Previsões sobe o Governo Lula
Quando
ainda se chamava Convergência Socialista eu participava em 1977. Depois houve
uma reunião na Cúria Metropolitana, antes de 1980, da qual participamos uns 10,
sobre a idéia de fundação de um Partido dos Trabalhadores. Sai entre 1985 e
1987 porque, eu disse a Reinaldinho, o PT iria trocar sua missão por votos, ou
seja, por evidência. Não deu outra.
Agora,
finalmente, ele chegou à presidência, na quarta candidatura de Lula, que é o
primeiro operário a alcançar tal posto do Brasil, e o primeiro do mundo a
atingir tal proeminência num país de primeira linha em produçãorganização, o
Brasil, que é a quinta economia mundial (considerada a Europa dos 15 como uma
só): EUA, Europa, Japão, China, Brasil.
Está
parecendo o Nixon, que se candidatou tantas vezes e quando foi eleito fez
besteira, o que não desejo de modo algum ao Lula. Ele é de um socialismo
brando, enquanto sou anarco-comunista. Há margens de contenção, tanto a
esquerda quanto a direita olhando-o com um misto de apreensão e repugnância. E
quatro anos não são realmente quase nada, para 500 anos de opressão e
desmandos.
Depois,
há a distância extrema de votos, mais de 20 % - sempre que há uma distância
assim tão grande o governante afrouxa o laço e fica gozando o feito, sem
trabalhar, como se isso bastasse. Tradicionalmente não se faz bom governo
nestas condições.
A
seguir, é certo que a direita criará armadilhas e a imprensa direitista
publicará toda e qualquer falha, por menor que seja, destacando-a ao máximo. Há
a idéia de “vingança” dos pobres e miseráveis. Os sem-terra do Rainha (que é de
Linhares) forçarão rumo à Reforma Agrária, esperada em ritmo muito mais
pronunciado; se Lula atender e acelerar ferirá os terratenentes, ao passo que
se não o fizer e retardar irritará o MST, Movimento dos Sem-Terra.
A
dialética diz que tudo que se tenta forçar acumula tensões e resistências. O
certo, então, seria caminhar como se nada fôssemos fazer, mas trabalhando
aceleradamente pelos pontos principais. Lançar alguns balões para distrair a
atenção, enquanto as reformas e transformações fossem sendo plantadas. Como em
quatro anos não se pode fazer muito, é o caso de plantar ATITUDES, modos de
proceder, que serão copiadas pelo governo seguinte. Se o Lula tiver sorte e puder
emplacar um segundo mandato as obras poderão ser ampliadas.
Então,
eu vejo que o governo Lula precisará de um equilíbrio tremendo, além do quê
pode haver choque entre os principais intelectuais colaboradores e um
presidente-operário ciumento de suas prerrogativas. Aquela coisa de “mamãe,
olha aonde eu cheguei”. Mostrar para os parentes e amigos, etc.
E
há a oposição, desde a favorável até a intratável, os inimigos de classe mesmo,
que farão DE TUDO, legal ou ilegal, certo ou errado, para minar e destruir a
“bandeira vermelha infiltrada”.
Para
além de tudo, a grande aceitação de um primeiro governo operário real no
Brasil, muito benquisto na Europa, com as visitas e saudações todas, com as
comemorações, com os abraços em Portugal, na Alemanha, na Inglaterra, na
França, na Espanha, em toda parte, tudo isso pode obnubilar a visão reta,
turvando-a dos orgulhos.
E
há muito mais que eu poderia comentar.
SE
der certo será por puro milagre, denotando extraordinária sabedoria e
equilíbrio do Lula e do PT, o que então eu aplaudiria.
Vitória,
sexta-feira, 01 de novembro de 2002.