sábado, 1 de julho de 2017


Os Gestos dos Celestiais

 

                            Como a mente dos augustos funcionava muito melhor que a de qualquer humano, devemos pensar que em tudo colocavam sua inteligência, tanto na expressão por palavras quanto por gestos ou imagens, compondo com estas últimas tão esmeradamente quanto compunham com as primeiras; podemos ver restos disso entre os orientais, com aquelas danças do Laos e do Camboja.

                            Como os surdomudos têm um alfabeto de gestos, eles tinham gestos para tudo; podiam elaborar complexas conversas com esses gestos, numa rapidez inacreditável, o que deve ser mostrado nos filmes, com muito apuro, todos que conheçam o conjunto podendo decifrar as conversas. E eles, quando não queriam que outros atlantes participassem, para não ferir seus ouvidos com sons desnecessários na fase em que estavam todos de bem e depois para que não soubessem mesmo, usavam a linguagem gestual, como se faz com a gíria hoje, quando não se deseja que os penetras saibam das coisas de foro íntimo.

                            Isso era usado nas suas apresentações teatrais e os servos sapiens - mais que os humanos, que algo percebiam - nada entendiam, ficavam boiando mesmo. Achavam incompreensível, como era mesmo; mal podiam perceber a língua principal, destinada aos servos, tendo grande dificuldade de compreender a língua fechada dos senhores. Achavam maravilhosa a língua gestual, mas inacessível. As mãos e as nádegas oscilando, a barriga avançando e recuando, a cabeça, os cotovelos, os joelhos, tudo simbolizava (seria preciso calcular quantos símbolos podem ser construídos com essas opções e calcular uma língua-imagem para usar no filme, com lingüistas como apoio). E como eles tinham todas aquelas centenas de anos para estudar variações a linguagem gestual pôde avançar até se tornar um primor, tanto mais incompreensível quanto mais eram produzidas nuanças. Com tanto tempo para trabalhar, ela se tornou intrincada e sutilíssima, difícil até mesmo para eles; com tanta complexidade assim acabou por perder-se e não foi herdada pelo futuro, exceto como assombrado modo arremedado.

                            Será muito lindo uma verdadeira língua-imagem gestual (LIG), quando reconstruída, ser progressivamente re-usada nas séries.

                            Vitória, sexta-feira, 02 de julho de 2004.

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