundo criado, perceber a totalidade, porque para tal deveria vê-la de fora e, obviamente, estando dentro não pode completar a Equação de Mundo, não pode ver o conjunto do Projeto do Universo, isso que chamam de Plano da Criação e que apelidei de Desenho de Mundo. Só Deus, dando o salto além do finito, mergulhando no não-finito continuamente pode, na Tela Final, completar-se em Natureza e ser então Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI, o que é vedado a qualquer racional POR DEFINIÇÃO.

                            Assim, HÁ PELO MENOS UMA UNANIMIDADE QUE NÃO É BURRA, Deus, sendo todas as demais burras, doutas ignorâncias. Pois com relação a uma coisa, SÓ UMA, deve-se ser unânime – Deus é Centro da esfera, em torno do qual todos os raios giram. Deus é Absoluto, enquanto tudo mais é relativo. Assim, como já falei para a infeliz frase “tudo é relativo”, um não é relativo, é absoluto – e do mesmo modo UMA UNANIMIDADE não é burra.

                            Daí não podermos dizer TODA porque seria totalização e esta ou está vedada ou, quando pronunciada, leva a paradoxos. Pois, se TODA unanimidade for burra, ESTA UNANIMIDADE, referindo-se a tudo, é burra também, e se é burra não precisamos acreditar nela. Daí, se duvidamos de uma, podemos duvidar de todas, porque se o afirmador não tem tino para afirmar a totalidade, tê-lo-á para afirmar cada parte?

                            Veja que N, ele como outros, é daqueles que suprime o diálogo pelo apelo e apego às crenças pré-fixadas, aos chavões, aos lugares-comuns, às coisas batidas. Não traz conhecimento novo porque não se esforça para pensar. Na realidade é partidário da ditadura, da sobreposição de uns pelos outros. Se permite que lhe ditem a realidade da consciência, que coisas mais não permitirá?

                            Vitória, quarta-feira, 30 de abril de 2003.

A TT Filosófica

 

                            Os físicos estão tentando na Física a Teoria de Tudo, que o modelo pediria fosse a TTM, Teoria de Tudo, Mesmo, do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) inteiro.

                            Já reclamei da necessidade de os filósofos empreenderem corajosamente a reflexão integral sobre os restantes modos de conhecimento, os outros oito vértices, e vice-versa, cada um destes analisar a Filosofia e sintetizar com coragem sua visão dela, tanto isolados, digamos Magia Filosofia, quanto TODOS Filosofia.

                            Isso se daria externamente, enquanto diálogo.

                            Mais importante ainda é a Filosofia PROCEDER INTERNAMENTE o debate das partes e dos conjuntos, proporcionando essa VISÃO INTEGRAL de mundo, que estamos esperando ansiosamente, isto é, fazendo realizar sucessivos congressos filosóficos em busca de uma reunião que o modelo antecipa enquanto proposta, feita aqui, e enquanto linhas-de-possibilidade enquanto método.

                            Quer dizer, não apenas a Filosofia dialogar com os oito vértices sobre o mundo, sobre uma concepção unitária de universo, como ela proceder em seu seio a um ACERTO DE CONTAS, uma finalização, nem que seja incipiente agora, de suas múltiplas linhas de debate e discussão. Para resumir, uma HARMONIZAÇÃO GERAL dos conceitos e estruturas filosóficas, de tal modo a produzir aquela ESFERA DE ACORDOS, digamos assim, das conflitantes percepções de mundo, livrando doravante a humanidade de todos esses aborrecidíssimos choques.

                            Essa seria uma das grandes notícias deste início de século e milênio, da qual depende a humanidade andar mais ligeirinho à meta.

                            Feita discussão interna, com a obtenção, ainda que inicialmente insatisfatória de um único vetor de pré-acordo, os filósofos estariam habilitados à aceitação desejável dos outros vértices, postos como independentes e de mesmo nível de respeito.

                            Vitória, terça-feira, 22 de abril de 2003.

A Soma dos Menores

 

                            São alguns dos menores países do mundo, mas altamente civilizados, todos da Europa e de maioria católica, a que eu iria com prazer com minha filha Clara e meu filho Gabriel para morar e trabalhar.

                            UMA LISTA DOS NOTÁVEIS PEQUENINOS

                            PAÍS
ÁREA
(km2)
POPULAÇÃO
(Em milhares)
RENDA PERCAPITA
(Em US$ milhares)
Andorra
453
66
18
Liechtenstein
160
32
23
Luxemburgo
2586
400
43
Mônaco
2
32
26
San Marino
61
26
31
Vaticano
< 1
< 1
?
TOTAL
< 3,3 MIL
< 557
MÉDIA MAIOR QUE 20

                            Veja que enquanto área nem dá a de Linhares, ES, e como população pouco passa maior dos municípios do ES. São umas porqueirinhas, mesmo, em termos de dimensões, mas são grandes em organização e respeito, de tal forma que estão ali seis países a que eu iria, com todo gosto. Não são grandes em área, nem em PIB, nem em poder, mas me agradam, porque fizeram o dever de casa, trabalharam ao longo dos séculos. Fora Japão, Canadá e Itália, onde eu encontraria recursos com que expressar o modelo, eu iria a estes, onde me sentira bem, apesar do frio (em geral acima da latitude 40º norte, sem falar nas altitudes, fora o Vaticano).

                            Está vendo, tamanho realmente não é documento.

                            Que isso abata o orgulho dos que se acham grandes.

                            Ser, ou pensar-se grande, não é condição de salvação.
                            Vitória, terça-feira, 29 de abril de 2003.

A Humanidade em Extinção

 

                            Nas páginas 89 do Almanaque Abril 2002 há uma listagem das espécies animais em perigo de extinção e na página 90 outra dos países com o maior número de espécies ameaçadas.

                            Biologicamente são aquelas espécies, mas psicologicamente é uma parte da humanidade que está sendo extinta, pois não sabemos ainda como trazê-las de volta, isoladamente, e muito menos em sua variedade. Pode ser que no futuro consigamos fazê-lo, mas por enquanto, não, de modo algum, é complexo demais. Haverá um momento em que a humanidade, continuando a existir, terá um conjunto de programas e máquinas humanas comportando mais informação que toda a Natureza físico-química e biológica/p.2 juntas, em que teremos mapeados todos os genomas, de todos os milhões de espécies; em que os misturaremos, criando mestiços novos por arquiengenharia genética e depois não apenas seres artificiais como sintéticos, realmente novos, totalmente novos, realmente reprogramados.

                            Por enquanto não estamos nessa fase, estamos longe disso, bastante longe disso. Perdeu, está perdido mesmo, a menos que alguém consiga guardar uma porção para ressuscitação posterior, algumas décadas na frente. Por enquanto não sabemos.

                            Então, naquilo de que nem foi guardada parte, e por enquanto no que está sendo, mais naquilo que se perde sem sequer sabermos, estamos miseravelmente diminuindo, estamos nos extinguindo. Humanamente perdemos o Dodô, o Lobo da Tasmânia e vários outros. Essa é a humanidade que está sendo extinta. Nossos avós não se lembraram de nós em seu egoísmo e nós também não estamos nos lembrando de nossos netos em nosso exclusivismo.

                            Vitória, domingo, 04 de maio de 2003.