Comumbeira ou Comunidade Macumbeira
Certos de que nos novos tempos a política de
tolerância era o correto os empresários decidiram fazer um lançamento
imobiliário só de apartamentos para macumbeiros. De início foi saudado como um
avançando extraordinário, pelo respeito às religiões afro-brasileiras,
aceitação notável da África e da cultura própria dos descendentes, que assim se
impunham ao racismo brasileiro.
Não deu certo.
É que havia muita gente trabalhando e os
trabalhos atrapalhavam um pouco, porque uns perdiam os amados ou as amadas,
outros quebravam as pernas (por vezes as duas), outros vomitavam na frente de
todo mundo.
Cogitou-se chamar os padres para benzer, mas
eles não queriam, pelo sim e pelo não. Alguns pastores ousaram, mas foram
atingidos imprevista e de maneira inexplicável.
Exus eram vistos passeando às três da tarde,
virou guerrilha urbana, um inferno.
A comunidade se reuniu em congresso, falado
em línguas africanas. Uns se ressentiram de não mais compreender as línguas
pátrias e ameaçaram se retirar (deixando os exus para trás para atrapalhar, o
que todos recusaram).
Os corredores estavam sempre repletos de
cachaça e galinhas pretas. Alguns mendigos começaram a entrar para pegar as
ofertas pros santos, mas sofriam síncopes súbitas e incompreensíveis.
Árvores vergavam, chovia só sobre uma pessoa,
a coisa ficou preta.
O Exército foi chamado para intervir, mas
ninguém queria entrar, nem batendo na madeira, nem com reza brava.
Por fim a solução foi derrubar o condomínio e
jogar cal em cima.
Serra, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010.
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