Os Genes da Fala
Depois de ter sido
anunciado - em 1985 ou 1986 - o Projeto Genoma Humano, que estava prometendo a
publicação dos dados para 2004 ou mais tarde, antecipou-se e lá por 1999 deu a
público antecipação das informações do desvendamento, de modo muito precoce. Em
vez dos 100 mil genes, baixaram a expectativa para 30 mil e finalmente viram
que eram 27 mil. Carl Sagan, que morreu em 1996, já tinha conhecimento do
andamento e disse (p. 229) em seu livro, Bilhões
e Bilhões (Reflexões sobre Vida e Morte na virada do Milênio), São Paulo,
Cia. das Letras, 1998, entre outros, que partilhamos com os chimpanzés 99,6 %
dos genes.
Depois de raciocinar
intensamente concluí que o instrumento mais poderoso de humanização da
humanidade foi a linguagem, a capacidade de verbalizar e não as mãos ou o andar
ereto ou qualquer outro fator isolado ou conjunto. A Língua é o acumulador por
excelência. Toda a potência que a humanidade é hoje se deve quase
exclusivamente à capacidade da Língua de armazenar, dentro e fora de nós. NÓS
SOMOS UMA CONSTRUÇÃO DA LÍNGUA, inequivocamente.
Assim, aqueles 0,4
%, multiplicados por 10 mil anos e pelo trabalho (segundo fator mais
importante) de bilhões, trouxe-nos onde estamos. Quando mais a linguagem
melhorar rápido e melhor, com maior rendimento por unidade de tempo,
acumularemos. Evidentemente (27 mil x 0,4 %) 108 genes é pouquíssimo e a fala
não pode dizer respeito a apenas 108 genes de diferença, de modo que os
chimpanzés estão PREPARADOS, totalmente preparados para falar. Nem deve ser
questão de conformação das cordas vocais – pequenas alterações deveriam bastar.
Apenas aconteceu que alguns macacos começaram a falar, inicialmente a grunhir,
a capacidade de acumulação ou memória deles já sendo grande e se desenvolvendo
ainda mais nos hominídeos. Se os chimpanzés e os primatas chegaram depois de 90
milhões de anos de permanência a 10 milhões de anos passados, quando começaram
os hominídeos, conduzindo até 100, 50 ou 35 mil anos atrás, quando começamos, tinham
seguramente todas as condições. O cérebro deve ter aumentando apenas como um
armazém descomunalmente maior, onde se poderia armazenar a MEMÓRIA CORRELATIVA
DA FALA, porque falar é memorizar e organizar o que é sabido. Primeiro o
armazém interno da memória, depois o armazém externo da escrita, memória ainda
mais poderosa, que acelerou extraordinariamente tudo.
Os genes da fala não
são esses 108, nem de longe, nem se deve atribuir importância excessiva a eles.
Não são místicos, nem poderiam fazer muito, a Língua é cumulativa DE CONJUNTO.
Assim, os GENES DA FALA já estão incipientemente presentes nos animais e devem
ser procurados neles, mas a Língua, não, esta é exclusivamente humana, porque é
um estágio avançado da construção, somando MEMÓRIA HUMANA (gigantesca, perante
as outras, tanto a primitiva, interna, quanto muito mais a mais avançada, da escrita,
dos desenhos, de tudo) com INTELIGÊNCIA HUMANA (que se foi aprimorando enquanto
DIALÓGICA DO FAZER) para fazer o controle ou verbalização humana, que vem da
conjunção das duas anteriores.
Como tudo no modelo,
há exterior e interior.
DUAS FALAS E QUATRO FALAS
·
A FALA INTERIOR (individual):
1. A mente e o gerador de autoprogramas
(GAP), a mente-que-fala, interna;
2. O aparelho fonador, externo,
instrumentos de fonação, que obedece aos comandos.
·
A FALA EXTERIOR (plural):
1. A MOTIVAÇÃO PARA FALAR (não é passiva,
é a idéia de crescimento, que foi pelas mulheres atribuída aos homens), interna
ao coletivo;
2. O ouvinte, igualmente preparado,
externo ao coletivo – o OUTRO MUNDO.
Tudo está ficando assustadoramente
mais sério a cada dia que passa e mais complexo. Com toda certeza tudo aquilo
do passado deve ser revisto.
Vitória, domingo, 27 de junho de 2004.