sábado, 1 de julho de 2017


Os Genes da Fala

 

                            Depois de ter sido anunciado - em 1985 ou 1986 - o Projeto Genoma Humano, que estava prometendo a publicação dos dados para 2004 ou mais tarde, antecipou-se e lá por 1999 deu a público antecipação das informações do desvendamento, de modo muito precoce. Em vez dos 100 mil genes, baixaram a expectativa para 30 mil e finalmente viram que eram 27 mil. Carl Sagan, que morreu em 1996, já tinha conhecimento do andamento e disse (p. 229) em seu livro, Bilhões e Bilhões (Reflexões sobre Vida e Morte na virada do Milênio), São Paulo, Cia. das Letras, 1998, entre outros, que partilhamos com os chimpanzés 99,6 % dos genes.

                            Depois de raciocinar intensamente concluí que o instrumento mais poderoso de humanização da humanidade foi a linguagem, a capacidade de verbalizar e não as mãos ou o andar ereto ou qualquer outro fator isolado ou conjunto. A Língua é o acumulador por excelência. Toda a potência que a humanidade é hoje se deve quase exclusivamente à capacidade da Língua de armazenar, dentro e fora de nós. NÓS SOMOS UMA CONSTRUÇÃO DA LÍNGUA, inequivocamente.

                            Assim, aqueles 0,4 %, multiplicados por 10 mil anos e pelo trabalho (segundo fator mais importante) de bilhões, trouxe-nos onde estamos. Quando mais a linguagem melhorar rápido e melhor, com maior rendimento por unidade de tempo, acumularemos. Evidentemente (27 mil x 0,4 %) 108 genes é pouquíssimo e a fala não pode dizer respeito a apenas 108 genes de diferença, de modo que os chimpanzés estão PREPARADOS, totalmente preparados para falar. Nem deve ser questão de conformação das cordas vocais – pequenas alterações deveriam bastar. Apenas aconteceu que alguns macacos começaram a falar, inicialmente a grunhir, a capacidade de acumulação ou memória deles já sendo grande e se desenvolvendo ainda mais nos hominídeos. Se os chimpanzés e os primatas chegaram depois de 90 milhões de anos de permanência a 10 milhões de anos passados, quando começaram os hominídeos, conduzindo até 100, 50 ou 35 mil anos atrás, quando começamos, tinham seguramente todas as condições. O cérebro deve ter aumentando apenas como um armazém descomunalmente maior, onde se poderia armazenar a MEMÓRIA CORRELATIVA DA FALA, porque falar é memorizar e organizar o que é sabido. Primeiro o armazém interno da memória, depois o armazém externo da escrita, memória ainda mais poderosa, que acelerou extraordinariamente tudo.

                            Os genes da fala não são esses 108, nem de longe, nem se deve atribuir importância excessiva a eles. Não são místicos, nem poderiam fazer muito, a Língua é cumulativa DE CONJUNTO. Assim, os GENES DA FALA já estão incipientemente presentes nos animais e devem ser procurados neles, mas a Língua, não, esta é exclusivamente humana, porque é um estágio avançado da construção, somando MEMÓRIA HUMANA (gigantesca, perante as outras, tanto a primitiva, interna, quanto muito mais a mais avançada, da escrita, dos desenhos, de tudo) com INTELIGÊNCIA HUMANA (que se foi aprimorando enquanto DIALÓGICA DO FAZER) para fazer o controle ou verbalização humana, que vem da conjunção das duas anteriores.

                            Como tudo no modelo, há exterior e interior.

                            DUAS FALAS E QUATRO FALAS

·        A FALA INTERIOR (individual):

1.       A mente e o gerador de autoprogramas (GAP), a mente-que-fala, interna;

2.      O aparelho fonador, externo, instrumentos de fonação, que obedece aos comandos.

·        A FALA EXTERIOR (plural):

1.       A MOTIVAÇÃO PARA FALAR (não é passiva, é a idéia de crescimento, que foi pelas mulheres atribuída aos homens), interna ao coletivo;

2.      O ouvinte, igualmente preparado, externo ao coletivo – o OUTRO MUNDO.

Tudo está ficando assustadoramente mais sério a cada dia que passa e mais complexo. Com toda certeza tudo aquilo do passado deve ser revisto.

Vitória, domingo, 27 de junho de 2004.

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