domingo, 28 de agosto de 2016


Comumbeira ou Comunidade Macumbeira

 

Certos de que nos novos tempos a política de tolerância era o correto os empresários decidiram fazer um lançamento imobiliário só de apartamentos para macumbeiros. De início foi saudado como um avançando extraordinário, pelo respeito às religiões afro-brasileiras, aceitação notável da África e da cultura própria dos descendentes, que assim se impunham ao racismo brasileiro.

Não deu certo.

É que havia muita gente trabalhando e os trabalhos atrapalhavam um pouco, porque uns perdiam os amados ou as amadas, outros quebravam as pernas (por vezes as duas), outros vomitavam na frente de todo mundo.

Cogitou-se chamar os padres para benzer, mas eles não queriam, pelo sim e pelo não. Alguns pastores ousaram, mas foram atingidos imprevista e de maneira inexplicável.

Exus eram vistos passeando às três da tarde, virou guerrilha urbana, um inferno.

A comunidade se reuniu em congresso, falado em línguas africanas. Uns se ressentiram de não mais compreender as línguas pátrias e ameaçaram se retirar (deixando os exus para trás para atrapalhar, o que todos recusaram).

Os corredores estavam sempre repletos de cachaça e galinhas pretas. Alguns mendigos começaram a entrar para pegar as ofertas pros santos, mas sofriam síncopes súbitas e incompreensíveis.

Árvores vergavam, chovia só sobre uma pessoa, a coisa ficou preta.

O Exército foi chamado para intervir, mas ninguém queria entrar, nem batendo na madeira, nem com reza brava.

Por fim a solução foi derrubar o condomínio e jogar cal em cima.

Serra, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010.

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