quinta-feira, 4 de agosto de 2016


O Contrário de Mim

 

O que teria acontecido nas outras linhas de vida?

Mesmo se soubesse dos demais (procuro não saber para não ter do que falar) não poderia contar, seria complicadíssimo: autorização, revisão, contrato, intromissão nos escritos, etc., melação total.

O CONTRÁRIO DO QUE DECIDI SER

A LINHA SEGUIDA.
OUTROS POSSÍVEIS.
Amei a Cristo-Deus mesmo quando agnóstico e depois ateu (gostava dele e do que disse, e mirei isso no que fiz).
Houve uma continuidade que me definiu.
Busquei evitar a mentira a todo custo.
Não foram criadas redes virtuais de consequências, o que chamei de máscaras, a necessidade de saber a quem foram contadas quais mentiras.
Decidi viver com pouquinho dinheiro, sem poupança e aplicações.
Isso me guardou do orgulho (fama, poder, riqueza e beleza), o que foi bom demais, uma das maiores graças de Deus. Com isso vou a poucos lugares, só os amigos chegadíssimos me convidam (posso saber quais são e os tenho em grande consideração).
Descasado e sem mulher.
Foi horrível, mas não há nenhuma mandona mandando em mim (“compre isso, compre aquilo”, “vamos viajar”, “ vamos visitar”, “vamos reformar”, etc.; com toda admiração e desejo que tenho por elas).
Fui amigo dos meus oito, quatro mortos (pai, mãe, o bassê Valente, o mestiço Budega) e quatro vivos (filha, filho, a gata persa Yuki, o cachorro labrador Pink nose Silas).
Ah, eles me deram mais amor e afeição do que pude compreender.
Não bati em crianças e em mulheres, não parava em fila dupla no pouco tempo com carro, não depredei propriedade alheia, não fofoquei, não intriguei, não ataquei as pessoas, não falei mal delas.
Sabe-se lá os preços pagos por pessoas que assim procedem!
Não ocultava meus erros no serviço.
Os erros propagam-se ou são propagados, inclusive por colegas bem-intencionados.
Não tenho carro.
Tivesse carro, custaria 1/3 do valor POR ANO, se 30 mil 1/3 daria 10 mil/ano (Quantos livros podem ser comprados com tal valor? A 50 reais cada, 200 novos; em sebo, 400). Enquanto trabalhava, calculei que andar de ônibus permitiu que eu lesse 30 a 40 mil horas. Sem falar em batidas, preocupações.
Não tenho casa própria.
Tive de mudar quase 30 vezes, com os aborrecimentos de arrumar os livros (isso permite que reveja quais tenho e reavalie as leituras). Também, agora aposentado, posso mudar para qualquer lugar.
Não terminei nenhuma das seis faculdades que entrei, duas de engenharia, duas de física, uma de matemática, uma de filosofia.
Não peguei os conhecimentos já prontos, tive de cavar eu mesmo, por caminhos nunca trilhados, tive autonomia em percepção de mundo.
Os amigos são poucos e mesmo alguns desses estão afastados.
São de altíssima qualidade.
Parei de beber definitivamente depois da operação de coração em 2003 (estava cessando convictamente desde dois anos antes, 2001).
Provavelmente teria morrido (sem falar nas ressacas evitadas, o que já avaliei noutro texto).
Pensar, pesquisar, escrever foi extremamente cansativo.
Por outro lado, adquiri convicções e penso ter resolvido dezenas de problemas que atravessaram os milênios.
Segui ao máximo os 10 mandamentos.
Nem sei quantos problemas isso evitou.
Tentei a honestidade sempre.
Fora as dívidas eventuais, fico totalmente tranquilo, benza Deus.

Não vale a pena ficar falando de mim, é apenas para os propósitos.

Na sua existência imagine também o que poderia ter acontecido nas outras linhas derivadas de suas alternativas escolhas.

Como disse Clarice Lispector com outras palavras, as outras pessoas viveram as vidas delas para que não tivéssemos de vive-las. Quando olho para tais existências, vejo que várias foram melhores, mas muitas foram bem piores. Com tudo de aborrecido que nossas vidas possam ter, quando pensamos detidamente vemos quão boas foram, maravilhosas mesmo.

Vitória, quinta-feira, 04 de agosto de 2016.

GAVA.

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