Silas que Ficou em
Dependência
Gabriel reparou que o cachorro
labrador dele, Silas, fica sentado nas patas traseiras e não avança sobre a
comida como faria um lobo: espera pacientemente que lhe seja dado. Isso vem de
longuíssima convivência e treinamento, seleção dos mais aptos a proceder assim,
pois tudo devia ser introduzido nos genes desde os lobos, passando pelos
pós-lobos ou pré-cães até chegar nas várias raças da espécie, bioinstrumentos
separados em numerosas necessidades humanas (caça, vigilância, força de pegada,
resistência na corrida, tamanho, ferocidade – ainda recentemente o Pitbull foi
criado de várias raças -, peso). As mulheres, como vimos em Restoio no Livro 191, ficaram com os
restos genéticos, os cachorros de boca pequena, cães diminutos desprezados
pelos homens e dos quais elas gostam até hoje.
Silas tem patas traseiras e
dianteiras, não tem pernas-pés e braços-mãos com grandes porções
correspondentes no cérebro: no máximo as patas dele ultrapassam em potencial as
chaves de fenda (elas não servem para muito mais que correr). As patas
dianteiras dele não são especializadas como mãos de primatas nem
especializadíssimas como as nossas e ele não tem voz e palavra, não sabe
conversar, só pode expressar a extrema dependência emocional dele de certos
modos bem restritos.
SEJA
EU (extremíssima
ligação dos guerreiros com os cães)
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Beija Eu
Marisa Monte
Seja eu,
Seja eu, Deixa que eu seja eu. E aceita O que seja seu. Então deita e aceita eu. Molha eu, Seca eu, Deixa que eu seja o céu E receba O que seja seu. Anoiteça e amanheça eu. Beija eu, Beija eu, Beija eu, me beija. Deixa O que seja ser Então beba e receba Meu corpo no seu corpo, Eu no meu corpo. Deixa, Eu me deixo Anoiteça e amanheça |
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Pois, para os guerreiros, os cães eram
tudo mesmo: segurança, independência, enfrentamento da Natureza, dignidade
diante das mulheres, chance de família ampla sustentada sem fome – tudo, tudo
mesmo.
Como o mundo era muito mais restrito certamente
a quantidade de palavras necessárias também era, e devem existir algumas bem
características que só os homens usavam (e não davam acesso às mulheres; elas
ficaram com ciúmes e acolheram e desenvolveram os “cães de boca pequena”) e
devem estar esquecidas hoje em dia: os cães só obedeciam aos homens. Eles construíram
em si molecularmente essa extrema dependência dos homens seus senhores, de
morrer em cima da tumba do guerreiro-companheiro sem se afastar para comer ou
beber.
Não sei quantos selos terão sido
destinados a expressar as várias raças de cães ou quantas estátuas terão sido
erigidas em agradecimento: parece-me que somos uns grandes ingratos diante de
tudo que fizeram por nós.
Vitória, sábado, 16 de dezembro de
2006.




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