Os Gestos dos
Celestiais
Como a mente dos
augustos funcionava muito melhor que a de qualquer humano, devemos pensar que
em tudo colocavam sua inteligência, tanto na expressão por palavras quanto por
gestos ou imagens, compondo com estas últimas tão esmeradamente quanto
compunham com as primeiras; podemos ver restos disso entre os orientais, com
aquelas danças do Laos e do Camboja.
Como os surdomudos
têm um alfabeto de gestos, eles tinham gestos para tudo; podiam elaborar
complexas conversas com esses gestos, numa rapidez inacreditável, o que deve
ser mostrado nos filmes, com muito apuro, todos que conheçam o conjunto podendo
decifrar as conversas. E eles, quando não queriam que outros atlantes
participassem, para não ferir seus ouvidos com sons desnecessários na fase em
que estavam todos de bem e depois para que não soubessem mesmo, usavam a
linguagem gestual, como se faz com a gíria hoje, quando não se deseja que os
penetras saibam das coisas de foro íntimo.
Isso era usado nas
suas apresentações teatrais e os servos sapiens - mais que os humanos, que algo
percebiam - nada entendiam, ficavam boiando mesmo. Achavam incompreensível,
como era mesmo; mal podiam perceber a língua principal, destinada aos servos,
tendo grande dificuldade de compreender a língua fechada dos senhores. Achavam
maravilhosa a língua gestual, mas inacessível. As mãos e as nádegas oscilando, a
barriga avançando e recuando, a cabeça, os cotovelos, os joelhos, tudo
simbolizava (seria preciso calcular quantos símbolos podem ser construídos com
essas opções e calcular uma língua-imagem para usar no filme, com lingüistas
como apoio). E como eles tinham todas aquelas centenas de anos para estudar
variações a linguagem gestual pôde avançar até se tornar um primor, tanto mais
incompreensível quanto mais eram produzidas nuanças. Com tanto tempo para
trabalhar, ela se tornou intrincada e sutilíssima, difícil até mesmo para eles;
com tanta complexidade assim acabou por perder-se e não foi herdada pelo
futuro, exceto como assombrado modo arremedado.
Será muito lindo uma
verdadeira língua-imagem gestual (LIG), quando reconstruída, ser
progressivamente re-usada nas séries.
Vitória,
sexta-feira, 02 de julho de 2004.
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